Cidades

Aumento de novos casos de covid-19 pode indicar uma segunda onda

Especialistas confirmam que aglomerações provocadas nas campanhas eleitorais pressionaram o aumento dos números

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 02/12/2020 08h26
Aumento de novos casos de covid-19 pode indicar uma segunda onda
Reprodução - Foto: Assessoria
O crescimento de mais de 40% no número de novos casos de coronavírus em Alagoas pode ser indicativo de uma “segunda onda” da doença. Para especialistas, ainda é cedo para afirmar se de fato é uma segunda onda, ou se o aumento dos casos é apenas reflexo do show de aglomerações e descumprimento dos protocolos sanitários promovidos durante as campanhas eleitorais. No entanto, o fato é que a transmissão da doença está em situação de “descontrole”. O presidente da Sociedade Alagoana de Infectologia, Fernando Maia, vê com preocupação o crescimento no número de casos. De acordo com o boletim divulgado ontem (1º) pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), foram confirmados mais 168 casos, totalizando 95.152. Além disso, 2.909 casos estão sob investigação. “Estávamos numa curva bem descendente, e mais ou menos da campanha eleitoral para cá voltou a subir. A gente tem que olhar com muita cautela e observar se é de fato uma segunda onda que está vindo, porque se for é necessário tomar medidas mais restritivas. Com certeza as campanhas contribuíram para o aumento de casos, porque muita gente fazendo aglomeração, andando sem máscara, fazendo passeata, carreta, acredito que pode não ter sido a única causa, não foi, mas contribuiu bastante. Os casos estão aumentando. Não sabemos se foi devido ao período de campanha. Se foi a tendência é que agora que a campanha acabou haja uma diminuição nas próximas semanas, se for realmente uma segunda onda a tendência vai ser crescer se não tomarmos nenhuma medida, é cedo para confirmar, precisamos observar, ver como a epidemia vai se comportar”, afirma Maia. Segundo dados do Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19, o aumento de novos casos na 48ª semana [semana passada] foi de 43%. Somado a isso, tem-se a estabilidade no número de óbitos e a taxa de reprodução da doença que segue acima de 1. “A gente vem observando no estado que vem se acentuando nesta última semana um aumento no número dos casos e se a gente observa outros indicadores como o número reprodutivo, o risco epidêmico, aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave que apontam para o descontrole da transmissão. Ou seja, isto indica que precisam ser tomadas medidas que evitem um colapso”, afirma o pesquisador responsável pelo estudo e professor da Universidade Federal de Alagoas, Gabriel Badue. Infectologista não descarta medidas mais duras   O infectologista Fernando Maia não descarta a possibilidade de já nas próximas semanas haver um retorno a fases anteriores do protocolo de controle da doença. Segundo ele, só será possível afirmar se a tendência de aumento for confirmada nas próximas semanas. “É possível. Vai depender de como a epidemia vai caminhar. Se o cenário de alta se mantiver, vai ser preciso esse retorno. Porque se a epidemia ficar descontrolada, começar a ter muitos casos o perigo é o colapso do sistema de saúde. Aqui em Alagoas, na primeira onda, nós não tivemos colapso, mas outros estados tiveram, tivemos uma lotação bem próxima dos 100%. E essas medidas são formas de controlar o número de doentes para que possam ser cuidados”, pontua Maia. SEM TESTAGEM Segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) sobre Covid-19 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 10% da população alagoana foi testada. Segundo Fernando Maia  a testagem em massa é uma das estratégias adotadas para o controle da doença. “Basicamente há duas linhas de raciocínio, uma que é o que o Brasil vem fazendo com as faixas de restrição da circulação, outra linha de ação é o chamado isolamento vertical, que foi empregado em outros países como Japão, Coréia do Sul e consiste na testagem de uma grande parte da população, detecta e isola, mas para fazer isso você precisa testar um grande número de pessoas e isso envolve custos muito altos, e distante da realidade do nosso país. Uma campanha como essa envolveria a compra de milhões de testes. Não sei se o Brasil teria condições de fazer isso”, pontua. Vale lembrar que recentemente mais de 7 milhões de testes para detecção de Covid-19 perderam o prazo de validade por não terem sido empregados em tempo hábil no controle da doença no país.