Cidades

"Interação com os pais na hora de brincar é essencial para o desenvolvimento''

Especialistas e pais afirmam que momento é de estabelecimento de vínculos

Por Lucas França com Tribuna Hoje 12/10/2019 09h09
'Interação com os pais na hora de brincar é essencial para o desenvolvimento''
Reprodução - Foto: Assessoria
A hora de brincar é especial e necessário para o desenvolvimento dos pequenos. Este momento é indispensável para uma infância feliz e um importante instrumento de socialização. Entre os benefícios das atividades lúdicas, especialmente durante a primeira infância, destacam-se o surgimento da autoestima,  e o estabelecimento de vínculos com os pais. De acordo com os especialistas, os benefícios das brincadeiras são inesgotáveis. “Elas precisam de desafios, que estimulem a fantasia, a imaginação, a curiosidade, a imitação, a atenção, a memória, a autoconfiança e a autonomia. Para além de aprender a partilhar objetos, é também a brincar que a criança compreende a importância das regras, amplia o seu relacionamento social e o respeito por si mesma e pelo outro. Por isso, o que eu oriento é que aproveitem ao máximo esse período da vida dos seus filhos, pois essa aproximação, esse carinho, esse amor, construirão comportamentos assertivos na vida deles’’, pontua o psicólogo Carlos Gonçalves. Gonçalves esclarece que para a criança, o que importa é o momento de interação entre ela e os pais, e não tanto a brincadeira ou o brinquedo utilizado, uma vez que, para ela, tudo pode se tornar lúdico. ‘’A capacidade para imaginar, fazer planos, apropriar-se de novos conhecimentos surge, nas crianças, através do brincar. A criança, por intermédio da brincadeira, das atividades lúdicas, atua, mesmo que simbolicamente, nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelaborando sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes. Ou seja, é através do brincar que a criança permite que o seu mundo imaginário se cruze com o seu mundo real, e esta realidade externa permite-lhe desenvolver competências para aprender a estar em família, a lidar com as suas frustrações, a imitar o outro (a representar, no fundo um papel de mãe, pai, animal, bombeiro, Batman, etc) e a amadurecer no seu desenvolvimento social’’. E é essa interação que os papais de ‘primeira viagem’, Francisca Correia e Damião Correia tem com o seu primeiro filho, Manoel Filipe da Silva Correia, 7 meses. “Desde novinho a gente já interage com ele. Sempre, que estamos juntos aproveitamos o máximo possível, procuramos interagir da melhor maneira, com brinquedos, cantando, soletrando mamãe e papai [rsrs], e incentivando a coordenação motora e principalmente sorrisos. Este momento é a base para que ele cresça sabendo e entendendo que sempre terá obstáculos para superar e sempre terá nosso apoio para realiza-los. E assim, ele será no futuro um pessoa que saberá dar amor ao próximo’’, comenta o casal. [caption id="attachment_332898" align="alignleft" width="169"] Os papais de primeira viagem Damião Correia e Francisca, não perdem um momento com o filho de 7 meses (Foto: Cortesia)[/caption] Quem também sabe da importância desses momentos junto às filhas é a dona de casa Yasmin Carollyne da Silva Santos, que destaca que vira criança quando estar com as meninas. “Sempre que posso procuro cair nas brincadeiras com elas. Tenho duas princesas, uma de 5 anos, a kimberlly Carollyne  e uma de 2 anos,  Jasminy Valentinna e estou grávida novamente. Nossos momentos costumam ser início da noite e fins de semana, quando a família está toda reunida”. Yasmin acrescenta que deixa as filhas escolherem a brincadeira. ‘’Tento brincar de tudo um pouco. Sempre que possível levo elas para passear, conhecer outros tipos de brincadeiras - no parque aos sábados tem várias brincadeiras ao ar livre, que também é momento de interação com outras crianças. Algo que elas amam é dançar, e eu entro na onda” conta pontuando que as  filhas não são ligadas em jogos eletrônicos ainda. Kimberlly e Jasminy contam que amam brincar com a mamãe no quarto dos brinquedos. “Tem um monte de bonecas, é bom, e tem pula-pula’’. Assistente administrativa deixa emprego para ter mais tempo com filho [caption id="attachment_332900" align="aligncenter" width="169"] Assistente administrativa participando do momento (Foto: Acervo pessoal)[/caption] A assistente administrativa, Evellyne Almeida, que também é mãe de primeira viagem decidiu deixar o emprego para passar mais tempo com o filho de um ano e quatro meses. “Nossa presença nesses momentos são fundamentais, é uma pena nem todos os pais poderem acompanhar, por não ter tempo, por trabalhar fora, passar o dia todo longe, muitas vezes acabam perdendo esse elo com a criança, acabam perdendo de participar desses desenvolvimentos, mediante a isso pedi demissão do trabalho para poder acompanhar o crescimento dele, poder