Cidades

Rachaduras “chegaram” em mais um bairro de Maceió?

Recente mapa elaborado pelo pesquisador Abel Galindo aponta influência do afundamento de solo em outras áreas da capital

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 12/09/2020 08h58
Rachaduras “chegaram” em mais um bairro de Maceió?
Reprodução - Foto: Assessoria
O início dos trabalhos de monitoramento da Defesa Civil numa região do bairro do Farol, em Maceió levantou uma importante questão: Os efeitos do afundamento de solo chegaram em outras áreas? Na avaliação do pesquisador Abel Galindo, sim. Ele afirma que há cerca de vinte dias elaborou um mapa apontando a influência do fenômeno de afundamento na região e isso inclui áreas que até então não haviam sido monitoradas. “Esse processo é muito dinâmico, é muito complicado, muito difícil. Na literatura técnica não há a distância que uma mineração dessas afeta, se propaga. Não temos esses dados. Com certeza, sem nenhuma dúvida essas rachaduras têm relação. Pode ser sim, porque essas minas no entorno do IMA, por exemplo, são minas enormes. São minas avançadas. Não acredito que vá chegar a uma distância superior a 2km do ‘grosso’ das rachaduras, dos pontos onde mais estão concentradas. Não podemos afirmar com certeza onde pode chegar, mas não creio que se estenda mais que isso. O limite por enquanto é a Fernandes Lima. À medida que vai afastando a influência é menor, não existe risco de afundamento para outras áreas exceto para a região do Mutange, do olho do furacão. Não há risco de abrir uma cratera e todo mundo descer, como já venho dizendo há uns dois anos”, afirma Abel Galindo. Conforme a edição da última sexta-feira (11) do jornal Tribuna Independente, moradores da Rua Tenente Antônio Oliveira denunciam a intensificação de rachaduras que estariam surgindo desde 2018. A Defesa Civil iniciou um monitoramento, no local após chamado dos moradores. Até o momento não há definição oficial sobre as causas das rachaduras em cerca de sete imóveis. Segundo moradores, o problema tem piorado desde maio deste ano. No esboço feito pelo pesquisador, um trecho do bairro do Farol foi incluído, inclusive a Rua Tenente Antônio Oliveira. Galindo diz que realizou um cálculo considerando as minas em colapso e a maior distância possível de influência para determinar o raio onde possivelmente podem ser encontradas rachaduras. “Fiz o mapa esse mês em função das minhas pesquisas de campo. Tem um prédio pequeno, no mapa Porto Farol, fica próximo da Rua [Antônio Oliveira]. Eu estive nessa região há uns seis meses ou mais e já tinha rachadura em algumas casas e no prédio. Eu só tracei a linha da área afetada depois que eu comecei a ver rachaduras em outros pontos. Vai pegando a distância da mina, a maior distância e pegando a ocorrência de fissuras e chega-se a essa área afetada. É um raio de ocorrência, mas não é definitivo.”, pontua. Procurada, a Braskem S/A informou que segue realizando estudos na região para “identificar as causas”, apesar do laudo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apontar a mineração como a motivação para o afundamento. “A Braskem está em diálogo permanente com as autoridades públicas competentes e segue realizando estudos para entendimento das causas do fenômeno geológico que vem atingindo os bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto. Até agora, os estudos não permitem estabelecer uma relação definitiva de causa e efeito sobre o que acontece nos bairros. A área com instabilidade continua sendo estudada e vem sendo monitorada 24 horas por dia com equipamentos DGPS para acompanhamento de movimentações de solo, bem como monitoramentos de topografia, interferometria via satélite e sismógrafo de engenharia que monitora de vibrações de subsuperfície. Os dados coletados são avaliados periodicamente e compartilhados com as autoridades públicas responsáveis”, diz a empresa. RACHADURAS NO FAROL Esta semana equipes da Defesa Civil de Maceió estiveram na Rua Tenente Antônio Oliveira e vistoriaram sete imóveis, três deles foram avaliados a partir do chamado prévio de moradores. Segundo o órgão, os imóveis serão monitorados e uma nova visita deve ocorrer no próximo mês. “Tinham três casas agendadas, a Defesa Civil já tinha ido no mês passado e voltou. Lá no local outros moradores apontaram que tinham rachaduras. Os imóveis foram avaliados pela equipe e os moradores foram orientados a informar à Defesa Civil qualquer anormalidade. A Defesa Civil vai continuar o monitoramento. Podem voltar mês a mês, foram feitas marcações e os moradores foram orientados caso percebam evolução, informar para ser realizada uma revistoria. Não tem prazo para o laudo. O levantamento feito é uma investigação que depende do que vai sendo encontrado, do que vai sendo necessário de informações”, pontua o órgão. A investigação vai determinar se o padrão das rachaduras encontradas nos imóveis é o mesmo dos demais bairros e se o fenômeno está associado ao afundamento de solo. “A intenção desses levantamentos é investigar se o fenômeno está se estendendo para outras áreas. Investigar se as fissuras e fraturas identificadas estão associadas à instabilidade de solo que afeta os bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto ou não”, explica o geólogo do Centro Integrado de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil (Cimadec), Antonioni Guerrer. Afundamento dura dois anos sem nenhuma previsão de cessar O processo de afundamento de solo, apontado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) como decorrente da extração de sal-gema vem afetando mais de 40 mil moradores nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e mais recentemente no Bom Parto. A situação de calamidade pública dos bairros foi decretada no fim de 2018 e renovada por duas vezes, a última no primeiro semestre deste ano. Desde o dia 3 de março de 2018 quando um tremor de 2,5 na escala Richter foi sentido no bairro do Pinheiro e adjacências a escalada de rachaduras em imóveis e vias não parou de se intensificar.  Devido ao problema, mais de 2.500 moradores já precisaram deixar seus imóveis no bairro do Pinheiro. Em 3 de janeiro deste ano um acordo judicial firmado entre órgãos de controle e a Braskem estabeleceu a retirada de 17 mil pessoas das áreas de maior criticidade dos quatro bairros afetados.  Além de retirar as pessoas, a Braskem deve indenizar. As ações, previstas no acordo podem levar até dois anos para a conclusão. Em cronograma divulgado pela Braskem e órgãos de controle, a saída dos moradores das áreas consideradas de risco deve ocorrer até o dia 1º de abril. No entanto, um relatório do CPRM pede que a área de desocupação seja expandida devido à aceleração do processo. As análises do CPRM apontam que entre os anos de 2016 e 2019 já houve 70 cm de afundamento. Em junho deste ano, uma modificação no nível de risco determinou a desocupação de mais 1.900 imóveis nas regiões monitoradas. Também no primeiro semestre deste ano a Braskem anunciou que atenderá a recomendação de preenchimento de quatro minas. Os trabalhos ainda não têm data para ser iniciados, mas um canteiro de obras foi implantado às margens da Lagoa Mundaú, na Rua Major Cícero de Goés Monteiro, no Mutange.