Cidades

Covid-19 avança entre mais jovens e situação preocupa

Fatores como vacinação dos idosos, novas variantes e continuidade no descontrole da doença levam para mudança de perfil

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 29/05/2021 09h01
Covid-19 avança entre mais jovens e situação preocupa
Reprodução - Foto: Assessoria
A Covid-19 tem avançado cada vez mais entre os jovens. Alguns fatores podem explicar esse fenômeno: a eficácia da vacinação entre os mais velhos, já imunizados com duas doses e continuidade no descontrole da doença. A quantidade de casos graves exigindo internação tem chamado a atenção dos especialistas, embora faltem dados que corroborem para a realidade dentro dos hospitais. É o chamado “rejuvenescimento” da pandemia que tem atingido em cheio as faixas etárias mais jovens. Um estudo publicado em março pela Fundação Oswaldo Cruz já apontava para esse cenário. De acordo com a pesquisa, houve aumento de mais de 500% nos casos nas faixas etárias a partir dos 30 e até 59 anos. Já este mês, outro estudo da Fiocruz, considerando os boletins epidemiológicos mostraram um avanço no número de casos e mortes entre públicos a partir dos 20 anos. “O aumento global de casos, para todas as idades, foi de 483,1% entre os dias 1º de janeiro e 1º de maio. Algumas faixas etárias apresentaram aumento ainda maior: 20 a 29 anos (622,7%); 30 a 39 anos (892,1%); 40 a 49 anos (955,9%); 50 a 59 anos (875,4%); 60 a 69 anos (585,9%). Para os óbitos, o aumento global foi de 259,1%. As mesmas faixas etárias sofreram aumento diferenciado: 20 a 29 anos (654,5%); 30 a 39 anos (562,8%); 40 a 49 anos (692,9%); 50 a 59 anos (568,4%); 60 a 69 anos (379,9%)”, destacou a Fiocruz. O infectologista Fernando Maia ressalta que o comportamento da doença entre os jovens tem sido mais agressivo e pressionando além das internações, a taxa de mortalidade. Além disso, os casos de jovens internados têm exigido mais tempo de internação. “A maioria dos idosos está vacinada, isso deixa esse grupo mais protegido, o esperado é exatamente isso que os casos entre idosos diminua. Outro fator importante é o relaxamento das medidas de controle pelos jovens. Na verdade, o pessoal cansou, está cansado de usar máscara, de distanciamento e acaba relaxando”, diz. Mas segundo Fernando Maia, outro aspecto importante é a presença de variantes que mudam o comportamento da doença. “Outro aspecto é em relação a novas variantes, principalmente a de Manaus, a indiana também já mostrou que é do mesmo jeito, a britânica também, são variantes que tem a maior capacidade de agressividade. Isso faz com que mais pessoas jovens piorem, necessitem de internação. Elas [variantes] são mais transmissíveis e agravam quadros de forma mais severa, além de atingir um maior número de pessoas”, descreve. Apesar de não haver estudos sobre o assunto no estado, a avaliação do especialista é de que a taxa de mortes entre os mais jovens também vem aumentando. “São bastante pacientes jovens internados, a taxa de mortalidade aumentou também porque a medida que se aumentam os casos, aumenta o número de óbitos. São casos comuns de agravamento, mas o que chama a atenção é o agravamento”. A preocupação vem se intensificando também entre o poder público que vem observando esse cenário com atenção. Esta semana, num período de 24h sete adultos precisaram ser internados, com idades abaixo de 60 anos, em um dos casos, um adolescente de 17 anos. “O que mais tem chamado a atenção nesse ano de 2021 é que cada vez mais os jovens vêm se internando com casos graves. A gente não viu isso esse cenário durante o enfrentamento do ano de 2020. Isso tem chamado a atenção de todos os técnicos da Sesau. A quantidade de jovens, sem comorbidades que além de estarem se infectando, estão precisando de UTI e cuidados intensivos”, revelou o secretário de estado da Saúde Alexandre Ayres. Doença vai alcançando mais “níveis” da população De acordo com o coordenador do Observatório da Covid-19 em Alagoas, Gabriel Badue quanto mais a doença avança, ela vai alcançando mais “níveis” da população. “Tem acontecido coisas novas, o efeito da vacinação tem provocado mudanças na contaminação, embora faltem dados é algo factível, os mais jovens vêm se expondo mais e estão ficando mais doentes, agravando mais. Há uma mudança de perfil. Não é que o vírus está mudando ou atacando mais os jovens, mas é que por estarem mais expostos e com o efeito da vacinação isso vem ocorrendo”. Gabriel explica que só a vacinação não é suficiente para conter o avanço da doença. “Vacinação não é anticoncepcional que você toma e evita. O vírus continua em circulação, infectando pessoas, a vacinação vai impedir que esses casos evoluam de forma grave evitando internações, mas isso numa escala de longo prazo. Vacina só impede o caos hospitalar. É preciso que as medidas de prevenção sejam adotadas de forma rigorosa para isolar o vírus, impedir a transmissibilidade”, reforça. Para Fernando Maia é necessário seguir os protocolos, mesmo após mais de um ano de pandemia, não pode haver descuido da população. “É preciso arrumar mais um pouco mais de força e de coragem para manter o distanciamento, manter as medidas de higiene, lavar as mãos e corres atrás da vacinação, embora só a vacina não resolva o problema da circulação do vírus”, avalia.