Cidades

Tecnologia não ofusca brilho da fotografia

Ela enfrenta desafios, como manipulação, para resistir ao processo de construção histórica e de contribuição à sociedade

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 19/08/2020 08h15
Tecnologia não ofusca brilho da fotografia
Reprodução - Foto: Assessoria
“A foto está envolvida nas nossas vidas, é importante, mas continua sendo contestada. Eu como profissional, qualquer um, deve preservar quanto a questão do que é verdade, do que é mais próximo da realidade, do que aconteceu”. É assim que o fotojornalista Itawi Albuquerque resume a importância da fotografia e sua contribuição à sociedade. Para os repórteres fotográficos da Jorgraf, Edilson Omena e Sandro Lima, a fotografia “abriu as portas” para um novo mundo. “A fotografia jamais perderá seu valor, pois foi, é e sempre será, muito importante na nossa história. Foi através da fotografia que conheci um mundo diferente e de vários ângulos para  a história”, diz Sandro Lima que tem mais de 20 anos de experiência na profissão. Para Edilson Omena, mesmo com o avanço da tecnologia não é possível “ofuscar o brilho” da foto. “A fotografia é um acontecimento. É o que marca, mesmo com a tecnologia avançada, ela retrata o que aconteceu. É muito importante, faz parte da nossa história”. Também repórter fotográfico, Max Monteiro defende um olhar sensível através da fotografia. Ele se considera um apaixonado pela fotografia. “Eu acredito que a fotografia faz parte da vida de todo mundo, até daquelas pessoas que dizem que não gostam. É um meio de comunicação, é uma forma de expressão, artística. E com o passar do tempo foi se popularizando e ganhando espaço. A fotografia é uma forma de contar histórias, é através dela que conseguimos eternizar momentos históricos, momentos da vida. É uma forma de humanizar o momento, de tornar o momento sempre real. Sempre fui apaixonado pela fotografia, tanto de ser fotografado quanto de fotografar”. Após mais de dois séculos de existência a fotografia se mantêm como uma importante ferramenta na construção histórica. O professor e historiador da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Osvaldo Maciel avalia que são muitos aspectos que pesam neste processo. “Tem um processo contraditório porque ao mesmo tempo que a gente tem uma explosão da imagem, das fotografias, que são bem acessíveis quanto eram a três décadas atrás. Se por um lado há essa explosão que possibilita a produção espontânea e institucionalização de fonte para o processo histórico, por outro há um processo de banalização, cada vez mais essas fotos perdem o valor, que é parte desse movimento contraditório. E eu acho que as coisas ainda não estão totalmente claras. Mas é muito difícil que a fotografia deixe de ter importância enquanto fonte para a gente entender o processo civilizatório”. Foto passa por evolução tecnológica e também de mídias digitais   A evolução tecnológica, a manipulação de imagens, a utilização nas mídias digitais e o modo de consumo das imagens são fatores que também vêm sendo incorporados neste processo, segundo Osvaldo. “Por um lado a fotografia pode sugerir veracidade, um grau de realidade muito grande para os fenômenos que ela captura, mesmo em formato digital, por outro lado a gente sabe que a própria fotografia tem sido objeto de manipulação, de distorção, que seja falseada. Tem dois elementos que eu gostaria de pontuar: O que faz com que a fotografia seja lida como verdade? Tem uma série de mentiras que são críveis, e tem outras que são verdadeiros absurdos, que as coisas mais estapafúrdias são tidas como verdadeiras, é esse elemento que precisamos conferir. Não basta apenas saber que uma foto pode ser manipulada, falseada. A questão é justamente o que faz com que determinada imagem mentirosa, manipulada seja tida como verdadeira, crível, enquanto imagens reais são desconsideradas, colocadas como imagens que não tem valor. É muito nesse ambiente ideológico, de uma tendência de extrema direita, perversa, fascista que tem se escancarado no Brasil e em outros países do mundo”. Itawi Albuquerque considera que, apesar destes fatores negativos, a fotografia tem importância significativa tanto para o jornalista, quanto para a sociedade. “A fotografia é muito importante, desde o princípio porque marca o registro do tempo. Ela vem sofrendo mudanças e tem sido importante tanto para marcar fatos como o fotojornalismo, como para momentos íntimos porque hoje ela vem sendo consumida de uma forma muito maior, muito mais acessível no celular, câmeras digitais, as pessoas têm fotografado muito e isso faz com que a fotografia perca a veracidade, são tantos programas de edição, de manipulação. E isso não é de hoje, mesmo quando era revelada no papel, sofria manipulação, já existia a questão da fake news, então essas mudanças tecnológicas podem ser mais profundas, mais perfeitas, mas a foto continua sendo muito importante e para mim continua cada vez mais forte. Para registrar acontecimentos, tragédias”, aponta.