Cidades

Mais barata que seguro, proteção veicular pode virar prejuízo

Modelo divide custos dos sinistros entre associados, mas sem garantias futuras como as oferecidas pelas seguradoras convencionais

Por Evellyn Pimentel e Lucas França com Tribuna Independente 05/10/2019 10h36
Mais barata que seguro, proteção veicular pode virar prejuízo
Reprodução - Foto: Assessoria
Acidente, colisão, roubo... Estes são verdadeiros pesadelos para proprietários de veículos. E é pela necessidade de “proteção” que muitos buscam seguros automotivos. Entretanto, uma categoria de menor custo, tem ganhado força: a proteção veicular. Mas será que realmente a economia compensa? Para especialistas consultados pela Tribuna Independente, vale o adágio popular: o barato sai caro. O corretor Ailton Júnior é especializado em seguros automotivos e afirma que a modalidade de proteção veicular apresenta riscos a quem contrata pela falta de segurança jurídica. “Seguradora é uma coisa e proteção veicular outra. Para se ter uma ideia para a Susep autorizar a abertura de uma seguradora é necessário um aporte financeiro de R$ 250 mil. Isso só para atuar no Nordeste, por exemplo. Só para garantir a análise e possível liberação. Associações e cooperativas não. Tanto é que semana passada no Rio de Janeiro e São Paulo foram fechadas umas, veículos nas oficinas sem conserto deixando ‘n’ associados de mãos atadas porque não se tem a quem recorrer. Não tem como recorrer”, pontua. [caption id="attachment_331478" align="aligncenter" width="300"] Especialistas alertam que é melhor optar por um seguro veicular mais barato do que ficar desprotegido (Foto: Edilson Omena[/caption] Na prática, a Proteção Veicular é um fundo, administrado por uma associação devidamente legalizada e registrada, em que os associados dividem entre si os custos mensais dos eventuais acidentes. Para Ailton Júnior, a prática pode ser configurada como pirâmide financeira. “Eles estipulam um valor que acham que vai dar para pagar. Enquanto estiverem pagando, eles acham que vai dar para arcar com os sinistros. Quando há o sinistro, eles dividem o prejuízo entre os associados. No caso isso se torna até uma pirâmide financeira, que é ilegal também. Eles usam essas artimanhas porque a partir do momento que você se torna associado e ela venha a quebrar ou não arcar com seu prejuízo, você não tem como acionar judicialmente ou está implicado por ser participante daquilo”, avalia Ailton. Diante do crescimento do número de veículos e, por consequência, dos riscos enfrentados pelos condutores, as cooperativas ou associações de proteção veicular despontam como alternativa ao seguro convencional, mais caro e com regras rígidas. A proteção funciona geralmente por meio de associação de crédito. Os beneficiários pagam valores mensais para cobertura de eventuais problemas. É um sistema de rateio, onde se divide, de uma forma direta, os custos dos chamados sinistros (roubo, furto, colisão, enchente, e outros) dos associados, de forma que, caso algum associado enfrente algum tipo de contratempo coberto pela proteção veicular, seja atendido de maneira facilitada. “Contratações são por conta e risco”, afirma corretor Mas a “facilidade” pode se tornar uma armadilha. É o que afirma o corretor Ronaldo Homero.  Embora trabalhe captando clientes para adesão à proteção veicular, ele afirma que é importante o contratante analisar bem suas necessidades. Mas pontua que os condutores devem fazer uma avaliação e procurar o que mais se encaixa em seus desejos de proteção para o automóvel. Diferente do seguro convencional, neste tipo de contratação são aceitas todas as marcas, independente do ano de fabricação. Este acaba sendo um atrativo ainda maior - além do preço -, porque muitos seguros não cobrem veículos com maior tempo de uso. A proteção pode ser pedida para moto, caminhão ou automóvel. Os contratos são por tempo ilimitado, a valores fixos, e muitas dessas cooperativas incluem táxis e motoristas por aplicativos. “Bom lembrar, que todas são conta e risco. Faço a captação, porém indico fazer uma cotação por uma seguradora e só depois fazer os comparativos de segurança e garantias para que no futuro não tenha arrependimentos’’, lembra Ronaldo Homero. “Seguro convencional é a melhor opção”, dizem economistas Na avaliação de economistas, vale a pena investir em uma apólice que garanta cobertura contra riscos e oferte mais proteção jurídica para os envolvidos. O economista Emanuel Lucas de Barros, não há como avaliar genericamente se a diferença é boa ou ruim, tem que ser analisado cada caso. “Pois o valor do seguro pode não caber na cesta de escolha do consumidor. Ou seja, na hora de escolher o seguro, tem que avaliar se a prestação cabe no bolso. Essa é uma análise que