Cidades

“Eles querem tapar o sol com uma peneira”

Abel Galindo contesta informações da Universidade de Houston apresentadas pela Braskem sobre o Pinheiro, Bebedouro e Mutange

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 28/09/2019 08h05
“Eles querem tapar o sol com uma peneira”
Reprodução - Foto: Assessoria
No início deste mês, a petroquímica Braskem divulgou informações de relatório produzido pela Universidade de Houston que põe à prova os estudos realizados pelo Serviço Geológico do Brasil nos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange. Durante esta semana, o pesquisador Abel Galindo, que desde 2010 vem estudando os fenômenos na região, procurou a reportagem da Tribuna Independente e se posicionou sobre o assunto. Para ele, é preciso “prova incontestável” de que não há relação do processo de afundamento com a extração de sal-gema.   Tribuna Independente – Dentre as afirmações dos pesquisadores da Universidade de Houston,  apresentadas pela Braskem, está a de que houve falha na interpretação dos dados obtidos pelos estudos da CPRM. Como o senhor avalia isso? Abel Galindo – O que esse pessoal de Houston disse, qualquer pesquisador com alguma base em geomecânica e geotecnia diria. Dizer que os trabalhos da CPRM carecem de mais aprofundamento isso é banal. Informações amplas sobre os elementos fundamentais como os parâmetros de resistência de todas as rochas que situam-se acima da camada salina é um ponto importante que ainda não se tem. Nada que foi dito nessa matéria livra a Braskem de sua responsabilidade nesse problema do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Essa matéria [relatório] parece com argumentos de advogados. Eles querem tapar o sol com uma peneira. Isso é ridículo. Tribuna Independente – Há um ponto de concordância entre a sua opinião e a análise dos pesquisadores de Houston: a necessidade de aprofundamento dos estudos. O que poderia ser feito para encontrar a prova “irrefutável”? Abel Galindo - Sabemos que o relatório da CPRM foi elaborado em ritmo emergencial e por isso tem alguns pontos a serem melhorados. Mas desqualificá-lo completamente isso é inadmissível. Na minha opinião, o governo federal deveria contratar os melhores profissionais do mundo em geotecnia,  Geomecânica das Rochas Salinas e os maiores especialistas em minas de sal. Afinal são muitos bilhões de dólares em questão. Tribuna Independente – Qual seria então a sua opinião em relação ao relatório? Abel Galindo – Por que eles não provam de forma contundente e incontestável que a extração do sal-gema não tem nenhuma relação com as rachaduras? Porque eles não falam sobre a tectônica salina? Eles deveriam realizar investigações geofísicas e muitos ensaios de campo e de laboratório para apresentar um estudo conclusivo bem embasado. Dizer que a deformação na superfície do Pinheiro seria de um máximo de 0,6cm se ocorresse um colapso,  isso não é novidade pois eu tenho dito que a deformação vertical é desprezível. O que está ocorrendo é deformação horizontal. Tribuna Independente – Ainda segundo os pesquisadores da Universidade de Houston, o tremor de 2,4 graus na escala Richter registrado no dia 3 de março de 2018 teria origem natural.  O que dizem seus estudos? Abel Galindo - Eles dizem que a forma da onda do sismo do dia 3/03/2018 é típica de sismo natural porque é de deslocamento de uma grande massa. Ora, mas quem provocou esse deslocamento? O que diz a literatura mundial sobre a indução de sismo decorrente da tectônica salina e poços profundos? Gostaria que eles provassem que no trecho entre o campo do CSA e a Casa de Saúde Miguel Couto, uma larga faixa de terra que vai da antiga margem da Lagoa Mundaú até os fundos da antiga Casa da Família Dr. José Lopes , não ocorreu  subsidência de até 2 metros (ou mais).