Cidades
Mercado da produção desperdiça 30 toneladas de resíduos por dia
No montante, uma grande quantidade de alimentos é desperdiçada; Semtabes estuda ação integrada para conter perdas
O Mercado da Produção, maior do comércio de alimentos e um dos mais antigos e tradicionais de Maceió, possui atualmente aproximadamente 3 mil permissionários. Diariamente cerca de 30 toneladas de resíduos (frutas, hortaliças, verduras, plásticos, lixo) são recolhidas do estabelecimento e levadas para o aterro sanitário.
Apesar de não existir nenhum projeto acerca da questão de desperdício, a Diretoria de Abastecimento da Secretaria Municipal de Trabalho, Abastecimento e Economia Solidária (Semtabes) está planejando formas de reverter essa situação. Iniciada em março deste ano, a atual gestão da Secretaria está estudando as melhores possibilidades para resolver as problemáticas que envolvem os Mercados públicos de Maceió.
A Semtabes informou por meio da assessoria de comunicação que está se articulando com a Guarda Municipal e as superintendências de Limpeza Urbana de Maceió (Slum) e Transportes e Trânsito (SMTT) para realizar uma ação integrada visando o reordenamento no mercado no que diz respeito à carga e descarga.
Ainda conforme a assessoria explicou, dentro da ação está previsto a criação de uma programação no horário de carga e descarga dos caminhões para reorganizar os espaços evitando problemas de congestionamento de trânsito e melhorar a acessibilidade principalmente dos consumidores dos produtos que são comercializados no Mercado.
“Existe ainda um grande problema social presente no local. É preciso que os permissionários estejam mais conscientes da sua responsabilidade quanto à organização e desperdício. Para melhorar esse quesito, a Diretoria de Abastecimento da Semtabes está estudando a possibilidade de um projeto que oriente e conscientize os permissionários do mercado. O objetivo é melhorar a situação atual a partir de um trabalho educativo e de conscientização”, frisou.
Sobre as questões que envolvem o desperdício de alimentos no local, segundo o Assessor Técnico dos Mercados, Arthur Nogueira, o desperdício é consequência da ausência de uma produ- ção programada – onde há o controle da entrada dos produtos nos mercados –, de hortigranjeiros nos Estados o que acarreta uma super oferta de produtos. Outro grande fator que potencializa esse desperdício é o período de safra, pois o número de produtos chega ao mercado com quase o dobro do volume normal.
Desperdício impacta na qualidade do produtoO índice de desperdício das hortaliças (alface, cebolinha, coentro e outros) pode chegar a quase 70%, por falhas não só da infraestrutura, mas também do manuseio inadequado dos produtos ao longo da cadeia produtiva.De acordo com o artigo ‘Desperdício de alimentos no Brasil: um desafio político e social a ser vencido’, de autoria do pesquisador da Embrapa, Antônio Gomes Soares, entre 1997 e 2000, todo esse montante de produtos desperdiçados, além de desequilibrar a cadeia produtiva, impacta na qualidade do produto que chega à do consumidor. Os dados constatam que as principais perdas de frutas e hortaliças estão concentradas nos níveis de manuseio e transporte (com 50%) e comercialização (com 30%). Os desperdícios no campo e de consumo somam 20%.Embora as estatísticas mais recentes em termos de desperdício para frutas e hortaliças sejam do ano 2000, a pesquisadora Milza Moreira garante que a deficiência se enquadra exatamente durante a produção, comprovando os dados citados anteriormente. “Nós não temos uma cadeia de frios instaladas no País, o que contribui para que o produto estrague mais facilmente. Além disso, as estruturas de comercialização fazem com que esse produto demore a chegar até o consumidor final”, afirma.O maior problema, segundo ela, é que se gasta insumos raros de alto valor financeiro como a água e o adubo. A grande questão é que produzimos alimentos que não são consumidos pela população.Em contrapartida, os índices de desperdício das raízes (batata doce, cenoura, beterraba, inhame) e tubérculos (batata inglesa, rabanete) são completamente diferentes. As raízes e tubérculos, assim como, as frutas e hortaliças são alimentos com a taxa mais alta de não aproveitamento.