Cidades

Número de assassinatos de LGBTQIA+ crescem 38% em Alagoas

Dia Internacional Contra a Homofobia terá marcha para marcar data com eventos online

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 15/05/2021 10h54
Número de assassinatos de LGBTQIA+ crescem 38% em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria

Nesta segunda-feira, 17, é o Dia Internacional Contra a Homofobia, data em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade do Código Internacional de Doenças (CID), em 1990, e marca o início da militância. Em Alagoas, o número de assassinatos cresceu 38% no ano passado, se comparado com 2019, e acendeu o alerta de grupos que representam esta população, ainda tão discriminada em pleno século 21.

Dados do Grupo Gay de Maceió (GGM) indicam que em 2020 foram 18 mortes deste público contra 13 no ano de 2019. Messias Mendonça, presidente da entidade na capital alagoana, informou que para marcar a data, será realizada a 10ª Marcha LGBTQIA+, com o tema: “Imuniza Alagoas! Juntos, somos mais fortes”.

Segundo ele, as ações têm como referência a comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, queer, Intersex, Assexuados, Agêneros, entre outras possibilidades de expressões de gênero e da sexualidade humana definida como LGBTQIA+.

[caption id="attachment_448463" align="aligncenter" width="642"] Messias Mendonça, presidente do GGM Maceió, (Foto: Arquivo Pessoal)[/caption]

De acordo com o GGM, a atividade principal da Marcha LGBTQIA+ terá seu formato em plataforma online atendendo as regras de distanciamento e isolamento social para combater o contágio pela Covid-19.

TRANSMISSÃO

A 10ª Marcha LGBTQIA+ será transmitida ao vivo direto do Teatro Arte Pajuçara, na Pajuçara, em Maceió. Nos dias 17, 23 e 29 próximos, a partir das 16h, pela página do facebook da Aliança Nacional LGBTI e pela plataforma Youtube do Grupo Gay de Maceió GGM.

A 10ª Marcha também pretende arrecadar alimentos não perecíveis e materiais de higiene para cumprir seu papel social para atender as pessoas mais vulneráveis. Contas para doações: Banco do Brasil, Agência 1600-4, C/C nº 84.502-7 e Bradesco, Agência: 02145, C/C nº 0000000047687-0.

“Contamos com a participação da população de Maceió e de muitas cidades dos municípios de Alagoas, que vêm somando e ampliando participação na construção das políticas públicas para a comunidade LGBTQIA”, convidou Messias Mendonça.

“Olhar mais sensível para a causa LGBT”

Messias Mendonça, presidente do Grupo Gay de Maceió (GGM), salientou que é preciso ter um olhar mais sensível para a causa já que existem leis municipais e estaduais a serem mais propagadas para a sociedade com uma divulgação em massa, com cartazes espalhados em pontos de grande acesso, bem como em secretarias.

“Vivemos num estado que ainda é totalmente homofóbico e machista, vivemos sobressaltados, retrocedendo e avaliando a postura do atual presidente da república, Jair Bolsonaro, tendo em vista o número de mortos do país e de soropositivos, escancarando que não está nem ai para as pessoas”, frisou.

133 vidas

O presidente do GGM lamentou os 133 óbitos de soropositivos para a Covid em Alagoas, porque segundo ele, é uma realidade que ainda não avançou no estado. Ele alertou à importância do Grupo Gay de Maceió no Conselho Estadual de Saúde do qual têm assento no mesmo, porém vem sendo penalizado.

“O GGM deveria está acompanhando as ações enquanto representante com um assento neste Conselho, mas o que se vê são negociações entre secretarias e o tratamento que é dado às pessoas deste público”, criticou Messias Mendonça. “Como representante no Conselho Estadual de Saúde também lutamos para as melhorias do acesso à vacina, e acima de tudo, saúde para essa comunidade LGBT ainda tão sofrida e desprezada pelo governo”, emendou o presidente do Grupo. De acordo com Mendonça, é preciso vacinar com urgência os soropositivos porque há muitos que não querem procurar tratamento e outros que nem sabem que são portadoras da Aids, causada pelo vírus HIV.

“A pandemia deixou esse público ainda mais à mercê de outros tipos de doenças e que acabam vindo a falecer, então é bastante preocupante, o secretário Municipal de Saúde, Pedro Madeiro, deixou o cargo, porque entregou? Ele que estava tão à frente, porque não quis ser manipulado pela gestão e queria fazer seu papel como médico, esse foi um dos primeiros a sair da gestão”, desabafou Messias.

