Cidades

"Até o cuscuz com ovo ficou mais caro", reclama consumidor devido a alta nos preços

Alta no custo dos alimentos tem comprometido qualidade de vida e impondo rotina de economizar cada vez mais

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 12/06/2021 15h04
'Até o cuscuz com ovo ficou mais caro', reclama consumidor devido a alta nos preços
Reprodução - Foto: Assessoria
A alta nos preços dos alimentos em todo o país já representa quase o triplo da inflação. Desde o início da pandemia, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço dos alimentos aumentou 15%, no acumulado. Longe das estatísticas, no dia a dia quem sofre é o consumidor que amarga a elevação dos preços até nos alimentos indispensáveis. “É difícil e muito triste, pois cada dia as coisas sobem de preço e a melhor forma de lidar com esse aumento é cortar gastos e economizar comprando os alimentos mais necessários”, afirma o auxiliar administrativo Joel da Silva Filho. Os cortes na casa de Joel têm sido profundos. Ele conta que costuma fazer compras em grande quantidade justamente visando economia no atacado, mas que desde o ano passado vem sentindo os efeitos da alta dos preços. “Antes da pandemia gastávamos uns R$ 150 na feira de verduras, raízes e frutas semanais e agora reduzimos para R$ 100. Os preços subiram muito é o pior de tudo. Nós fazíamos feira para três meses. A média de gasto antes da pandemia era de R$ 1.200, isso entre março e abril do ano passado. Já nos últimos três meses de 2020 nossas compras subiram pra R$ 1.500. Nesta última compra subiu pra R$ 1.800 desde janeiro de 2021. E até a última compra que realizamos no último dia 1° de junho deste ano, o maior vilão está sendo as carnes”, aponta. Desde a “feira de rua” até a compra dos chamados supérfluos, vale tudo na hora de tentar economizar. Segundo ele “até o cuscuz com ovo ficou mais caro”. “Estamos cortando produtos como refrigerantes, petiscos, iogurtes e principalmente industrializados, pois minha esposa e meus filhos optam muito por esse tipo de alimento. Outro ponto de decisão para nossos cortes foi deixarmos de comprar massas prontas e outros derivados que podemos fazer em casa como maionese, molho de tomate, requeijão, etc. Passamos a fazer os caseiros. Também estamos optando pela compra em grosso no caso do mercado. A carne de boi está batendo recorde de preço alto. Até o ovo que todos os dias o carro passa na porta subiu de R$ 10 para R$ 15 a bandeja”, reclama o consumidor. Com a dona de casa Telma Oliveira as reclamações são semelhantes, ela administra a compra de mantimentos para a família que inclui nove pessoas. Segundo ela, as compras mensais viraram um “malabarismo”. “A gente tenta comprar tudo o que vai precisar durante o mês, aí vou escolhendo uma marca mais barata, o que dá para diminuir a quantidade, gastar menos. E quanto não dá, sai deixando no carrinho mesmo, o que não pode é sair do orçamento porque quem depende de salário fixo, aposentadoria precisa manter o mesmo valor todos os meses, não pode extrapolar”, afirma. Economista: perda do poder de compra intensifica as desigualdades Na avaliação do economista Lucas de Barros, a perda do poder de compra influencia diretamente na qualidade de vida das famílias. Ele explica que apesar das tentativas de economizar na hora das compras do supermercado, por exemplo, alguns itens são indispensáveis e vão ser consumidos mesmo com o preço mais alto. É o caso da energia elétrica, gás de cozinha, combustível. “O aumento da inflação prejudica o orçamento familiar pois os preços dos bens de consumo são atualizados com uma frequência bem mais rápida que os salários, que é o preço da mão de obra do trabalhador. As famílias passam a sentir isso quando vão fazer compras e voltam para casa a cada mês com o carrinho mais vazio. Porém, não é apenas o aumento dos alimentos que fazem isso, o orçamento familiar é limitado pela renda da família e alguns itens ela por muitas vezes não consegue fazer grandes economias e precisa continuar pagando como é o caso do transporte, do gás de cozinha, da energia elétrica, da água, do aluguel e da alimentação. Quando esses itens aumentam de preço e o salário não muda, a qualidade de vida diminuiu. E já vivemos em um país extremamente desigual, a inflação aprofunda essa desigualdade”, detalha. Segundo o especialista é preciso que o poder público reaja às necessidades da população tendo em vista que itens como energia e combustíveis, que influenciam diretamente no custo dos demais produtos, podem ser monitorados. “Caso o poder público tenha o entendimento de que esses itens são essenciais para o desenvolvimento do país e que as famílias não podem ser penalizadas com os efeitos inflacionários, o governo poderá fazer o controle de preço desses produtos. No caso da gasolina, administrando o preço do petróleo através da principal empresa do ramo que é estatal a Petrobras, não deixando a popular à mercê do comércio internacional e variações no câmbio. No caso da tarifa de energia, através de suas agências reguladoras poderá controlar as altas no preço da tarifa. Ambas as medidas são de curto prazo, mas o poder público deverá tomar ações de longo prazo, que altere a estrutura produtiva do país. Como não se trata de uma inflação típica de demanda, o aumento da taxa de juros da Selic surte pouco efeito na contenção do aumento dos preços”, afirma.