Cidades

Atendimento no Centro Especializado de Atendimento à Mulher cresce mais de 40% em Alagoas

650 procedimentos a mulheres vítimas de violência foram registrados em 2020 contra 457 no mesmo período de 2019

Por Ana Paula Omena com Assessoria com Tribuna Independente 10/02/2021 09h50
Atendimento no Centro Especializado de Atendimento à Mulher cresce mais de 40% em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, mulheres passaram a ficar 24 horas em casa, muitas vezes, com seus agressores, o que fez crescer em mais de 40% o número de acompanhamentos em 2020 no Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam), da Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh). Na última segunda-feira (8), uma mulher vítima de violência doméstica sem ter alternativa pediu socorro por meio de um bilhete na escola do filho no ato da matrícula. “Eu estava com ele porque fez questão de ir comigo para não denunciá-lo, mas mesmo assim, foi a forma que encontrei para pedir ajuda, já não estava aguentando mais ser violentada por ele, estou aqui com hematomas nas pernas que ele me cortou com a faca”,  contou na Central de Flagrantes após a direção da escola acionar a polícia pelo 190. De acordo com o Ceam, mais de 650 procedimentos entre psicológicos, jurídicos, assistência social e encaminhamentos para a Rede de Atendimento à Mulher Vítima de Violência foram registrados em 2020 contra 457 no mesmo período de 2019. Desse total, 124 acolhimentos aconteceram na Sala Lilás e 58 boletins de ocorrência desde a inauguração do serviço em agosto até dezembro do ano passado. “O terror psicológico é horrível. Parecia doer mais do que a violência física, pois ficava se repetindo na sua mente o tempo todo. Não deixem que isso aconteça com vocês. Busquem socorro. Peçam ajuda aos seus familiares e amigos. É tudo muito difícil, mas, graças a Deus, hoje eu sou outra pessoa”. O depoimento é da Dona Fátima (o nome é fictício porque a pessoa não quis ser identificada), maceioense de 52 anos que passou por um relacionamento conturbado que durou quase 15 anos. Sua história, como de muitas outras mulheres em situação de vulnerabilidade, começou com um casamento tranquilo, sem sinais de agressividade ou possessividade. Ela foi uma das mulheres atendidas em 2020 pelo Ceam. O Ceam trabalha com o acolhimento de mulheres vítimas de violência, com atendimento psicológico, jurídico e de assistência social que chegam por meio da Defensoria Pública de Alagoas, Hospital da Mulher, Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), além de outras instituições que trabalham com a mulher em Alagoas. Os serviços de atendimento de urgência às mulheres continuam sendo realizados pelo Ceam, assim como as rondas da Patrulha Maria da Penha, que tem funcionamento 24h. Nos casos de acolhimento, está sendo realizado atendimento psicológico online nas segundas, quartas e sextas-feiras das 8h às 17h, através do contato: (82) 988676434, da psicóloga Goretti Jatobá. MULTIDISCIPLINAR O Ceam conta com uma equipe formada por profissionais como assistente social, psicólogas e advogadas. O serviço realizado pela equipe multidisciplinar é continuado, onde a vítima dispõe de mecanismos que a auxiliam na sua proteção e na melhoria da qualidade de vida. O Centro fica localizado na Rua Augusto Cardoso Ribeiro, s/n, Jatiúca (transversal à Rua Dr. Antônio Gomes de Barros – antiga Av. Amélia Rosa). O contato pode ser realizado pelo telefone (82) 3315-1740. Alagoas está entre os estados com mais ligações para denunciar violência doméstica Dados do 14° Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apontam que Alagoas é o segundo estado do país com maior volume de ligações ao 190 da Polícia Militar para denunciar violência doméstica. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a cada hora, o telefone 190 recebeu uma denúncia de violência doméstica no primeiro semestre de 2020. Ao todo, foram 4.454 chamadas para denunciar a agressão sofrida pelas mulheres alagoanas. Este número é 61,3% maior do que o registrado no mesmo período de 2019, quando foram registradas 2.762 denúncias. Ainda de acordo com o Anuário, Alagoas está atrás apenas do estado de Rondônia, onde as denúncias deste crime cresceram 138,1%, saindo de 181 no primeiro semestre de 2019, para 431 no mesmo período de 2020. Conforme o levantamento, houve registro de queda no número de feminicídios em Alagoas em 2020, foram 15 contra 26 em 2019. Uma redução na casa dos 42,3%. Júlia Nunes, presidente da Associação AME, que acolhe vítimas de violência em Alagoas, revelou que em 2020 foram registrados mais de quatro mil atendimentos pela entidade e disse seguramente que a maior dificuldade das mulheres é formalizar a denúncia. Isso porque, segundo ela, faltam delegacias especializadas e a que tem, como a Delegacia da Mulher, por exemplo, apenas funciona em horário comercial e fecha aos fins de semana e feriados. “A vítima tem medo do agressor e da impunidade apesar desta realidade ter mudado muito em Alagoas. Quanto à mulher que pediu socorro através de um bilhete na escola do filho, ela pode nos procurar para atendimento psicológico e formalizar a medida protetiva”, ressaltou. COMO DENUNCIAR? A denúncia de violência doméstica e/ou familiar também pode ser realizada de forma anônima pelo Disque 180, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, pelo Disque-Denúncia 100 ou ligando para o 190 da Polícia Militar. A Defensoria Pública do Estado de Alagoas também está em funcionamento em regime de Teletrabalho e, para o atendimento das mulheres em situação de violência doméstica e familiar aqui na capital, foi disponibilizado o seguinte telefone com WhatsApp 98833-2914, além do email [email protected] para possibilitar a essas mulheres pedidos de medidas protetivas de urgência, orientações processuais, atualização de informações importantes, pedidos de renovação de medidas de proteção e demais requerimentos necessários. Outros telefones que podem ser úteis são: Superintendência de Políticas para a Mulher (98833.9078); Núcleo Especial de Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública de Alagoas – Nudem (98833-2914); Delegacia de Defesa da Mulher I, no Centro (3315-4976); Delegacia de Defesa da Mulher II, no Salvador Lyra (3315-4327); Delegacia de Defesa da Mulher III, em Arapiraca (3521-6318); Juizado de Violência Doméstica e Familiar, em Maceió (98833-2914); Comissão da Mulher e Direitos Humanos da OAB/AL (99104-7116).