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Café ganha mais sabor com ingredientes especiais

Versão gourmet ganha cada vez mais espaço no mercado, mas alagoanos ainda optam mais pelo tradicional, dizem empresários do setor

Por Lucas França com Tribuna Independente 01/06/2019 08h45
Café ganha mais sabor com ingredientes especiais
Reprodução - Foto: Assessoria
Segundo uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), o mercado de cafés gourmet no Brasil cresceria 19% em 2018. Entre cafés em grãos, torrado, moído e em cápsulas, a BSCA esperava vendas equivalentes a 705 mil sacas e movimento no varejo de R$ 2,6 bilhões, montante 23% maior do que em 2017. E pelo visto, a projeção deve continuar subindo se depender dos brasileiros. A bebida é preferência nacional – a segunda mais consumida, perdendo apenas para a água. Em Alagoas, os empresários do setor são categóricos em dizer que o cafezinho faz parte do dia a dia de quem passa em frente a uma cafeteria. Apesar do crescimento do café gourmet, os alagoanos acabam optando pelo tradicional expresso. “As pessoas passam por aqui e já sentem o aroma. Muitas ficam admiradas com os cafés especiais. Mas, o tradicional é o mais vendido. Maioria opta pelos os cafés expressos”, conta Cristina Sellos de Oliveira, proprietária de  uma  franquia de cafeteria localizada em um dos shoppings da capital. Cristina e seu esposo Mário Cabral de Oliveira disseram que a cafeteria sempre está lançando novidades, utilizando, claro, o café como a matéria-prima. “Temos lançado novidades que vêm de outros países. Como o café gelado, por exemplo, que está entre os mais vendidos”, comentam. Ambos apontam variedade como atração para os clientes. “Apesar de o expresso ser o mais vendido, existe uma boa procura por cafés especiais. Temos públicos diversos e isso vai do gosto de cada cliente. A gente acaba tendo um cardápio variado. É café com os adicionais de chantilly, doce de leite etc”. E pelo visto, a receita dos empresários vem dando certo. O casal disse que entre os cafés especiais o mais vendido é que leva nos ingredientes o café, leite, chocolate e chantilly – o famoso Cappuccino Reale. Ele pode ser servido quente ou gelado e é uma das atrações da casa entre os cafés gourmet. “Não fizemos a proporção de quantos cafés especiais vendemos ao dia, mas temos uma média geral de vendas do produto. Aqui, durante a semana sai em entre 60 a 80 cafezinhos ao dia. Já nos fins de semana, a procura é maior. São cerca de 200”. Sendo uma das bebidas mais consumida no país, uma xícara de café bem produzida pode ser a melhor companhia em diversos momentos: desde madrugadas de trabalho, passeio e até conversas apaixonadas. O empresário Alexandre Wanderley disse que não tem como rejeitar a bebida. “Eu costumo tomar um cafezinho expresso, geralmente acompanhado com um lanche. Tomo duas xícaras por dia. Em casa, tomo o café normal. Mas também às vezes tomo sem acompanhamento”. Quem também não consegue ficar um dia sem o sabor do café, é a advogada Ariana Barros. “Um advogado não fica sem café. Pra mim já é um vício. Amo o café tradicional, expresso. Mas confesso que às vezes opto por um especial”. CURIOSIDADE Segundo os empresários, não há como dispensar a água com gás antes de saborear o café. “Acredito que muitas pessoas não sabem, mas especialistas e amantes de cafés não são leigos nisto. A água com gás faz parte do momento - ela serve para limpar o paladar para o gosto do café ficar acentuado. Os donos de cafeteria ensinam isso até nos cursos”, explica. [caption id="attachment_304042" align="aligncenter" width="640"] Empresário Alexandre Wanderley não consegue dispensar a bebida: ‘Tomo duas xícaras por dia, geralmente acompanhado de um lanche’ (Foto: Edilson Omena)[/caption] Cafeteria comercializa uma média de 100 cafés por dia   De acordo com a empresária Daniela David, que há mais de 13 anos tem uma cafeteria, é complicado falar de quantidades de cafés vendidos. “É um pouco injusto falar em números. Há três anos a procura era muito maior, em minha opinião. Hoje estamos operando com cerca de 30% a menos. Mas, mesmo assim, analiso como constante crescimento”. Daniela afirma que no seu estabelecimento são produzidos em média cerca de 100 cafés diariamente. “Acredito que é um número bom”. A empresária disse que não existe uma idade em relação a quem consome mais café especial ou quem opta por tradicional. “É uma questão de gosto! A minha análise é assim: expresso é mais comum os homens pedirem. Já as mulheres preferem pedir um cappuccino. Engraçado, eles pedem o café mais forte – muitas vezes com acompanhamentos ou adicionais. Elas optam pelos cafés estéticos – com chocolate, doce”, avalia. Já Cristina e Mário acreditam que a venda dos tradicionais são maiores porque os idosos consomem mais. “Os cafés gourmet’s são pedidos na maioria das vezes por pessoas jovens que acabam consumindo sem lanche, já que eles parecem uma sobremesa”. VALOR Os valores também fazem a diferença na hora de saborear um bom cafezinho. A diferença costuma ser bem grande. Uma xícara do expresso tradicional pode ser encontrada por R$ 5 ou R$ 5,50 em média. Já os cafés especiais a depender de qual for pode chegar a R$ 23. Na cafeteria de Daniela, existe uma variedade. Têm opções para todos os gostos e paladares. “Por aqui são mais de 50 opções e tamanhos. Valores variam bastante”. PESQUISA Uma pesquisa da