Cidades

"Queremos acesso liberado ao cemitério e não queremos realocação''

Durante protesto, população cobrou soluções da Braskem e respostas da prefeitura de Maceió sobre planos de ações para o Cemitério de Santo Antônio

Por Lucas França com Tribuna Hoje 28/05/2021 18h18
'Queremos acesso liberado ao cemitério e não queremos realocação''
Reprodução - Foto: Assessoria
Moradores do bairro de Bebedouro realizaram na tarde desta sexta-feira (28) um novo ato-protesto contra a Braskem. Desta vez, a população reivindica o acesso ao Cemitério Santo Antônio que foi lacrado na última semana impedindo a entrada de visitantes e a não realocação para outro espaço. Além disso, parentes e amigos de mortos sepultados no local querem um novo cemitério para os futuros enterros, mas não aceitam a realocação do Santo Antônio para outro local. "Não queremos mais passar por essa situação. É inadmissível que queiram exumar os corpos enterrados aqui. As famílias não precisam passar por essa dor novamente, os mortos precisam descansar em paz. Um novo cemitério deve ser feito - não abrir novas covas, mas deixar o cemitério aqui apenas para visitação", diz o professor José Balbino. Balbino relembra que o Cemitério Santo Antônio, em Bebedouro, foi construído em 1870 e era administrado pela Arquidiocese, só anos depois passou a ser de responsabilidade da Prefeitura. "Ele é um campo público e não pode ser fechado. Mesmo não sendo reativado, queremos ter acesso ao local. Temos familiares e amigos enterrados e não poder vir fazer uma oração, trazer flores é um absurdo. A Braskem, a Prefeitura ou qualquer outro órgão não pode nos impedir e tomar conta. Temos nossos direitos e queremos ser respeitados. Também pedimos respeito aos mortos", acrescenta. O professor disse que foi angustiante quando um tio e uma tia dele morreram e a família não pôde realizar o último desejo deles. “Temos um jazigo no local e meus tios não puderam ser enterrados juntos com os pais. Fora casos que estamos acompanhando de moradores do bairro que morreram e precisaram ser enterrados em outros cemitérios – sem falar na dificuldade de vagas de covas. É um dilema, e olha que pagamos impostos", finaliza. A representante do SOS Bebedouro, Neirivane Nunes, ressaltou que os moradores não estão debatendo política e sim em busca de direitos e soluções. "A Braskem não vem cumprindo com suas obrigações de maneira eficaz. Exigimos respeito e viemos aqui cobrar providências. Mês passado tivemos uma reunião com representantes do GGI, Defesa Civil e a Braskem. Na ocasião falaram que em 15 dias iriam montar um plano de ações em relação ao cemitério, o prazo expirou e até agora nada foi feito, apenas a limpeza e manutenção do espaço que em seguida foi trancado com cadeado e com guardas particulares. Estamos cansados de esperar soluções. É uma falta de respeito com os vivos e com os mortos." [caption id="attachment_451466" align="aligncenter" width="600"] Representante do SOS Bebedouro, Neirivane Nunes pede respeito e ações concretas para as demandas da população (Foto: Edilson Omena)[/caption] Durante o ato, um morador disse que ele mesmo com as próprias mãos iria quebrar os cadeados e liberar o acesso para a população. "Eu farei isso. Não tenho medo de Braskem, de prefeitura e nem de político nenhum. O espaço é público e tenho o direito de visitar os entes enterrados nele", disse o morador da Chã de Bebedouro, identificado apenas como Serjão. A manifestação teve concentração e espaço aberto para as falas dos moradores na Praça Lucena Maranhão e depois os manifestantes seguiram para o cemitério, onde Serjão cumpriu com sua fala quebrando o cadeado do portão principal. Vistas serão feitas a partir de agendamento A Defesa Civil de Maceió informa que o Cemitério Santo Antônio foi interditado após a publicação da portaria 003 no Diário Oficial de Maceió no dia 19 de outubro de 2020. Ele será reaberto para visitação. No final do mês de abril, o GGI dos Bairros cobrou da Braskem a limpeza e conservação do cemitério, que estava tomado por mato e com muitas covas violadas. O GGI dos Bairros está buscando reverter a interdição completa do cemitério e autorizou, a partir desta sexta-feira (28), que as visitas a pessoas enterradas no Cemitério Santo Antônio sejam realizadas através de agendamento prévio. Na próxima semana a Prefeitura de Maceió deverá divulgar as informações sobre como esses agendamentos serão realizados. Já em relação à realocação, a Defesa Civil disse que ainda não há definição concreta. Chrystiano Lyra, coordenador geral dos Serviços Funerários de Maceió, que esteve presente na manifestação, ressalta que a prefeitura está do lado dos moradores e tem ciência que os problemas causados pela mineração de sal-gema prejudicaram a população e que vem sendo cobrada a atenção devida à mineradora. "Sobre a realocação do cemitério para outro espaço, o pensamento é real – é uma ideia da própria Braskem. O que estamos buscando é acelerar esse processo para que a Braskem faça o novo cemitério e assuma essa responsabilidade e a realocação dos restos mortais. Estamos ao lado da população. E queremos também que estas pessoas que têm um terreno no Santo Antônio tenham um novo terreno no que irá ser construído e a Braskem deve fazer uma indenização de reparação moral a essas pessoas. São histórias que estão deixando de existir na comunidade e ainda sem destino certo. Nós estamos analisando áreas para mostrar a Braskem. A interdição deste cemitério também tem causado transtornos para a gente. Quando morre alguém do bairro, a gente tem que encontrar vagas em outros, a demanda aumentou. A gestão de serviços funerários tem os dados e informações de quem foi enterrado  aqui, está tudo registrado. E como falei anteriormente, nós como representantes da prefeitura estamos do lado da população e de portas abertas para receber todos e tirar dúvidas", expôs Lyra. [caption id="attachment_451468" align="aligncenter" width="600"]Chrystiano Lyra, coordenador geral dos Serviços Funerários de Maceió (Foto: Edilson Omena)[/caption] Procurada pela reportagem, a Braskem ressalta que o Cemitério Santo Antônio é administrado pela Prefeitura de Maceió, a quem cabe a decisão sobre as visitações. E disse que a pedido da Superintendência Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Sudes), a empresa faz a segurança patrimonial do cemitério, para inibir atos de vandalismo, e já realizou serviço de limpeza no local.