ACOLHIMENTO

Messias Mendonça destacou que existe um acolhimento para as vítimas de homofobia que acontece da seguinte forma: “Quando a pessoa nos liga, fazemos o acompanhamento e encaminhamos, como aconteceu no último caso que tivemos em Porto Calvo, de uma adolescente que foi atacada por sua orientação sexual, demos todo o suporte e a encaminhamos para a Secretaria da Mulher e Direitos Humanos que foi amparada pela Lei Maria da Penha, além de ter sido aberto alguns procedimentos”, explicou.

Maior ameaça é a indiferença de gestores públicos

Conforme Messias Mendonça, os insultos e palavras de baixo calão são constantes para este tipo de público, relevando que também partem até dos próprios gestores. Para ele é muito complicado quando estes não entendem a posição da opção sexual. “Já tivemos muitos recursos cortados, de atenção básica mesmo, fazem vista escura, é essa é a maior ameaça que passamos, onde que temos o vice-prefeito Ronaldo Lessa que deveria ser acessível à causa e infelizmente ele não faz nada para a população LGBT, isso ele sendo uma pessoa LGBT que deveria lutar, mas luta pelos próprios interesses, essa é a realidade”, pontuou.

Para Messias, se o gestor não pensar nas pessoas e parar de fazer gestão, para si próprio, o público LGBT não irá avançar dentro do estado. O presidente do GGM ressaltou ainda que os gestores devem colocar as secretarias à disposição da sociedade, e que lamentavelmente se o jogo não virar o quantitativo de mortes, desrespeito e preconceito contra a população LGBT só tende a aumentar cada vez mais.

A secretária da Mulher e dos Direitos Humanos de Alagoas (Semudh), Maria Silva, se disse triste por ainda hoje a sociedade precisar de campanhas de conscientização sobre atividades morais básicas, como o respeito ao próximo. “É inadmissível que uma pessoa sofra discriminação por causa de qualquer característica sua, ainda mais por sexualidade ou expressão de gênero. Mas, infelizmente, ainda precisamos de muitas datas como o 17 de maio. Ainda precisamos de muita educação, quebra de tabus e orgulho em celebrar a diversidade”, salientou.

Para ela, o Dia Nacional de Combate à LGBTfobia foi escolhido em homenagem a data em que a Organização Mundial da Saúde aboliu a homossexualidade da sua lista de doenças, onde era classificada como distúrbio mental. Mas, isso não aconteceu à toa, foi fruto da luta do movimento LGBTQIA+, um marco mundial para a quebra de preconceitos.

“Estado escolheu estar ao lado da comunidade”

Maria Silva enfatizou que em Alagoas, tem se escolhido estar ao lado da comunidade LGBTQIA+ em diversas trincheiras. De acordo com a secretária, é um orgulho ter na equipe pessoas que contemplem a diversidade existente na sociedade.

[caption id="attachment_448466" align="aligncenter" width="1196"] Secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos - Maria Silva (Foto Ascom)[/caption]

“Na Semudh, tivemos a primeira servidora estadual que é uma mulher transexual, hoje à frente da assessoria técnica de políticas públicas para a população LGBTQIA+. Acredito plenamente na importância de haver representação diversa em todos os âmbitos da sociedade, bem como a igualdade em oportunidades para toda a população. É isso que precisamos para caminhar rumo a uma sociedade mais justa para todas as pessoas”, completou.

224 mortes

Há 41 anos, o Grupo Gay da Bahia (GGB) coleta informações e divulga o Relatório Anual de Mortes Violentas de LGBT no Brasil. É a única pesquisa nacional que inclui todos os segmentos dessa comunidade.

O observatório indica que em 2020 no país, aproximadamente 237 LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) tiveram morte violenta no Brasil, vítimas da homotransfobia: 224 homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%).

O relatório aponta ainda que a cada 36 horas um LGBT brasileiro é vítima de homicídio ou suicídio, o que confirma o Brasil como campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais, informação corroborada e ainda mais agravada pelos estudos do próprio Ministério dos Direitos Humanos: em relatório engavetado pelo atual Governo Federal, concluiu-se que no país, entre 1963-2018, a cada 16 horas um LGBT foi assassinado.