Cidades

Fake news são as mentiras da era digital

Diferente das brincadeiras do Dia da Mentira, a disseminação de informações falsas pode gerar infrações penais

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 01/04/2021 08h28
Fake news são as mentiras da era digital
Reprodução - Foto: Assessoria
Esta quinta-feira é 1° de abril, popularmente conhecido como o Dia da Mentira. Nesta data é muito comum as pessoas se reunirem para pregar uma peça em amigos e familiares. Com a ascensão das mídias sociais as mentiras ganharam ainda mais potência com a era digital, as fake news contadas instantaneamente pela web para milhões de pessoas, todos os dias. O problema é que elas não são inofensivas como as brincadeiras do Dia da Mentira. Mas se engana quem pensa que disseminar informações falsas não pode gerar infrações penais. Marcelo Medeiros, advogado criminalista, explica que, embora ainda não exista uma lei vigente no país para disciplinar o uso e disseminação das fake news, somente projetos de lei, é crime propagar informações indevidas. Um exemplo é imputar a alguém um fato definido como crime: dizer que a vizinha está roubando a mãe dela que é idosa (calúnia); divulgar informação ofensiva para a reputação de alguém (difamação); ou caracterizar um crime de injúria. “Estes três são dispositivos legais que podem tipificar a propagação de uma informação falsa sobre alguém. Existe também a possibilidade de responder criminalmente por propagar uma informação que atente contra a segurança nacional. Ou seja, fazer um vídeo como aconteceu com o deputado Daniel Silveira, que foi preso pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”, detalha Marcelo Medeiros. PATOLÓGICO Há casos em que a mentira pode ser considerada patológica. A psicóloga Karolline Helcias salienta que, para identificar se o indivíduo possui algum tipo de transtorno em mentir, é necessário fazer uma avaliação do paciente ou da pessoa que está com um sofrimento psíquico, que esse processo envolve entrevistas, observações, testes, inventários, e a partir do método que o profissional use, pode identificar se há ou não algum tipo de mentira patológica. “Mas é preciso escutar o paciente, avaliar o histórico clínico dele, a rotina, enfim coletar informações do dia a dia, tratar as informações com instrumentos e encaixar se o sujeito apresenta a mentira patológica”, avaliou. Segundo a psicóloga, a mentira patológica pode estar em alguns transtornos de personalidade. Isto é, que no repertório do paciente traga sempre um discurso fantasioso, sendo o caminho para tratamento pela via de psicoterapia e, se for o caso, algum psiquiatra com acompanhamento medicamentoso. “Esconder algumas mentiras faz parte do nosso cotidiano, mas quando isso é intenso e sem controle, se torna de fato algo patológico. Nós conseguimos identificar se é patológico ou não de acordo com as informações, o tom de fala e de voz, pelos aspectos do olhar e sinais da comunicação não-verbal, bem como pelo discurso de algumas coisas que escapam com contradições. A gente vai conseguindo na medida que vai ‘costurando’, pegar essas pequenas falas e saber se é real ou criado”, enfatiza Karolline Helcias. Notícias falsas se espalham 70% mais rapidamente   Uma pesquisa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, concluiu que, que as notícias falsas se espalham 70% mais rapidamente do que as verdadeiras: enquanto cada postagem verdadeira atinge, em média, mil pessoas, as falsas ganham popularidade rapidamente, podendo chegar a 100 mil pessoas de forma veloz pela internet. Atualmente, três em cada quatro brasileiros têm acesso à internet, de acordo com o Centro Regional para o Desenvolvimento de Estudos sobre a Sociedade da Informação, um departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) ligado ao Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br). Isso significa que 75% da população está exposta a notícias falsas e aos danos que elas podem causar. Para o diretor da Federal Nacional de Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, toda mentira pressupõe intencionalidade, daí o conceito de fake news como algo, de fato, proposital. “Os boatos sempre existiram, porém, ganharam potência com a ascensão das mídias sociais. Aconselho os colegas a desconfiarem sempre, visto que ‘as fontes mentem’ por, muitas vezes, possuírem interesses próprios”, disse. Ainda de acordo o diretor, as famosas fake news são muito mais do que simples mentiras, elas escondem contextos políticos profundos. Ele defende que a “verdade jornalística” provém de uma profissão “essencialmente ética”, portanto, tal postura deve ser preservada por toda a categoria.