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Comerciantes do Pinheiro relatam crimes na região: “virou rotina”

Comércio fora da área de risco também está exposto; representante dos empresários quer ampliação do mapa por “risco econômico”

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 09/02/2021 09h47
Comerciantes do Pinheiro relatam crimes na região: “virou rotina”
Reprodução - Foto: Assessoria
“Os roubos viraram rotina. Principalmente quando chega fim de semana. Roubaram a papelaria, uma ótica, tem uma boutique que foi roubada duas vezes nas últimas semanas. A gente orienta a fazer o BO, mas temos relatos de BO que não se transformam em ações”. É assim que o presidente da associação de empreendedores do Pinheiro, Alexandre Sampaio inicia uma série de denúncias sobre a situação dos empresários da região afetada por afundamento. Desde que os bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto começaram a ser desocupados, os comerciantes vêm sofrendo diversos abalos, incluindo o avanço da criminalidade. Alexandre Sampaio detalha que além dos arrombamentos e roubos registrados nas áreas desocupadas, os crimes passaram a ocorrer em pontos mais afastados e fora do mapa de risco, ou seja, sem expectativa de desocupação ou reparação dos prejuízos. “A principal questão em relação a isso é que os bairros foram desestruturados, eles perderam sua função. Quando se pega um bairro, retira as pessoas, retira iluminação, tira segurança, tira a vida do local, vira ambiente de bandido. Começa a virar ponto de droga, enfim... O que é triste é que isso está acontecendo na área onde as empresas não tem nenhum amparo do mapa, isso está acontecendo entre a rua Belo Horizonte, no Pinheiro, e a Fernandes Lima, e no Bebedouro, em partes que não estão cobertas pelo mapa. Lá no Bebedouro está do mesmo jeito, assalto roubo, cada vez mais frequente”. Sampaio critica a falta de segurança na região. “A ronda da Braskem é como tudo nesse acordo: é só para inglês ver. A ronda que a Braskem instituiu não resolve nada, não acabou com arrombamento, assalto, é só para o MP dizer que tem uma ronda, fazer uma foto do bairro e dizer que tem” Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP/AL) informou que vem realizando o acompanhamento na região e que operações têm sido feitas no sentido de coibir o avanço dos crimes. “O acompanhamento vem sendo feito, inclusive com operações na região. Mês passado teve uma lá. E aí a gente sabe que pode ocorrer algo, afinal a área tá muito vulnerável, muito imóvel desocupado. Mas a polícia vem fazendo rondas sempre. Seja com aéreo ou viaturas. E a gente orienta que as pessoas acionem a polícia caso saibam de alguma situação. O secretário Alfredo Gaspar esteve reunido com representantes da Braskem para discutir sobre o panorama atual dos bairros e ações que vem sendo desenvolvidas para evitar crimes e outros delitos na região”, diz a SSP. PREJUÍZOS Com a rotina local comprometida, os negócios vêm sofrendo sérios prejuízos econômicos. Além disso, ele afirma que tem havido lentidão nas indenizações. “A maioria saiu, mas ainda há sobreviventes, que insistem em sobreviver e estão praticamente pagando para trabalhar e não fecharam ainda porque dependem do comércio. E a Braskem não sinalizou ainda, está demorando muito. As empresas apresentaram documentação há 100 dias, 80 dias... E a Braskem prometeu ao MP que pagaria com 60 dias. Da associação até agora ninguém foi indenizado. Dos empreendedores que não são associados cerca de 90%. Nenhum associado foi pago. A Braskem soltou uma nota de que mais de 1.800 empreendedores receberam proposta, mas quantos foram pagos?” Sampaio defende a inclusão dos empreendimentos no mapa de desocupação pelo “risco econômico” enfrentado. “O problema da segurança vai piorar, não tem jeito, o bairro está perigoso não tem mais pessoas circulando, principalmente no fim de semana. Aí vira um ambiente propício para esse tipo de coisa e não temos estrutura de segurança para isso. O que faz um lugar ser seguro é ele estar vivo, é gente circulando, é a vida que acontece no bairro que dá segurança. O Nosso último recurso é que a Braskem agilize as indenizações e coloque as áreas remanescentes como de risco econômico para que as pessoas sejam indenizadas e saiam. Há um processo claro de esfacelamento do tecido social e econômico. A única coisa que resolve é tirar da área de risco e indenizar”. “A gente está preparando uma ida à ONU” O empresário critica a postura dos poderes públicos na condução da problemática. “Nós desistimos do governo do estado porque eles fecharam as portas para nós há muito tempo. Tivemos boas rodadas e discussão até 2019, mas em 2020 não conseguimos e veio a pandemia e não houve mais contato. Na Prefeitura nós conseguimos com o GGI dos bairros, tivemos reuniões, amanhã [terça-feira, 9] temos outra reunião”, pontua. Crítico ferrenho do acordo entre Braskem e órgãos de controle. Alexandre classifica a situação como “absurda” e afirma que há uma mobilização para levar o caso até instâncias internacionais. “É uma coisa absurda. Dizem que se não concordarmos podemos ir para a Justiça. É uma chantagem, temos que escolher entre algo ruim ou muito pior. Todos os órgãos de defesa dos direitos da coletividade se renderam a Braskem. A gente está preparando uma ida à ONU para denunciar o acordo que foi feito, que foi desumano, desrespeitou a Constituição e os direitos básicos das pessoas. A gente está sendo obrigado a sair com uma mão na frente e outra atrás, recomeçar sem dinheiro e muitos estão quebrando por causa disso, é um absurdo”, finaliza. BRASKEM Procurada, a Braskem informou que desenvolve diversas ações que incluem vigilância patrimonial, instalação de 150 câmeras, alarmes e uma Central de Monitoramento, instalação de muros de proteção nas áreas já desocupadas e tamponamento dos imóveis vazios. “Essas ações são adicionais às já adotadas pelos órgãos de segurança pública, todas as informações são compartilhadas e, sempre que necessário, a Polícia Militar é acionada”, informou a empresa por meio de nota. Com relação às indenizações dos empreendedores, a petroquímica explicou que “o Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação vem cumprindo os prazos estabelecidos em acordo com as autoridades, que acompanham todas as ações desenvolvidas. O acordo prevê que os empresários que desenvolvem atividade econômica de maneira não formal ou os microempreendedores individuais têm direito a um adiantamento no valor de R$ 10 mil para cobrir gastos adicionais com a realocação, caso seja comprovada a necessidade. Para empresas de micro, pequeno, médio e grande porte, o valor a ser antecipado é proporcional ao porte da empresa ou os comerciantes podem solicitar a antecipação de custos comprovados por orçamentos.”