Cidades

Manchas deixam turismo em alerta

Municípios como Coruripe, Piaçabuçu e Maragogi, apesar de não terem contabilizado prejuízos, confirmam a preocupação

Por Lucas França com Tribuna Independente 11/10/2019 09h24
Manchas deixam turismo em alerta
Reprodução - Foto: Assessoria
Com causa indefinida até o momento, um vazamento de petróleo cru que compromete mais de 2.100 quilômetros do litoral do Nordeste, está manchando cartões-postais da região. A lista de locais atingidos pela substância química não para de crescer, causando prejuízos ainda não calculados que podem afetar o turismo e consequentemente a economia nas cidades atingidas. Em Alagoas, o turismo está em alerta porque muitas das cidades do litoral vivem do setor. Os municípios de Coruripe e Piaçabuçu, os mais afetados até o momento, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis no Estado (Ibama/AL), já sofre com perdas no setor,  de acordo com os órgãos das cidades. Na cidade de Coruripe, os prejuízos ocorrem nas áreas de turismo (hotelaria, bares e similares), pesca (queda na renda) e principalmente no meio ambiente (mortalidade da fauna e da flora). Como providência, o município entrou em contato com os órgãos das esferas federal e estadual, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Na cidade de Piaçabuçu, a situação é parecida. O secretário de Meio Ambiente e Turismo da cidade, Otávio Augusto, que vem acompanhando os trabalhos de monitoramento, disse que o piche já traz consequências. “Além das manchas localizadas em trecho da praia, foi encontrada na Foz do Rio São Francisco pequenos volumes da substância e achadas duas tartarugas cobertas de óleo’’. Além dessas cidades, o material que não é produzido e nem comercializado no Brasil, segundo a Petrobras, ‘mancha’ os cartões-postais como a Praia do Futuro, no Ceará, e Maragogi, em Alagoas, e deixa o setor turístico da região em estado de alerta. “Como você vai atrair visitantes para uma região que está sendo afetada por uma substância química?”, lamenta o presidente da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais do Turismo, Elzário Pereira, acrescentando que o turista é atraído principalmente pelo litoral do Nordeste. ‘’Apesar de outros atrativos, o sol e a praia são os mais fortes. Certamente acontecerão mais cancelamentos de viagens”. Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Alagoas (Sedetur) ressalta que apesar do estado ser um dos menos afetados, as prefeituras das cidades do litoral já identifica perdas. “Ainda que de maneira sucinta - certo impacto na atividade turística já está sendo visto. De qualquer forma, lamentavelmente, o meio ambiente é o segmento que tem sido mais atingido por essa situação. Sentimos muito pelo ocorrido e esclarecemos que estamos acompanhando de perto o trabalho dos órgãos ambientais responsáveis, para que possam identificar o culpado, puni-lo e encontrar a resolução mais viável para redução de danos da forma mais célere possível’’. ÁREAS Somente no estado já são 17 áreas com registros do piche. Até o momento, segundo o Ibama, são 10 municípios do litoral de Alagoas atingidos. As manchas que começaram a surgir no início de setembro, no litoral nordestino, já atingiu 138 áreas de 62 cidades dos nove estados do Nordeste. Técnicos de órgãos ambientais monitoram possível agravamento na foz do rio São Francisco. Segundo Ricardo César, coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA, por enquanto será mantido a atenção. “Nós estamos em comunicação permanente com os outros órgãos ambientais existentes em Alagoas e nos outros Estados, mantemos a comunicação também com as prefeituras. Estamos todos em alerta para caso haja a necessidade de medidas para conter o avanço de manchas”. “Material pode permanecer ativo durante muito tempo”   O oceanógrafo, Gabriel Le Campion, explica que se não monitorado essas manchas continuadamente a fim de se colocar barreiras de proteção flutuantes em regiões estuarinas caso o petróleo ameace atingi-las, danos pode ser irreversíveis. “Contaminação por substâncias tóxicas muitas delas cancerígenas vai causar morte dos organismos plantronics e nectonicos, como peixes, mortes de répteis e mamíferos aquáticos, de aves marinhas, no estuário vai matar as ostras, caranguejos e vai permanecer ativo no ambiente durante muito tempo liberando substâncias tóxicas. A maioria delas, hidrocarbonetos. Nos estuários principalmente nos manguezais o petróleo vai aderir às raízes das plantas e a vegetação, e aí, vai ser mais difícil ainda de ser removido’’. E esses prejuízos para os animais marinhos já começaram. Em todo o Nordeste, já são 22 animais encontrados, afetados pelo óleo. Três deles estavam em Alagoas, nos municípios de Feliz Deserto e Coruripe. Todos eles eram tartarugas marinhas. Até agora apenas uma delas não resistiu, as outras duas continuam vivas e em recuperação. O especialista explica que é improvável o material ter vindo da Venezuela. “O petróleo vir da Venezuela transportado por correntes é muito difícil. A origem provável do petróleo é um derramamento por navio que pode ser acidental ou criminoso. Se observar na figura, o petróleo para chegar ao litoral das praias do Norte do Nordeste, como Ceará, é preciso que tenha sido despejado antes da bifurcação da corrente sul equatorial. Ou seja, distante da Costa. Se tivesse vindo diretamente da Venezuela teria afetado as praias do Norte do Brasil antes de chegar ao Nordeste caso isso fosse possível. E teria que vir de uma contra corrente, outro fato que seria raríssimo.”