Cidades

Pais de “primeira viagem” relatam experiências e sensações

Estreia na paternidade gera incertezas, medo, mas, segundo eles, produz também amor inexplicável

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 10/08/2019 09h34
Pais de “primeira viagem” relatam experiências e sensações
Reprodução - Foto: Assessoria
A estreia na paternidade pode gerar um turbilhão de sentimentos e sensações, desde a insegurança até a euforia. Para os pais de “primeira viagem” entrevistados pela Tribuna Independente, a paternidade foi um divisor de águas, tanto para o amor quanto para as responsabilidades. Medo e incertezas de um lado, realização e amor incondicional do outro. Wallace Bruno, de 25 anos diz que a experiência de ser pai é “meio que inexplicável”.  Ele afirma que ao descobrir a gravidez da pequena Eloá de 10 meses o primeiro sentimento foi de preocupação por não saber como deveria agir. Mas ele afirma que com a filha ele encontra “respostas” para os problemas diários. “A experiência de ser Pai pra mim é algo meio que inexplicável... Pensei não estar preparado pra ser pai. Quando soube que seria fiquei imaginando o que fazer, como deveria agir e como seria. Os dias correram e os meses passaram e, enfim, no dia 6 de setembro de 2018 minha pequena Eloá veio ao mundo. Graças a Deus,  num parto normal sem fortes emoções. Quando vi aquele rostinho pela primeira vez fiquei tão comovido que comecei a chorar. Para ser bem sucinto eu pensei que fosse bem mas fácil, mas o interessante é que quando penso que está difícil chego em casa e vejo aquele sorriso maravilhoso e sinto que todas as minhas baterias foram recarregadas” [caption id="attachment_319656" align="aligncenter" width="228"] Para Fernandes, as mudanças com a chegada de Gabriel foram “impactantes” (Foto: Arquivo pessoal)[/caption] Também de “bateria recarregada”. É como se sente Fernandes Vieira Neto de 30 anos, pai de Gabriel de 1 ano. Para ele, as mudanças com a chegada do filho foram “impactantes”. “É uma sensação única, um amor inexplicável. Mudança de rotinas, de hábitos... É passar o dia de trabalho e estresse e, quando chegar em casa, ter aquele sorriso sincero te esperando. Isso não tem preço. É como carregar as energias e esquecer o mundo. Todos os dias é uma nova descoberta. Eu não sabia segurar bebê, tinha medo de pegar, mas com meu filho eu nunca tive esse medo, ao chegar em casa fui o primeiro a dar banho nele - minha esposa tinha medo –,  (risos).” PEQUENO MILAGRE Pai de João Pedro de 2 anos, Ezequiel Bittencourt conta que sua realização de vida foi ter se tornado pai. O menino é um pequeno milagre, já que Ezequiel tinha um problema de saúde que dificultava o sonho.  Agora, segundo ele,  o milagre é celebrado constantemente. “Ele foi um presente de Deus na minha vida. Já tinha tentado várias vezes e não tinha conseguido. Era meu sonho ser pai. Antes dele nascer, fui ao médico e descobri que tinha um problema que dificultava e que precisaria de tratamento. Aquilo para mim foi um choque. Chorei e pedi a Deus que me desse a oportunidade de ser pai, que era meu sonho. Um mês depois minha esposa fez o teste e descobriu que estava grávida. Aí foi só felicidades. Até hoje eu me deparo e fico feliz, levo  choque de realidade que sou pai. Várias noites eu ficava colocando a mão na barriga, para sentir. Mesmo ele com dois anos ainda me vejo acordando para ver se ele está respirando”, detalha. [caption id="attachment_319657" align="aligncenter" width="300"] Ezequiel diz que seu filho João Pedro é um milagre celebrado todos os dias (Foto: Arquivo pessoal)[/caption] Para o jornalista João Mousinho, a paternidade ainda é algo abstrato. A esposa dele está grávida de 8 meses de Maria Helena. Pai de primeira viagem, ele afirma que a revelação do “estamos grávidos” foi um susto “por mais que uma relação afetiva tenha estabilidade é uma nova responsabilidade para vida do casal, um novo recomeço de atribuições”. “Imagine no mundo célere que vivemos ter que esperar quatro meses para saber o sexo da criança? Ou seja, a gravidez, essa vida que vai se construindo cheia de amor é algo que vai na contramão do que vivenciamos em nosso dia a dia. É um momento único que mescla ansiedade, insegurança e curiosidade”, afirma. Na reta final da gestação, ele diz que a fase agora é de ansiedade e últimos preparativos. “Eu e Cláudia, minha esposa, estamos com tudo organizado em casa, porque ela decidiu pelo parto normal, humanizado, o que deixa a expectativa ainda mais eletrizante, não havendo data programada como é no parto cesárea”. Antes mesmo da chegada da pequena, João afirma que irá comemorar o Dia dos Pais com toda a família, numa espécie de preparação para o ano que vem.  “Ser pai alegra as relações e oxigena o seio familiar. Vamos fazer algo que não fazíamos há alguns anos, nos renuir e celebrar”. E brinca: “Quero que Maria Helena não esqueça do presente (risos).” Relação paterna precisa de dedicação e exercício, destaca psicólogo O psicólogo Carlos Gonçalves pontua que diferente da relação quase que instantânea de mãe e filho, porque envolve hormônios e a própria gestação de um ser,  a relação paterna é uma relação construída e que precisa de dedicação e exercício diário. “É uma relação de construção. O fato de ser pai de primeira viagem, pode assustar alguns homens que acham que não estão preparados para isso. Vem o medo, a insegurança, às  de incertezas. Mas as proximidade do pai com a criança após o nascimento é um exercício de perda desse medo e enfrentamento de uma nova realidade. O ideal é deixar se contaminar pelo amor, beijar, abraçar, troçar fraldas, dar banho, pegá-lo no colo, aproveitar esse período fascinante na vida do ser humano”, avalia. Gonçalves comenta que em muitos casos a “ficha cai” realmente com o nascimento do bebê, quando o abstrato passa a ser concreto. “Muito se fala sobre o vínculo mãe e filho, um elo forte que começa lá na gravidez. A mulher sente dentro dela uma vida pulsando, crescendo. Nós pais não sentimos essas mudanças físicas da gestação. Para muitos, pois não podemos generalizar, cada ser humano é único, ser pai é uma realidade que, muitas vezes, só acontece quando a criança nasce, pois ele se torna um pouco espectador do processo. No meu caso, quando fiquei sabendo que iria ser pai, a minha sensação foi de ser invadido por um amor que já estava germinando, a minha gestação veio através dos meus pensamentos, da imaginação de como seria a carinha desse ser humano, os gostos etc. lembro que minha primeira providência foi comprar um urso rosa, pois eu já sentia na minha gestação que seria uma menina. E assim foi. Falo isso pois estamos falando de formas, sensações e percepções diferentes. Mas é  fato que os pais hoje estão mais participativos, em todos os sentidos. Na barriga ele já conversa com o bebê, passa óleo na barriga da mamãe, canta, e a criança já sente essa aproximação, a voz. É uma relação construída durante os 9 meses”, ressalta.