Cidades

Propostas continuam longe do esperado

Moradores do Pinheiro relatam indignação com Braskem ao receber oferta de R$ 85 mil em imóveis avaliados em mais de R$ 200 mil

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 15/05/2021 11h22
Propostas continuam longe do esperado
Reprodução - Foto: Assessoria

As reclamações envolvendo os valores das propostas de indenizações apresentadas pela Braskem não param de surgir. Moradores ouvidos pela reportagem relatam o drama envolvendo a dificuldade de “fechar a conta” na hora de conseguir um novo imóvel e a indignação de não receber uma proposta que garanta o mesmo padrão de vida que tinham em seus lares.

Maria Concília Melo da Silva morava há 40 anos no bairro do Pinheiro. Além dela, o pai e a sogra também possuíam casas no bairro. Ela conta que recebeu a proposta de R$ 85 mil num imóvel de primeiro andar que foi avaliado em R$ 230 mil. A decepção com os valores só não é maior do que a de deixar o imóvel. “O sentimento é de indignação e tristeza. Indignação pela proposta indecorosa. E tristeza, porque não vendemos nossa casa e nos arrependemos. Ela nos foi tirada. Nós fizemos avaliação com um avaliador credenciado ao Crea que estimou as casas num valor superior ao da oferta feita pela Braskem.”

Concília explica que as propostas apresentadas pela Braskem não apresentam um padrão. Ela usa como exemplo as casas das encostas onde o valor pago foi de R$ 61.500 e mais R$ 20.000 de danos morais somando R$ 81.500.

“Já a casa dos meus pais ofereceram 85.000 sem danos morais. Numa rua asfaltada, pagando impostos como IPTU, pagando água, energia. Onde os moradores da encosta não pagavam nada. Há casas na rua com as mesmas medidas da casa dos meus pais e foi ofertado um valor muito superior aos dos meus pais. O meu esposo [Maxwell] tem duas casas na Rua Santa Julia onde casas com 73 m² teve oferta de R$ 93.000 e outra com 66 m², oferta de R$ 90.000. Qual o parâmetros para esses valores? Já no caso da da minha sogra, a casa dela na Rua São Francisco medindo 90 m² ofertaram R$ 90.000 toda na laje. Queremos explicações convincentes sobre esses valores. Meus pais moraram por 40 anos nessa mesma casa. Tiveram 3 filhos criados nela, toda a infância nela. Meu pai construiu tudo usando suas próprias mãos desde o alicerce, virou noites para construí-la”, lamenta.

Evandro Pedrosa afirma que a proposta que ele recebeu não contempla a compra de um imóvel nos mesmos padrões do seu. Ele diz ainda que aguarda uma nova proposta, mas que não descarta procurar a Justiça para obter um valor que considerado justo.

“Realmente a Braskem ofereceu uma proposta inviável, muito abaixo do mercado. Não dá para comprar outro imóvel com a qualidade do que eu tinha no Pinheiro, não é fácil. Não está sendo fácil passar 17 anos num bairro, comprar uma casa com tanto sacrifício. Eu e minha família construímos um sonho de vida, deixamos tudo para trás e nós esperávamos o mínimo de respeito por parte da Braskem. Que a indenização seja justa, que possa servir para comprarmos um imóvel”, relata.

Evandro e a família se mudaram do bairro e até hoje estão na dependência do valor do aluguel custeado pela Braskem, mas teve dificuldades para se readaptar em relação a escola e rotina de trabalho.

“Estou colocando todo mês cem reais do bolso para completar o aluguel de um apartamento, não consegui casa num valor acessível. Tive dificuldade em colocar meu filho numa escola, o trabalho da minha esposa. É uma luta contra uma gigante. Não é fácil. Rejeitei a primeira proposta e só quero o que é justo. Quero minha qualidade de vida”, enfatiza.

Braskem vai ter que explicar quais critérios usa para calcular indenizações

Os critérios de valoração dos imóveis foram questionados essa semana pelo Ministério Público Federal (MPF). O órgão cobrou detalhes e a Braskem agora terá que informar em documentos anexados aos processos dos moradores as justificativas para os valores apresentados nas propostas.

“A empresa já concordou em adotar a apresentação – por escrito – dos dados que justificam os valores ofertados na proposta de indenização, com meios que mostrem transparência na valoração realizada pela Braskem. Em cinco dias, a empresa informará a partir de quando o documento será confeccionado e incluído na rotina do Programa de Compensação Financeira (PCF), o que deverá ocorrer em menos de 30 dias”, disse o MPF.

Em nota a Braskem afirma que utiliza como parâmetros imóveis do mesmo padrão e da mesma região para compor os valores e que tem sido sensível a queixa dos moradores.

“A Braskem continuará fazendo avaliação comparativa dos imóveis, analisando os pleitos trazidos pelos moradores e, assim, aprimorando o Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF). Os moradores podem sempre solicitar reavaliação da proposta de compensação. Vale destacar que todos os novos documentos apresentados após a proposta precisam ser avaliados com cuidado e dedicação, portanto, quanto antes essas informações forem trazidas, mais rápida será a apresentação da proposta. Para o cálculo da compensação financeira, a Braskem utiliza como referência o valor de imóveis semelhantes, por exemplo, imóveis com as mesmas dimensões e que estejam situados em bairros que possuem as mesmas características. São também consideradas as benfeitorias, que são relevantes para determinação do padrão construtivo do imóvel e que são somadas ao valor do imóvel. Além disso a Braskem não considera depreciação dos imóveis. A taxa de recusa das propostas é inferior a 1%. A Braskem esclarece aos moradores os motivos que embasam o valor proposto e, quando o morador pede uma reanálise, a empresa explica quais elementos foram ou não considerados numa eventual reavaliação do valor. É importante que os laudos trazidos pelos moradores também sigam os critérios técnicos”, explicou em nota.