“É importante lembrar que grande parte do desperdício de alimentos ocorre na fase inicial da produção, na manipulação, no processo de colheita e armazenagem. Sem esquecer também das etapas de processamento, distribuição e consumo”, disse Arthur.Diante desse quadro, a Diretoria de Abastecimento já trilha caminhos para amenizar essa questão. No caso dos excedentes alimentares, a melhor opção é a reutilização dos alimentos através de mercados secundários ou da doação.Se os alimentos não estiverem em boas condições para o consumo humano, a melhor opção é desviá-los para a cadeia alimentar animal. Quando a reutilização não é possível, pode-se pensar na reciclagem e na recuperação. “É necessário um esforço maior para equilibrar a oferta e a demanda, para que não se desperdicem recursos de maneira desnecessária”, ressalta Arthur Nogueira.Os mercados municipais seguem um aspecto comercial varejista, sendo função da Diretoria de Abastecimento receber e auxiliar a distribuição para o consumidor final. O controle estatístico do que é transportado para esses locais são realizados na Central de Abastecimento (Ceasa). (Com assessoria)Mesa Brasil beneficia 110 instituiçõesUma rede nacional de solidariedade contra o desperdício, o programa de segurança alimentar do Serviço Social do Comércio chamado Mesa Brasil Sesc busca onde há excesso e entrega onde há falta. Implantado em Alagoas em 2003, beneficia, atualmente, mais de 110 instituições sociais localizadas em Maceió, Arapiraca, Marechal Deodoro, Murici, Rio Largo, Palmeira dos Índios e Capela.Esse trabalho, que complementa, diariamente, mais de 20 mil refeições em Alagoas, só é possível graças à sensibilidade e solidariedade de empresários e feirantes – mais de 390 em Alagoas –, que compreendem a importância de doar alimentos e outros itens que, embora próprios para o consumo, seriam descartados.Em Alagoas, o Mesa trabalha na modalidade Banco de Alimentos, através do qual recolhe alimentos na empresa doadora, transporta até o banco, seleciona, armazena e distribui, preparando as doações para que as instituições possam recolhê-las a cada semana. Diariamente são transportadas cerca de 3.000kg de alimentos perecíveis.O Mesa Brasil Sesc Alagoas realiza ainda oficinas temáticas de aproveitamento integral de alimentos e, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), o Curso de Formação de Manipuladores de Alimentos, destinado às instituições sociais. A participação nos cursos e oficinas é um requisito para a permanência da instituição no programa Mesa Brasil.Hortifrutigranjeiros são mais suscetíveisDe acordo com Aguinaldo Bezerra, presidente da Associação dos Comerciantes da Ceasa, os hortifrutigranjeiros são mais suscetíveis e não dependem apenas do homem para se estragar com maior facilidade. “A quantidade de chuva e de água também contribuem. Tem seu lado bom que as frutas e legumes vão crescer, mas tem o seu lado perigoso, porque perdem a resistência. Daí se obriga a trabalhar com agrotóxicos”, disse.Ceasa, Mercado da Produção, supermercados, restaurantes e demais mercados desperdiçam uma grande quantidade de alimentos diariamente por conta dos danos mecânicos sofridos durante o seu transporte.No entanto, segundo Aguinaldo Bezerra, existem outras políticas que poderiam ser trabalhadas, dando apoio ao produtor com infraestrutura climatizada, câmeras frigoríficas e um transporte adequado para melhor acondicionamento dos alimentos, sobretudo os hortifrutigranjeiros.O ciclo é negativo em Alagoas porque, conforme ele destaca, não se tem um setor produtivo organizado, do transporte até a comercialização. “Em contrapartida, no Estado de Pernambuco, nosso vizinho, existe um banco de caixas, que são embalagens plásticas higienizadas, onde são transportados os produtos. Assim, menos danos mecânicos e impactos ocorrem na fruta, por exemplo, e consequentemente as perdas são reduzidas”, diz Bezerra.Bezerra destaca que lá em Pernambuco também há uma usina que se aproveita os produtos para gerar a própria energia da Ceasa. “São modelos existentes em outros estados que não sei o porquê de não serem implantados em Alagoas. São modelos consistentes, mas a gente ainda continua naquela de o produto vir, o fornecedor não vender e gerar avaria, que nem mesmo o Mesa Brasil consegue absorver”, ponderou.“Temos uma legislação própria, mas que infelizmente não se segue. Exemplifico com os caminhões de laranja, onde a fruta vem solta. Imagine que nós já não temos infraestrutura de estradas adequadas. Chega no Estado e descarrega. As frutas e demais produtos de forma geral sofrem muito por danos mecânicos. Para completar, muitas vezes o produto não consegue fechar esse fluxo por conta do mercado que não corresponde a expectativa de compra. E o produto que era para girar com mais rapidez não acontece e os danos acabam estragando, o que gera o desperdício”, detalhou.
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