Cidades

Rachaduras: Arquiteta defende 'saída planejada' das áreas atingidas

Para Isadora Padilha, é possível pensar em políticas que distribuam famílias do Pinheiro, Mutange e Bebedouro em espaços vagos da cidade

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 09/04/2019 08h25
Rachaduras: Arquiteta defende 'saída planejada' das áreas atingidas
Reprodução - Foto: Assessoria
A presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Alagoas (IAB-AL), Isadora Padilha, defende a “saída planejada” das áreas atingidas pelo fenômeno geológico. Para ela, é possível investir em políticas públicas que fujam de soluções convencionais e ajudem os moradores do Pinheiro, Bebedouro e Mutange a se estabeleceram de forma menos invasiva. “Pode-se pensar em saída planejada. A situação exige todo um esclarecimento primeiramente sobre o que é de fato o problema. A segunda coisa, lógico tem relação com as pessoas, o quanto antes se prevenir ao acontecimento, como contingência. Depois disso, é lidar com a contingência. Isto é a parte emergencial, imediata. Mas é preciso pensar no que vai ser essa área, porque apesar de poder ser inabitável, ela vai existir. É preciso pensar em como essa área vai funcionar já que para habitação não pode. Essa situação gera toda uma situação de repensar o urbano da cidade, fugindo de soluções convencionais, eu acredito que a solução disso não deveria ser uma solução padrão, construir conjuntos em área distantes porque isso mexe com a vida das pessoas. Já há uma perda e quanto mais facilidades para essas pessoas, melhor para retomarem suas vidas”, avalia Isadora Padilha. Para a arquiteta a desocupação pode servir para reocupação de espaços vagos em determinados bairros de Maceió que vêm ao longo dos anos concentrando vazios. “Pode-se pensar em políticas públicas para ocupar os vazios da cidade, porque existem muitas áreas precisando que sejam habitadas. Seria uma possibilidade que traria benefícios para o espaço urbano. Desenhar uma política pública pode ser de incentivar linhas de crédito, não induzir ou dizer onde a pessoa vai morar, mas dar opções, linhas de crédito, financiamento habitacional com facilidades nessas áreas, numa política de ocupar esses espaços. Isto considerando um público que não é de baixa renda”. Isadora Padilha explica que a região abarca modelos diferentes de famílias, por isso, não seria adequado apostar em soluções homogêneas. É preciso considerar, segundo ela, a renda, o padrão de vida e as necessidades de cada grupo, tudo isto, deve ser feito com base em planejamento urbano e social. “É preciso a gente entender o quadro que está se desenhando aí, é um quadro totalmente heterogêneo, com bastante diferenças entre as pessoas que estão saindo de lá. Primeiro se têm as pessoas que já saíram, em grande parte uma população de média renda, ou alta renda. É uma população que tem condições de se deslocar por conta própria, não toda, mas uma boa parte. Algumas pessoas foram cadastradas, já estão recebendo aluguel social, isso é um tipo de habitação, neste tipo, as pessoas têm conseguido sanar. Foram procurando lugares onde possam se estabelecer. Porque a renda permitiu que elas se deslocassem logo e houve um auxílio público para isso. Não é preciso construir um bairro para essas pessoas. Temos muitos imóveis desocupados no Farol próximo ao Centro. Nós temos imóveis desocupados na região Central, na área lagunar, Prado, Levada, na região mais ao Sul. Temos imóveis desocupados no Poço, Pajuçara, em direção à Ponta da Terra e essas pessoas podem escolher para onde vão”, defende. Outro aspecto é a necessidade de famílias de poder aquisitivo inferior, que dependem totalmente da ação do poder público para se restabelecerem em novas áreas urbanas. “A outra coisa é uma faixa de renda mais baixa, porque nós temos outros tipos de habitação, porque é uma região não homogênea. As pessoas que moram nas encostas, que já eram área de risco antes mesmo do problema no Pinheiro. A tradição da Prefeitura tem sido há muitos anos de construir conjuntos na parte alta. Mas será que não poderia também se pensar em construir habitações de interesse social em outras áreas também? Eu sei que isso é algo que foge do padrão, mas o que acontece no Pinheiro é algo único. E já está se lidando com o Governo Federal, não se vai precisar convencer ninguém a nada, já está implícito que se deve buscar soluções. Porque não se pensar neste momento em projetos de reabitação urbana, pensar em habitações que preencham esses vazios na cidade. Em áreas centralizadas, com áreas comerciais, transporte público”, enfatiza a arquiteta.