Cidades

100 anos do Jornal Correio da Pedra

Pesquisador destaca coletânea de relíquia jornalística do início do século passado idealizada por Delmiro Gouveia

Por Wellington Santos com Tribuna Independente 23/10/2018 08h52
100 anos do Jornal Correio da Pedra
Reprodução - Foto: Assessoria
A memória jornalística do Sertão alagoano no início do século passado já está ao alcance de pesquisadores, historiadores, jornalistas, estudantes, educadores e do público em geral. Este foi o assunto da conversa com o professor, historiador e pesquisador Edvaldo Nascimento, no programa TH Entrevista desta semana. O pesquisador informa que já se encontra à disposição dos alagoanos a preciosidade histórica da coleção do jornal Correio da Pedra, idealizado pelo desbravador e visionário do Sertão nordestino Delmiro Augusto da Cruz Gouveia e que circulou, pela primeira vez, no dia 12 de outubro de 1918. A coleção do jornal foi organizada sob as batutas do professor Edvaldo Nascimento e da antropóloga Luitgarde Oliveira. A edição especial foi lançada no mês de junho deste ano e marcou o centenário da morte do grande empreendedor, que, entre outras realizações, deixou como legados a abertura de mais de 500km de estradas nos sertões de Alagoas e Pernambuco, a primeira hidrelétrica do Nordeste – Angiquinho -, o pioneirismo na irrigação, a indústria têxtil, entre outras. A publicação saiu em quatro volumes (formato box), sob a responsabilidade da Imprensa Oficial Graciliano Ramos e foi distribuída com as instituições de pesquisa, universidades, bibliotecas e outras instituições educacionais. Na conversa com o TH Entrevista, Edvaldo Nascimento ressaltou a importância do Correio da Pedra como fonte de pesquisa e de informação acerca do Sertão nordestino, que saiu em edição fac-símile e fez parte da programação dos 200 anos de Alagoas, promovida pelo Governo do Estado. “O Correio da Pedra é uma preciosidade. Informações que não encontramos mais em outras fontes estão disponíveis neste jornal. Fatos de muita importância para Alagoas, para o Nordeste e o Brasil eram noticiados neste semanário”, afirma Nascimento, um dos produtores e idealizadores da coletânea do Correio da Pedra, lançado há 100 anos. “Foi do industrial sertanejo a ideia de comprar o equipamento tipográfico e criar o semanário. Assassinado em 1917, ele não conseguiu ver o jornal em circulação. Foram seus sucessores que, em 1918, colocaram o Correio da Pedra em atividade”, conta o pesquisador. De acordo com Nascimento, a escolha do dia 5 de junho último e não o dia 12 de outubro para o lançamento da coleção deu-se em razão da passagem dos 155 anos de nascimento de Delmiro Gouveia. Á época, o jornal foi editado em quatro páginas. Nascimento destaca que o Correio da Pedra constitui-se como um verdadeiro achado histórico. “Conseguimos recuperar mais de 70% de todas as edições. É um dos poucos registros históricos que existem sobre fatos relevantes que aconteceram não apenas no Sertão de Alagoas, mas também em todo o Estado. Era um jornal feito com a lavra de grandes pensadores da época”, diz. EDITORES Nos primeiros anos de circulação, o jornal pertencia a uma associação dirigida por integrantes da Cia. Agro Fabril Mercantil.  Posteriormente, passou a ser uma publicação de propriedade direta da Fábrica de Linha da Pedra, pertencente à Cia. Agro Fabril Mercantil. A Coleção do Correio da Pedra, guardada no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (Ihgal), está organizada em dois volumes, sendo o primeiro deles referente ao período de 1919 a 1926. O volume II da coleção é referente ao período de 1927 a 1930. Este se inicia na edição de número 431, com o jornal de 2 de janeiro de 1927. O Correio da Pedra teve como fundadores Adolpho Santos e J. Roberto, respectivamente, gerente e auxiliar da Fábrica de Linhas da Pedra; Enrico Turri, chefe de escritório comercial; José Ulisses Luna, bacharel em Direito; Virgílio Lisboa, negociante; Aloysio Cravo, dentista. A impressão era feita na seção gráfica da Fábrica da Pedra, sob a direção do tipógrafo Cleodon Mendes. A sede da redação ficava na Rua 13 de Maio, n° 74, na Vila da Pedra. Como editores, o Correio teve Adolpho Santos, que comandou o veículo de outubro de 1918 a novembro de 1923; José Roberto, que dirigiu de dezembro de 1923 a maio de 1925; João de Souza, de maio de 1925 a julho de  1925; e, por fim, Hildebrando Menezes, que dirigiu o Correio da Pedra de agosto de 1925 a maio de 1930. Nascimento acrescenta que os grandes temas do debate nacional já eram discutidos no Correio da Pedra, “Era uma pauta muito atual. Isso só reforça como o Delmiro Gouveia estava realmente à frente do seu tempo há 100 anos”, ressalta o pesquisador. Entre as pautas estavam assuntos de economia, desenvolvimento, ferrovias, a seca e o cangaço, retratados nas páginas amareladas do jornal Correio da Pedra. O Correio da Pedra também reproduzia notícias inicialmente publicadas por grandes jornais, tais como O Globo, Correio do Acre, Jornal de Alagoas, O Índio, A Vanguarda, Correio da Manhã, Jornal do Commercio, O Paíz, Jornal de Maceió, O Luctador, O Norte, Diário de Pernambuco e Jornal de Caruaru. “É um momento de muita alegria, principalmente por estar incluso nos 200 anos de Alagoas. Agradeço muito ao Governo do Estado por ter demonstrado sensibilidade com o resgate histórico e cultural, abraçando esse projeto que me dedico há oito anos”, disse Edvaldo Nascimento.   Assista à íntegra da entrevista:   https://www.youtube.com/watch?v=gy_h90m1i34