Cidades

'Manchas no litoral são petróleo cru'

Material que atingiu litoral alagoano e mais 7 estados do NE não é brasileiro, diz Petrobras; origem deve ser esclarecida em 20 dias

Por Lucas França com Tribuna Independente 27/09/2019 09h19
'Manchas no litoral são petróleo cru'
Reprodução - Foto: Assessoria
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Marinha do Brasil, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Institutos de Meio Ambientes Estaduais e a Polícia Federal estão investigando de onde vêm as manchas escuras que apareceram em mais de 1.500 quilômetros do litoral nordestino. Mas, de acordo com análise feita pela Petrobras, trata-se de petróleo cru, que não é produzido no país nem comercializado por eles. Em Alagoas, o material apareceu em 14 pontos ao longo do litoral. Os casos mais recentes do aparecimento do petróleo cru foram identificados nesta quinta-feira (26), na Praia da Lagoa do Pau, em Coruripe, Litoral Sul do estado e na Praia da Sereia, no Litoral Norte. No Nordeste, apenas os estados da Bahia e do Piauí não foram afetados segundo levantamento do Ibama divulgado na quarta-feira (25). Mas nesta quinta, sites de notícias davam conta de que o Piauí também havia sido atingido em dois pontos. O diretor de controle de fontes poluidoras da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), que estuda o problema desde o início de setembro, Eduardo Elvino, diz que será possível dizer com precisão onde ocorreu o vazamento ou o descarte do óleo em até 20 dias. CASOS Em fotos e vídeos divulgados nas redes sociais, comerciantes da região mostram a quantidade do produto. Segundo eles, a maré está enchendo e a quantidade de pedaços do produto já preocupa, devido a adesão a areia da praia e ao corpo dos banhistas. As primeiras manchas foram identificadas no dia 2 de setembro, nos Estados do Ceará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. Por aqui, em pelo menos três praias de Maceió foram identificadas as manchas escuras no dia 17 de setembro: Ponta Verde, Jatiúca e Guaxuma. Além delas, no Litoral Norte, na região da Costa dos Corais, o problema foi percebido em Japaratinga e Maragogi. Mas, segundo o levantamento do Ibama, foram registrados em outros pontos:   na Praia do Carro Quebrado, em Passo de Camaragibe; na Praia do Francês, em Marechal Deodoro;  na Barra de São Miguel (AL); no Loteamento Encontro do Mar, em Marechal Deodoro; na Barra de Santo Antônio; em dois pontos da Praia do Gunga, em Roteiro; e em Paripueira. Até o momento, o petróleo cru já atingiu 46 cidades em oito estados da região. De acordo com o Ibama, a maior parte (41%) está no Rio Grande do Norte. Há hipótese é de que o material seja resíduo da limpeza ilegal de tanques de navios, já que o mesmo deve ser recolhido por empresas especializadas para ser levado a estações de tratamento ou comercializado para indústrias de reaproveitamento. Os órgãos ambientais estão investigando a situação. Ricardo César, coordenador de Gerenciamento Costeiro do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL) disse que todo o material está sendo coletado e encaminhado para as analises. “Ainda não se sabe a origem e nem de onde vem. Possivelmente foi o despejo de embarcações de forma errada. Estão envolvidos na investigação a Polícia Federal, Marinha, órgãos estaduais de todos os estados afetados, Ibama e várias universidades”. Uma investigação do Ibama aponta que o produto têm a mesma origem, mas ainda não é possível afirmar de onde está vindo. A Marinha enviou material para o Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira, no Rio de Janeiro, mas não havia resultados até esta quinta. Prejuízos vão desde danos ambientais a econômicos, diz oceanógrafo   O oceanógrafo, Gabriel Le Campion acredita que o piche deve ser resquício do despejo por navio, e a corrente marinha arrastou para a praia. Ele ressalta que produto traz alguns impactos ambientais. “O impacto pode afetar desde aves marinhas, como tesourões e gaivotas, até repteis como tartarugas. Se chegar a regiões recifais estuários e manguezais, o dano pode ser maior principalmente para os animais bentônicos (ostras, mexilhões, crustáceos como caranguejos)’’. Já para o ser humano, Le Campion explica que o produto traz apenas um inconveniente. “Somente de grudar na pele que pode ser removida por outras substâncias oleosas menos tóxicas para a pele como óleo de soja. Evitar usar gasolina ou óleo diesel para remover, pois estes são muito agressivos a pela’’. Em Alagoas, ainda não foi identificado oficialmente animais marinhos encalhados por conta do produto. Já em outros estados, material já atingiu cerca de nove tartarugas e uma ave bobo-pequeno ou furabucho (Puffinus puffinus), conhecida pela longa migração. Segundo o Ibama, uma das tartarugas foi devolvida ao mar e outra foi encaminhada a um centro de reabilitação. Sete tartarugas foram encontradas mortas ou morreram após o resgate. A ave também não resistiu ao óleo. Via redes sociais, populares compartilham vídeos e fotos dos animais cobertos por óleo negro. A recomendação dos órgãos ambientais é que, nestes casos, a população acione os órgãos competentes para que os animais sejam avaliados antes de devolvidos ao mar. TURISMO Por outro lado, os prejuízos econômicos podem ocorrer em todas as cidades atingidas.  Até o momento não foi feito um levantamento geral dos danos para o setor do turismo no estado, por exemplo. Mas, de acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Coruripe, os prejuízos já ocorreram nas áreas de turismo (hotelaria, bares e similares), pesca (queda na renda) e principalmente no meio ambiente (mortalidade da fauna e da flora). Como providência, o município entrou em contato com os órgãos das esferas federal e estadual. “No momento, aguardamos respostas sobre a origem do material para, em parceria com esses órgãos, executar as medidas cabíveis. O IMA e o Ibama  estão cientes do ocorrido no município e a informação, até o presente momento, é que o material encontrado trata-se de petróleo bruto, não de origem brasileira’’, pontua a nota.