tem que ser feita inclusive na hora de adquirir o veículo. De todo modo, antes de fechar contrato devem ser avaliados todos os riscos associados ao negócio que está sendo fechado. Avaliação da empresa gestora, ouvir outras pessoas que já tenham aquele seguro é um bom caminho a ser iniciado’’. O economista dá um  exemplo e diz que o cliente tem que pesquisar para saber com o que poderá contar futuramente. “Você possui um carro que o seguro tradicional avalia no valor de R$ 3 mil, dividido em seis parcelas de R$ 500. Porém, você faz seu planejamento financeiro e vê que só teria como disponibilizar R$ 300 mensais para o seguro. Nesse caso, só restam duas possibilidades: 1 - ficar sem seguro; 2 – partir para proteção veicular. Porém, se há a possibilidade do seguro, e este oferecer mais vantagens e segurança, poderá ser a melhor opção’’. Barros ressalta que a dica é o consumidor ter ciência do que está contratando, para na hora que ocorra um sinistro saber com o que poderá contar. O também economista Allisson Nascimento avalia que o seguro convencional é a melhor opção. “Pagar por um seguro de uma seguradora mais consolidada, apesar de ser mais caro, dá mais segurança ao consumidor”, diz acrescentando que a proteção veicular pode ser usada em casos de aperto financeiro. “Vale a pena pagar por um seguro mais barato. Ruim é ficar sem seguro’’. Isso porque a análise de valor da contratação de serviços é baseada apenas na tabela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) do veículo, sem exigências de perfis dos condutores, por exemplo. Além disso, diferente do seguro convencional, neste tipo de contratação são aceitas todas as marcas, independentemente do ano de fabricação. Em contrapartida, o seguro auto, segundo Ailton Júnior, além de estar avalizado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) autarquia da União, ainda oferece diversos benefícios. “São ‘n’ benefícios. Tem a cobertura básica colisão, incêndio, roubo e danos da natureza. A cobertura de terceiros, um bem de terceiros, automóvel e muro e assistência 24 horas, que dentro dela têm várias coberturas que se pode utilizar. A maioria das seguradoras sem nenhum custo adicional oferece outras proteções que cobrem guincho, troca de pneu, pane seca, chaveiro, atrelado a assistência 24 horas para residência da linha branca por exemplo”, detalha Ailton Júnior. [caption id="attachment_331477" align="aligncenter" width="300"] Especialistas apontam que é mais seguro investir em apólice que garanta cobertura contra riscos, como o de acidentes, e oferte mais proteção jurídica (Foto: Adailson Calheiros / Arquivo)[/caption] USUÁRIOS Os condutores Neurivan Rodrigues e Júlio Cézar aderiram aos serviços de proteção veicular pelo baixo custo. Segundo eles, fizeram uma pesquisa no mercado e escolheram uma que já tem nome na “praça” e nunca tiveram problemas. “Contratei uma já conhecida, e fiz logo a pesquisa para saber a situação da empresa. Até o momento nunca tive problemas com os serviços prestados por ela”, pontua Rodrigues. Mas vale ressaltar que quem optar por este tipo de proteção deve estar atento as diferenças e necessidades. Frota de veículos cresce a cada ano e os riscos também Segundo estimativas do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-AL) na capital alagoana são 25 novos veículos por dia em circulação. A frota ultrapassou a marca de 800 mil veículos este ano. As vendas de veículos novos - automóveis e comerciais leves registraram crescimento de 10%, de janeiro a setembro deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo dados divulgados no dia 2 de outubro, pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), foram vendidos 11.189 unidades nesse período, contra 10.170 comercializadas em 2018. Já em relação aos crimes relacionados a veículos, dados da Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP-AL) apontam que mais de 3.300 veículos foram roubados no estado durante todo o ano de 2018. A responsável pela Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos e Cargas (DRFVC), Maria Angelita confirma o crescimento nas estatísticas. “Mesmo com o crescimento registrado no ano passado desses veículos roubados e furtados, a delegacia consegue recuperar boa parte dos carros e motos roubados. A recuperação desses veículos está acima dos 80%, ou seja, temos um grande índice de recuperação”, explica. Já o custo estimado dos acidentes de trânsito em Alagoas, no ano passado, chegou a R$ 270 milhões segundo o Detran. Entre janeiro e maio deste ano, foram 1.103 atendimentos do Samu relacionados a acidentes e colisões. Isto sem contar com os acidentes que não produziram vítimas. Só nas BR’s do estado, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram 696 em todo o ano de 2018.