Cidades

Arcebispo Dom Antônio Muniz critica interferência política em instituições

Para ele, "ingerência eleitoreira em instituições" ocorre há pelo menos dez anos no Estado de Alagoas

Por Tribuna Independente 05/01/2017 08h51
Arcebispo Dom Antônio Muniz critica interferência política em instituições
Reprodução - Foto: Assessoria

O arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz, concedeu entrevista coletiva na quarta-feira (4) para afirmar que comunidades terapêuticas em Alagoas estão sendo usadas com fins eleitoreiros. Para ele, essa prática ocorre há pelo menos 10 anos.

Dom Antônio Muniz chegou à Arquidiocese de Maceió em 2007 e desde então, segundo ele, vem alertando sobre o problema. “Sempre dialoguei com os responsáveis por essas instituições para alertá-los sobre a verdadeira missão de uma casa de acolhimento que é de beneficiar aqueles que precisam e não os seus gestores. A ingerência política continua, há político mantendo as comunidades pensando na próxima eleição e se ele perder, os trabalhos serão encerrados?”, questiona o líder religioso que preside a Rede Cristã de Acolhimento e Recuperação do Dependente Químico do Estado de Alagoas (Recriar).

A Recriar quer, explica o arcebispo, que as comunidades terapêuticas sigam recebendo recursos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep) e de outras fontes governamentais, mas que o controle financeiro não fique centralizado nas secretarias. Segundo Dom Antônio Muniz, “isso aumenta os custos”.

Existem onze comunidades terapêuticas ligadas à Recriar e caso os recursos governamentais comecem a diminuir por questões políticas, o arcebispo diz que vai às ruas reivindicá-los. “Se for preciso, vou chamar os responsáveis pelos centros de acolhimentos, os padres e os fiéis. O que não podemos deixar é que apenas comunidades que tenham dedo de políticos sejam beneficiadas por recursos governamentais”, afirma. 

A Arquidiocese publicou decreto em 27 de dezembro proibindo as comunidades terapêuticas ligadas à Recriar de manter relações políticas. As “que fizeram uma opção político-partidária e de poder, tornando-se subsidiárias, estão proibidas de usar o nome ‘católica’ e beneficiar-se dos ritos católicos”.

Seprev garante não atuar com fins político-partidários

Na entrevista em que concedeu, Dom Antônio Muniz ressaltou que a posição da Arquidiocese é combater o uso político de recursos da Secretaria de Prevenção à Violência (Seprev). O decreto da Igreja Católica às comunidades terapêuticas ligadas à Recriar foi divulgado quatro dias após a troca de comando na Secretaria.

No dia 23 de dezembro, Jardel Aderico deixou o comando da Seprev e em seu lugar assumiu a assistente social Esvalda Bittencourt. Ambos foram indicações do deputado federal Givaldo Carimbão (PHS).

A assessoria de comunicação da Seprev, por meio de nota, afirmou não relacionar suas ações ou os recursos com atividades político-partidárias.

“Assim como a Arquidiocese de Maceió, defende a isenção política de todas as comunidades e instituições acolhedoras de dependentes químicos, que devem estar totalmente focadas no tratamento e recuperação das pessoas dependentes das drogas. Assim, a Seprev afirma que todo o trabalho de prevenção ao uso de drogas, recuperação do dependente químico e reinserção social e produtiva dos mesmos fazem parte de uma Política Pública de Estado e devem ser vistos com olhar sobretudo técnico e isento de qualquer envolvimento com políticas partidárias”, diz a nota enviada à reportagem da Tribuna Independente.

Esvalda Bittencourt descarta, de forma imediata, atuação da secretaria com finalidade política (Foto: Assessoria)

A Seprev ressaltou a necessidade de reforçar o caráter técnico de suas ações. Na nota, Esvalda Bittencourt garante dar mais rigor à “necessidade de fortalecer esta política pública com um olhar mais técnico e rigoroso, garantindo um cuidado especial e maior atenção à recuperação do dependente químico e sua reinserção na sociedade e no mercado de trabalho”.