a atenção que ele queria e eu não tinha tempo para retribuir, chegava cansada não tinha ânimo para sentar e brincar nem assistir  os desenhos que ele gosta e dançar junto, via a necessidade dele querer praticar conosco esses momentos’’, comenta Evellyne. A mãe do Miguel diz que a renda da família diminuiu, mas, o papel de mãe está sendo feito da forma que tem que ser. ‘’As despesas apertaram, mas o dever de papel se cumprido chega a todo final do dia. Hoje acompanho a cada palavra que ele aprende a cada descoberta. Com as brincadeiras, passamos confiança, interagimos e ele, apesar de pequeno percebe que estamos ali por ele’’. Almeida diz que o pai (Anderson Cleiton), motorista também tira um tempo para participar do desenvolvimento do filho. “Na fase no qual ele está opta mais por musiquinhas para assistir e dançar, brinquedos de montar e carrinhos e tem paixão por trem, tem três trenzinhos que ele adora empurrar e gritar pompom, sempre entramos no ritmo dele e nosso nariz também vira buzina de trem ele costuma apertar e gritar pompom. É uma alegria partilhar estes momentos’’. [caption id="attachment_332902" align="aligncenter" width="300"]  Anderson Cleiton também sabe da importância de participação (Foto: Acervo Pessoal)[/caption] Outro que está em todos os momentos com a filha é o artista plástico, músico e fotógrafo, Paulo Caldas, diz que não para de brincar com a filha. “Estamos juntos em todos os momentos. “Jogamos baralho, dama, dominó com verdadeira intensidade. Brincamos em todos os momentos. Importantíssimo esse momento, minha filha tem um largo campo onde desenvolve sua criatividade livremente’’. ‘’Convívio deve ser diário’’, diz psicólogo O psicólogo Carlos Gonçalves diz que 50% dos pais afirmam não terem tempo para brincar com os filhos e 84% das famílias recorrem ao uso de tablets, mas ele pontua que as crianças  precisam que os pais encontrem tempo em suas agendas para as brincadeiras, mesmo que por apenas 15 minutos diários. “Interessante como uma boa parcela dos pais (jamais podemos generalizar, pois alguns pais já entendem a importância dessa interação com seus filhos), mas o fato é que a maioria só lembra que filhos precisam desse convívio quando se aproxima o Dia das Crianças, e esquecem que essa relação tem que ocorrer em todos os outros dias do ano. O dia a dia de trabalho dos pais estão cada vez mais corridos, isso é fato, com metas mais apertadas e exigências maiores. No entanto, as crianças também começam a sentir essa pressão desde cedo. Com agendas cheias de atividades extracurriculares e cada vez mais conteúdos didáticos nas aulas, é difícil, para os pequenos, encontrarem tempo para brincar, e a situação só piora quando falamos de momentos de diversão entre pais e filhos’’, comenta Gonçalves. [caption id="attachment_332903" align="aligncenter" width="300"] Psicólogo Carlos Gonçalves diz que 50% dos pais afirmam não terem tempo para brincar com os filhos (Foto: Cortesia)[/caption] Ele diz ainda que nos dias de hoje, os pais preocuparem-se muito se os filhos estudaram ou não, mas são raros os que se inquietam se os filhos brincam sem perceberem que nenhuma criança pode ser feliz sem brincar e não desenvolverá todo o seu potencial se a brincadeira não fizer parte da sua vida. Para a pedagoga, Cláudia Cristina Rêgo Almeida, infelizmente, tem se observado que não é raro os pais fazerem mais para os filhos do que com os filhos. ‘’Os brinquedos caros podem ter importância, mas as lembranças mais marcantes para as crianças são muitas vezes dos dias que andaram na chuva com seus pais, que construíram ou consertaram um brinquedo juntos ou quando conversaram, ouviram histórias ou brincaram durante um período de interrupção de eletricidade. Isso é o que constrói memórias afetivas. As famílias ganhariam se considerassem no seu cotidiano tempos e espaços para os jogos e para as brincadeiras. Estas atividades são excelentes para que interações sejam estabelecidas entre pessoas de diferentes idades. O fato dos idosos poderem ensinar e/ou participar de brincadeiras, jogos tradicionais e até mesmo fazer uso dos brinquedos eletrônicos com as crianças, adolescentes e demais adultos da família estimularia a sua autoestima’’. Rêgo  concorda  ainda que este momento aproxima os filhos dos pais. “Além disso, fortaleceria os vínculos afetivos entre os envolvidos e a apreciação uns pelos outros. Através dessa troca nas experiências lúdicas, as crianças e os jovens aprenderiam sobre a sociedade, o mundo em que vivem, que constroem e que modificam. Os adultos e idosos, por sua vez, ampliariam a sua visão de mundo, e talvez, voltariam o olhar sobre as coisas com a alegria das crianças’’. [caption id="attachment_332904" align="alignnone" width="300"] O artista plástico, músico e fotógrafo, Paulo Caldas, diz que não para de brincar com a filha (Foto: Arquivo Pessoal)[/caption]