Cidades

Matança: Árvores são furadas e envenenadas na parte alta de Maceió

Espécies nativas estão sumindo e proximidade das festas juninas preocupa moradores do local

28/04/2017 13h15
Matança: Árvores são furadas e envenenadas na parte alta de Maceió
Reprodução - Foto: Assessoria

Ainda é mistério a intenção do criminoso que tentou matar algumas árvores da Praça Ricardo Lessa, no Conjunto Dubeaux Leão, localizado no bairro de Tabuleiro do Martins, na parte alta de Maceió. O delito foi denunciado por moradores que estão revoltados e consideram o ato uma selvageria. Plantas existentes desde a fundação do residencial, há décadas, pedem socorro, e exigem atenção dos órgãos competentes. Espécies como Pau Brasil, algaroba, flamboiam, fícus, amendoeira, além de várias frutíferas estão ameaçadas pelo homem e moradores suspeitam da possibilidade da venda da lenha com a proximidade das festas juninas.    

“Estamos revoltados que o que está acontecendo; além do envenenamento muitas árvores estão sendo cortadas, e sem a autorização dos órgãos competentes, prejudicando o meio ambiente”, afirma o morador Estênio Lessa, que prefere não aparecer.

O comerciante Jeferson Rangel diz que nunca viu tamanha maldade com um ser vivo indefeso. “Não entendo como em tempo de globalização e informação se acontece uma atrocidade dessas”. Luiza da Silva, outra moradora, também é contra e clama pelas autoridades. “Estamos indignados com o que está acontecendo na praça”, disse.

Mesmo com as marcas de veneno roxo, árvores ainda sobrevivem

Outro morador que não quis se identificar afirma que o crime é uma tremenda covardia. “Não é admissível, esse criminoso tem que ser preso e obrigado a plantar mudas de árvores na frente de todos”, reclamou.

Rogério Dias, outro morador, é mais audacioso e supõe que a motivação para o envenenamento seja para uma possível construção irregular de casas no local. Ele denunciou o caso numa rede social, e inclusive filmou a cena para chamar a atenção da sociedade alagoana.

Veja link: https://www.facebook.com/conjuntojosedubeuxleao/videos/773621862800196/

Para Cristina Nunes, presidente da Associação do Dubeaux Leão, o crime é triste e absurdo, merece uma atenção especial mesmo. “Estamos no encalco dos órgãos, mas não é fácil sermos ouvidos. Acredito que após a divulgação deste crime, o autor ficará inibido de voltar a praticá-lo”, salienta.

 O filho de Cristina lembra-se da proximidade das festas juninas e atenta para  um possível sinal de mortes de árvores, sobretudo aquelas de troncos  avantajados, que supostamente podem servir para a venda de lenha para  fogueira. “Não está descartada essa hipótese, os órgãos ambientais devem  ficar de olho neste tipo de crime com a aproximação da época”, frisou.

“Fico feliz com a iniciativa dos moradores, não podemos ficar calados e esperar somente a vez da presidente, até porque uma andorinha só, não faz verão. Tenho 34 anos que moro no residencial e já teve crimes do tipo com a derrubada de árvores, mas não é comum”, ressaltou.

“Espero que acabe, porque prejudica o meio ambiente. Porque a pessoa que está fazendo é próxima e creio que intimide”, emendou.

PENALIDADE

O sargento Ivan Oliveira, do Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA), o ato de envenenar as árvores se caracteriza como crime de dano em planta de ornamentação em logradouro público previsto no artigo 49 dos crimes ambientais. A pena pode ser de seis meses a um ano de prisão. Ele comenta ainda que na lei ambiental também pode haver uma instrução normativa para apertar mais ainda a punição cabe a cada secretaria municipal.

A partir do momento da detecção do crime, onde imagens das câmeras posicionadas próximo ao local podem ser solicitadas para ajudar nas investigações, ou feita a notícia crime de forma anônima para que Polícia Civil possa chegar, havendo isso, o Ministério Público é acionado com uma ação civil pública para a reparação de danos, por exemplo, para determinar quantas mudas de árvores serão plantadas no local, e multa também.

Alívio Fiscais analisam plantas atacadas 

Uma equipe da Secretaria de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (Sedet) esteve na manhã desta sexta-feira na praça, e analisou os troncos das árvores furadas e envenenadas, e concluíram para o alívio dos moradores e ambientalistas, que o criminoso não conseguiu afetá-las.

Apesar do susto, árvores não serão cortadas, afirma equipe de fiscalização

Algumas árvores que tiveram a perfuração mais profunda se defenderam do veneno expulsando o produto por meio de sua seiva. Em outras o furo foi feito de forma superficial e não atingiu o tronco. O biólogo da Sedet, Iron Iorio, explicou que a tentativa não surtiu efeito para chegar a matar as plantas, mas já estão identificadas e não serão condenadas no corte.

O veneno foi aplicado há algumas semanas e as árvores não apresentam os sintomas de folhas secas, conforme o especialista da Sedet. Ele disse que se fosse aplicado o produto específico para eliminar a vegetação, as árvores já estariam mortas: “por não ter sido sistêmico, graças a Deus, não chegou a afetar lá na copa da árvore até o sistema radicular”, mencionou. “O assassino não teve êxito”, acrescentou.

O agrônomo que fez parte da coleta de análise da Sedet, Valdir Martiniano, também frisou para os moradores que as árvores não vão morrer, e nem tão pouco precisarão ser cortadas da praça. “Não estão condenadas, não apresentam sintomas de envenenamento, quem fez não soube fazer e não conseguiu”, comemorou.   

Questionado sobre alguns cortes de árvores constatados pela reportagem, o coordenador-geral de fiscalização da Secretaria de Meio Ambiente, informou que foram feitos pela Prefeitura Municipal por conta da iluminação da praça.