Cidades

Cozinhar no isolamento vira terapia

“Marinheiros de primeira viagem” se aventuram e descobrem novas habilidades durante a pandemia de Covid-19

Por Texto: Ana Paula Omena com Tribuna Independente 22/08/2020 09h19
Cozinhar no isolamento vira terapia
Reprodução - Foto: Assessoria
Cozinhar neste momento de pandemia acabou sendo um dos principais refúgios para muitas pessoas por conta do isolamento social adotado para conter o avanço do novo coronavírus. Milhões de famílias passaram a estimular a culinária seja por passatempo ou por necessidade de uma renda para a sobrevivência. Em muitos casos, os dotes culinários foram aflorados, já em outros, surgiu o espírito de aventura na cozinha e muita gente partiu para fazer as próprias refeições em casa, além de pratos mais saborosos. Foi o que aconteceu com a advogada Bruna Wanderley, que viu na pandemia e com a redução do trabalho uma oportunidade para empreender por meio dos doces, que já eram muito apreciados pelos familiares e amigos. “Cozinhar sempre foi uma paixão transmitida pelos meus pais, é  uma tradição de família . Eu sempre fazia doces e sobremesas nos eventos de família, de forma amadora, mas tentando aperfeiçoar cada vez mais”, salientou. “Eu seguia atuando profissionalmente como advogada e vinha estudando para concursos, cozinhar era um hobby, mas a pandemia me despertou para empreender”, frisou. Bruna diz que as palhas italianas já eram bem conhecidas pela família, por esse motivo, no ano passado, ela fez as palhas como lembranças do próprio casamento. “Acabei fazendo também para lembranças do casamento da minha irmã, o qual ocorreu no início desse ano de 2020”, destacou. A atual empreendedora declarou que as palhas fizeram tanto sucesso que ela decidiu que seria a partir delas que começaria o seu negócio. “Já o caramelo é uma receita de família, veio de algumas gerações atrás, fiz algumas adaptações e o transformei no caramelo, o caramelo crocante”, complementou. O meu marido dela que também é advogado, começou a cozinhar por hobby e influenciado por Bruna. “Ele sempre me incentivou a empreender junto aos doces, mesmo antes da pandemia, então diante desse novo cenário e da oportunidade de trazer mais uma fonte de renda para dentro de casa, decidimos que era a hora de seguirmos mais um novo caminho”, ressaltou. Segundo ela, essa iniciativa os ajudou a aprender coisas novas na cozinha, como técnicas mais profissionais, combinações, até mesmo higiene na cozinha durante a pandemia. Além disso, Bruna passou a trabalhar com o design da marca, das embalagens, de todo o layout dos doces que é produzido 100% por eles. “Há aproximadamente um mês formalizei uma microempresa e lancei a minha marca, mesmo com pouco tempo bons frutos já vêm sendo colhidos e vamos conhecendo cada vez mais sobre esse campo dos negócios”, disse. A funcionária pública federal, Májores Tenório, em casa por conta da pandemia e com menos ocupação, resolveu arregaçar as mangas e mesmo com pouca prática, porque não costumava cozinhar, passou a se aventurar na cozinha e a levar seu filho também a colocar a mão na massa. [caption id="attachment_395217" align="alignleft" width="225"] João, filho da Májores, fazendo torta de limão (Foto: Arquivo Pessoal)[/caption] Ela contou que a convivência familiar melhorou. “Tem aproximado mais a mim, meu filho e meus pais (moram no andar de cima)”, garantiu. “Nos divertimos bastante, principalmente meu filho que está aprendendo mais coisas e está bem feliz em ter mãe sempre perto”, afirmou Májores. “Ato de se alimentar vai muito além da necessidade fisiológica” de gastronomia, Antônio Mendes, o ato de se alimentar vai muito além da necessidade fisiológica, é um ato social, onde se compartilha experiências, reúne-se com os entes e amigos queridos ao redor da mesa para conversar e tratar de assuntos do dia a dia. “Portanto, como as famílias tiveram que se isolar quase que por completo, um dos momentos onde todos puderam compartilhar tarefas e prazeres é no ato de cozinhar e posteriormente comer, cozinhar se tornou uma espécie de terapia, onde se pôde desfrutar de momentos de prazer de fazer o que gosta, bem como também para observarmos marinheiros de primeira viagem que se aventuraram em um mundo novo e descobriram novas habilidades que antes estavam escondidas”, ressaltou. Para ele, não há dúvidas de que o ato de cozinhar requer uma série de tarefas, desde as escolhas dos produtos que serão utilizados, até às técnicas e formas de cozimento que demandam trabalho em equipe e organização. “Cozinhar pode ser um excelente instrumento para aproximar a família e dividir tarefas para que todos possam construir a sua própria refeição partindo do zero. Sem dúvidas o valor agregado é muito maior, pois se trata de uma experiência sensorial e que pode aproximar a família em torno de um objetivo comum”, destacou Antônio Mendes. Ele acredita que o fato de os supermercados estarem tão cheios durante esta pandemia pode ser em decorrência das pessoas estarem cozinhando bem mais em casa. “Pode ser um dos fatores. Com a ausência momentânea das idas a bares e restaurantes, as pessoas buscaram cada vez mais trazer para o seu lar a experiência que é estar em um estabelecimento de alimentos e bebidas”, frisou. “Todos querem fazer com que tenhamos bons momentos neste período complicado e com certeza uma boa refeição é uma excelente maneira de trazer isso para todos aqueles que amamos”, acrescentou. Segredo é conhecer técnicas e ingredientes utilizados O professor de gastronomia, Antônio Mendes, salientou que o segredo para uma cozinha criativa é conhecer bem às técnicas e ingredientes que serão utilizados. Segundo ele, a partir do momento que se domina com perfeição os produtos e às técnicas ideais para serem aplicadas, pode-se “brincar” em um mar de possibilidades criativas e dar o toque especial em cada receita, imprimindo assim uma marca própria e que ninguém pode copiar. Na visão do docente é na cozinha que exercitamos todos os sentidos e a criatividade, porque quando se cozinha é exercitado toda a capacidade sensorial. “O paladar para temperarmos na medida certa os nossos alimentos, o olfato para atrair e fisgar a todos com aquele cheirinho de comida gostosa, a visão oferecendo uma comida bem apresentada e que faça todos “comerem com os olhos”, o tato para sentirmos os pontos corretos de cozimento e texturas ideais de cada alimento e a audição para sabermos “ouvir” o que o alimento nos diz através dos mais variados sons que a cozinha nos apresenta”, pontuou. Antônio Mendes deixa uma dica para quem está iniciando na cozinha, que é começar com receitas mais simples e ir aumentando o grau de dificuldade gradativamente. “Aconselho começar com massas simples (massa de pão, pizza, pão de queijo, dentre outros), porque quando trabalhamos com massas temos que ter um controle grande dos processos e com poucos ingredientes podemos fazer muitas modificações nos alimentos, além de ser muito lúdico o fato de literalmente colocarmos a mão na massa o que acaba sendo muito divertido na cozinha”, finalizou.