Euromonitor, realizada nos últimos anos, mostra que, entre 2017 e 2018, a venda de sacas subiu 21%, alcançando 592 mil no Brasil. A receita no varejo chegou a R$ 2,1 bilhões, um avanço de 24% sobre 2016. A pesquisa também identificou um grande número de cafeterias gourmet no Brasil. Segundo o levantamento, há um número aproximado de 13 mil estabelecimentos que vendem café premium no país e a maioria deles se dedica mais à experiência de tomar café do que à simples venda de produtos. Esse tipo de cafeteria oferece cursos de métodos de preparo com variadas origens de café, além da presença constante de baristas profissionais. Consumo deve ser de até três xícaras por dia   Segundo o nutricionista Dayvison Souza, o café tem vários benefícios para o organismo, mas também se consumido exageradamente traz riscos a saúde. “Entre os principais benefícios é que a bebida é um estimulante natural, atua nos receptores do sistema nervoso central, fazendo com que haja mais concentração em determinadas atividades. Além disso, atua na prevenção ao câncer de mama, pele, cólon e próstata, pois contém quantidades significantes de antioxidantes. Alivia o stress. Diminui níveis de glicose (prevenção ao diabetes)”, diz o nutricionista. Além disso, Dayvison conta que o café tem efeito ergogênico no esporte. “Previne a depressão. Estudos mostram que o café diminui os sintomas de depressão, melhorando o humor e aumentando a disposição do indivíduo e acelerando o metabolismo”. Já entre os malefícios, segundo o nutricionista, estão: irritabilidade de pele e de mucosa, insônia, dependência/vício, agitação, tremores, azia constante. “Em grande excesso, por meio de vasoconstrição, pode provocar aumento da pressão arterial e risco de arritmia. Lembrando que o café é prejudicial para pessoas com gastrite, refluxo, distúrbios gastrointestinais, recorrentes de úlceras e inflamações o café na maioria das vezes é excluído”, conta. Segundo o especialista, a quantidade limite a ser tomada é 400-500mg de café por dia. “O que equivale aproximadamente três xícaras de 150ml (adultos) ou simplesmente fazer um cálculo de 6 mg multiplicado pelo peso corporal do indivíduo. Já para gestantes, a quantidade é um pouco mais baixa, 300mg de café por dia, o que equivale aproximadamente a duas xícaras. Entre as crianças, a partir dos 10 anos, uma xícara de café por dia, o que equivale aproximadamente a 150 ml. Mas a gente recomenda fracionar essa quantidade em doses de 50 ml ao longo do dia, junto ao leite. E crianças de 6 a 9 anos é recomendado meia xícara ou somente gotículas de café, para matar a curiosidade da criança”, aconselha Souza. Para o especialista, 700-800mg de café é considerada excesso, equivalente aproximadamente a 6 xícaras de 225ml. A nutricionista Alane Costa também avalia o café como uma bebida essencial no cardápio. “A cafeína, seu principal composto ativo, estimula o sistema nervoso central, favorecendo a concentração. Por isso, tantas pessoas costumam consumir pequenas quantidades ao longo do dia. Pelo mesmo motivo não deve ser ofertado com frequência às crianças. Pode auxiliar o processo de emagrecimento (se tomado puro ou com adoçantes artificiais) porque ajuda a “enganar” a fome. Mas também pode ser um convite ao consumo de uma boa fatia de bolo. Estudos sugerem que quantidades moderadas inibem os sintomas da enxaqueca. Ele também possui substâncias que ajudam na proteção do sistema imunológico e antioxidantes que combatem os radicais livres”, ressalta. Vício levou casal a comprar uma máquina profissional   A maior parte das pessoas que gosta da bebida está consumindo o café especial em grãos, representando entre 40% e 50% do volume total de vendas segundo a pesquisa da BSCA. Esse tipo de cliente gosta da experiência de moer o próprio café em casa e está disposto a investir no maquinário para tal, como moedores. Eles são conhecidos como coffee lovers. E essa experiência foi adotada pela jornalista Beatriz Nunes. Ela conta que chegou a gastar R$ 1 mil por mês com café. “Contando entre o café que eu tomo e que meu esposo toma, em média 10 por dia – a gente já chegou a gastar R$ 1 mil no mês. Ele é viciado em café e rigoroso na escolha”, conta. De acordo com Beatriz, com o consumo constante foi necessário comprar uma máquina profissional para casa. “Já tínhamos aquelas máquinas, cafeteiras, mas não é a mesma coisa. Costumo moer os grãos em casa mesmo. Existe toda uma textura, um sabor especial. Meu esposo ama café. Quando ele veio de São Paulo para Maceió, tive que levá-lo para conhecer todas as cafeterias até ele achar uma que oferecesse o café mais saboroso. Porém, em casa tínhamos que ter esse prazer também... então, investimos na máquina”. HISTÓRIA Seguindo o mapa do café “chegamos’’ em Kaffa, a lendária região do interior da Etiópia, o cenário da descoberta do café, banco genético da planta que gerou a bebida natural mais consumida no mundo, há 1.110 anos. “A lenda conta que um pastor teria percebido que, quando os cabritos comiam o fruto de um arbusto, ficavam mais espertos. Ele decidiu provar e acabou gostando”, conta Daniela explicando que o nome da cafeteria está relacionado ao nome da região onde o café tem origem. A bebida é tão especial para os seres humanos que existem inúmeras músicas e poemas que a cita. Como diria Jorge Ben Jor em sua música “Café – o grão, é o preto que virou ouro, nas terras do Salgueiro...”.