Cidades

Morre Gesivan Rodrigues: jornaleiro mais antigo no Centro de Maceió

O corpo de Gesivan está sendo velado  na Central Velório do Pré-vida e será sepultado às 16h, no cemitério de São José, no Trapiche da Barra

Por Tribuna Hoje, com História de Alagoas 26/12/2020 13h38
Morre Gesivan Rodrigues: jornaleiro mais antigo no Centro de Maceió
Reprodução - Foto: Assessoria
Morreu na madrugada deste sábado (26), aos 71 anos, Gesivan Rodrigues da Banca Nacional, o jornaleiro mais antigo do Centro de Maceió. Ele morreu por problemas cardíacos. Sua banca de revistas está localizada na Praça Montepio, referência para muitos alagoanos, mas encontrava-se fechada após a pandemia. O corpo de Gesivan está sendo velado  na Central Velório do Pré-vida e será sepultado às 16h, no cemitério de São José, no Trapiche da Barra. Não foi informada a causa da morte do jornaleiro.  O deputado federal Paulão (PT), lamentou a morte em suas redes sociais. [caption id="attachment_418966" align="aligncenter" width="1200"] (Imagem: Reprodução)[/caption] HISTÓRIA Desde 1960 que os maceioenses aprenderam a conviver com a Banca de Revistas Nacional, do Gesivan Rodrigues Gouveia. Filho do estivador João Rodrigues de Gouveia, Gesivan começou ainda criança a trabalhar, vendendo angu pelas ruas do Vergel do Lago, bairro onde morava com os pais e mais 10 irmãos. “Quando meu pai foi obrigado a se aposentar e viver de um salário irrisório, tive que cair em campo para aumentar o orçamento da casa”, revelou em entrevista ao lembrar que sua mãe enchia uma lata de angu sobre um carro-de-mão e ele percorria as ruas ainda de madrugada. [caption id="" align="alignnone" width="820"] Banca do Gesivan ao lado do antigo Hotel Lopes [/caption] Já trabalhando na banca, descobriu que ganhava mais alugando as revistas que vendendo. “Eu tinha muitos amigos em quem confiava e quase todos sofriam do mesmo problema de falta de dinheiro”, recordou Gesivan e citou que as revistas mais alugadas eram O Cruzeiro, Cigarra, Querida e Fatos & Fotos. O prazo para devolver a revista era de dois dias: “Quem não respeitasse a regra, perdia não só o direito de continuar tendo acesso às revistas, como perdia a minha amizade”. Sempre bem abastecida, a Banca sempre foi uma referência para leitores de várias camadas sociais, mas notabilizou-se nos anos 70 e 80 pela especial clientela de intelectuais, artistas e políticos. Época em que o semanário Pasquim era um dos mais aguardados no início da semana. As reservas eram disputadas, já que ninguém queria ficar sem o famoso “hebdomadário” carioca, que sempre estava sujeito a apreensões pela Polícia Federal. Em Maceió, Gesivan teve a sua banca danificada com uma tentativa de incêndio. Mas ele continuou expondo os tabloides de oposição e, graças ao apoio das organizações que lutavam contra a ditadura, manteve-se como um dos poucos que vendeu do primeiro ao último exemplar do Pasquim. “Houve uma época que houve quebra-quebra de banca. Naquela época houve um movimento muito forte por aqui. O Aldo Rebelo, que hoje é [foi] ministro, se juntou com o pessoal do PCdoB e fez um movimento aqui, que reuniu muita gente. Era contra a Ditadura, que estava incendiando as bancas. Eu recebi várias ameaças, mas o movimento em apoio a minha banca fez baixar a pressão. Mas tentaram incendiar. Eles também vinham e arrancavam os cartazes que eu colava, mas depois do ato eles não vieram mais aqui”, lembrou Gesivan. Sobre a censura a jornais alagoanos, Gesivan lembrou que só houve uma. “A única apreensão que teve foi a da Tribuna, que era na Rua do Sol. Eles disseram que era porque tinha uma matéria contra o sistema. Isso foi em 1979 ou 1980”. Gesivan esteve na Banca na Praça do Montepio por 60 anos, inscrevendo-se com sua A Nacional na história da cena urbana de Maceió.