Cidades

“Não tem relação com o processo nos outros bairros”, diz pesquisador sobre Bom Parto

Abel Galindo contesta possível origem das rachaduras na região

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 12/10/2019 10h38
“Não tem relação com o processo nos outros bairros”, diz pesquisador sobre Bom Parto
Reprodução - Foto: Assessoria
Contrariando o decreto que instituiu situação de calamidade pública no bairro do Bom Parto devido ao processo de afundamento atestado pelo Serviço Geológico do Brasil, o pesquisador Abel Galindo afirma que o aparecimento de rachaduras nessa região se dá por outra problemática: construções e aterro em área de mangue. “O Bom Parto é uma situação um pouco complicada. Eu separei o Bom Parto em três partes. Ao contrário do que aconteceu na casa do José Lopes onde houve um avanço enorme da lagoa porque afundou, aqui [Bom Parto] não foi assim. Se olhar no Google, inclusive, a área está totalmente intacta, não houve invasão nenhuma da lagoa, pelo contrário. Aqui [nessa área] no Bom Parto, não existe afundamento de minas. Têm as casas que já estão consolidadas, que não têm rachaduras e têm as outras mais próximas das margens que têm. Quando eu estive lá, percebi que eram rachaduras muito grandes, é um palmo, separou. Por conta da lama no fundo, lama do mangue. As pessoas vão colocando aterro de todo tipo e o resultado é isso aí que estamos vendo agora. Não tem relação com o processo nos outros bairros”, garante o pesquisador. Responsável por conduzir um estudo que apontou de forma antecipada as possíveis causas para o afundamento nos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange, Abel Galindo diz que tem se debruçado na região do Bom Parto desde surgiram os primeiros registros de rachaduras, há cerca de três meses. Após análises técnicas e sondagem, ele afirma que conseguiu identificar o que realmente tem ocorrido. “Separei em três áreas, a parte do Residencial Vale do Mundaú, onde foi feito um aterro muito preciso, um aterro técnico, com acompanhamento, o que a gente chama de manta para equilibrar o afundamento do aterro na época. Eu fui lá verifiquei e toda essa área está em paz. Já nessa outra parte, mais próxima da margem da lagoa, começaram a aterrar, são aterros de metralha. Esse aterro quanto mais perto da lagoa é mais novato e mais ocorre esse processo de afundamento, quanto mais bota aterro mais ele desce para o fundo da lagoa. Esse é um processo lento”, defende. Na avaliação do pesquisador, a influência dos vazios em cavidades de extração de sal-gema é mínima em relação ao bairro do Bom Parto. “Eu fiz um estudo, separei três áreas. A primeira, do Vale do Mundaú. A segunda, na margem da Lagoa. E tem outra área que poderá ter alguma coisa devido a presença de mina. É muito difícil dizer se vai ter, é algo muito remoto. Se for é muito pequeno, tanto é que a própria margem da lagoa mostra que não houve mudança até agora.” A situação da Travessa São Francisco e adjacências é comparada, segundo Galindo, a um processo ocorrido na Vila Brejal, há alguns anos atrás. “O caso da Vila Brejal é um caso semelhante. É muita argila orgânica. A Vila brejal era assim, o povo construiu suas casas e aí o aterro ia descendo porque o solo era muito mole e as primeiras caçambas de aterro descem, não fica nada, fica aquele aterro muito instável. As casas afundavam, e as janelas iam descendo. E nessa área do Bom Parto eu pude constatar, comprovando minhas suspeitas. É uma área que tem comportamento idêntico ao da Vila Brejal”, avalia Galindo. Denúncias de rachaduras na região surgiram há poucos meses Uma região do bairro do Bom Parto já havia sido incluída no monitoramento após análise interferométrica dos estudos do Serviço Geológico do Brasil. No entanto, a área onde essas rachaduras estão aparecendo não corresponde ao estudo da CPRM. Em setembro deste ano, a reportagem da Tribuna Independente esteve na Travessa São Francisco para ouvir o relato de moradores. À época, a Defesa Civil Municipal já tinha vistoriado o local, no entanto, nenhuma conclusão foi informada. Também no mês passado, técnicos do Serviço Geológico do Brasil estiveram na região. O líder comunitário do Bom Parto, Fernando Lima informou que cerca de 400 imóveis da região estariam com rachaduras. Ele diz ainda que tem recebido relatos de moradores há cerca de cinco meses detalhando o aparecimento de rachaduras que seguem um “caminho”. As moradias ficam às margens da Lagoa Mundaú. “Começamos a verificar que os moradores estavam encontrando rachaduras, de uns três meses ou mais para cá. Inicialmente em 33 casas, com laudo da Defesa Civil. Hoje já chega a quase 400 casas. Foram identificadas rachaduras atípicas ao que é comum na região da Lagoa. Porque grande parte de rachaduras lá é devido ao solo, ao aterro da lagoa. Só que nesse momento, temos percebido uma rachadura em específico que tem uma extensão de mais ou menos 300 a 400 metros. Ela se estende desde a parede, ao piso e segue em linha reta. A Defesa Civil esteve e já foi solicitado que a CPRM viesse ao Bom Parto”, afirma o representante da comunidade. No fim de setembro, a Prefeitura de Maceió publicou decreto integrando o bairro do Bom Parto na situação de calamidade pública junto com os bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange. Procurada pela reportagem, a Defesa Civil Municipal esclareceu em nota que os resultados dos estudos no Bom Parto estão em fase de conclusão. Não há prazo para a divulgação das informações. “A Coordenadoria Municipal Especial de Proteção e Defesa Civil (Compdec) informa que os trabalhos relativos ao Bom Parto serão divulgados após conclusão do relatório dos trabalhos realizados pelos técnicos da Defesa Civil e pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), assim como as medidas necessárias com relação à população do bairro”, diz o órgão.