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Conferência inspira jovens a combaterem injustiça climática no Brasil

Participantes levam para seus lares nova visão sobre mudança climática

Por Daniella Almeida / Agência Brasil 11/10/2025 11h49
Conferência inspira jovens a combaterem injustiça climática no Brasil
Crianças e adolescentes vivenciarem cinco dias de debates, gincanas, palestras, oficinas temáticas e atrações culturais - Foto: Ricardo Stuckert / PR

As crianças e adolescentes participantes da 6ª Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (6ª CNIJMA), em Luziânia, Goiás, voltaram para seus lares, nesta sexta-feira (10), depois de vivenciarem cinco dias de debates, gincanas, palestras, oficinas temáticas e atrações culturais.

Na bagagem, estão os planos de desenvolver a educação ambiental em seus territórios e chamar a atenção para a necessidade de combater a injustiça climática, que, normalmente, atinge desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis e marginalizadas no Brasil, com chuvas, secas, calor intenso e inundações.

De Itapemirim, no Espírito Santo, Lara Guimarães Silva (foto) deseja que os saberes e práticas ancestrais sejam considerados na oferta global de soluções que resgatem o respeito à natureza e promovam a equidade de oportunidades. As comunidades tradicionais, segundo a jovem, são as que mais sofrem com os efeitos das mudanças climáticas, mesmo contribuindo menos para as alterações do clima.

“As mudanças climáticas são muito ruins porque afetam a terra, o solo e o ciclo da água. Isso faz a nossa agricultura familiar desequilibrar”, afirma.

Com 13 anos de idade, Lara foi criada na comunidade de quilombola de Graúna, que, segundo ela, valoriza bastante o clima.

“Com o clima desregulado, a gente perde um pouco das nossas tradições e culturas”, diz a adolescente.

Da Região Norte, Jessyane Cavalcante, com 12 anos de idade, percebe que a poluição, sobretudo pelo plástico, afeta o município de Mucajaí, em Roraima. Na conferência nacional, ela defendeu a reciclagem de embalagens plásticas para ter um território saudável.

“A reutilização de materiais pet mal descartados na nossa vila fariam a diferença para combater a poluição”, defende.

Na realidade da estudante indígena Adryellen Silveira Bertoldo, de 13 anos, os impactos de eventos climáticos são visíveis e prejudicam o pequeno plantio de alimentos na aldeia onde vive, em Aracruz, no Espírito Santo.

“O que eu aprendi aqui, vou aplicar lá. Quero dialogar com minha comunidade e dar ideias para meu professor para fazermos atividades na escola”, disse.

Em outro bioma, o Cerrado, o jovem Elton Brenner, do 8º ano do ensino fundamental, aproveitou a última chance de participar da Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente como delegado, porque já tem a idade limite de 14 anos.

O projeto escolar que Elton Brenner trouxe de Goiatuba, em Goiás, para a conferência, reafirma o compromisso com a sustentabilidade, com o meio ambiente e de mobilização comunitária. O documento sugere soluções para problemas urbanos, como mais áreas verdes dentro de escolas, melhoria das praças das cidades, o reaproveitamento da água, o plantio de hortas comunitárias e a fiscalização do descarte de resíduos sólidos.

Elton acredita que eventos como a conferência, criam consciência ambiental desde cedo nos estudantes.

“Quem participa já aprende a importância do meio ambiente, conhece a reciclagem, conhece uma horta, se aprofunda em alimentação saudável e até domina como gerenciar uma casa”, avalia.

De outro ponto do estado de Goiás, o jovem delegado da conferência Kleber Medeiros de Oliveira Júnior, de 13 anos, observou que no trajeto feito de carro de sua cidade, São Miguel do Araguaia, até o local da conferência nacional, em Luziânia, a vegetação nativa do Cerrado foi substituída por extensas plantações de monoculturas.

“Quanto menos árvores tiver, mais vai ter o calor, porque essas árvores param de produzir o oxigênio, o que vai agravar o efeito estufa”, sentencia.

Kleber ainda lamenta a poluição do rio da localidade. [FOTO]

“Jogam muito lixo nas ruas, nos esgotos, e pensam que não vai acontecer nada. Mas o vento traz tudo para os rios, os peixes comem isso e acabam morrendo”, diz.

Mais experiente


Nas cinco edições anteriores, a conferência infantojuvenil envolveu milhares de pessoas. A 6ª edição, com o tema Vamos transformar o Brasil com educação e justiça climática, contabilizou mais 800 participantes, todos representantes das etapas preparatórias.

Uma das pessoas que acumula a experiência de outras conferências infantojuvenis pelo meio ambiente e que esteve em Luziânia esta semana é o cantor e compositor Francisco Gelmo Sousa, de 30 anos de idade. A primeira conferência da qual participou foi em 2006, aos 11 anos, como delegado representante de Itapajé, no Ceará.

O artista ainda passou pela experiência como integrante do coletivo de jovens facilitadores em outras edições da mobilização nacional e como organizador das etapas estaduais do evento. Nesta 6ª edição da conferência, na função de educador, ele foi o responsável por cuidar de jovens cearenses durante a viagem.

“É uma alegria enorme ver como essa conferência transforma a vida da gente, abre portas e desenha um presente e um futuro para a gente. Essa ligação com o ambiente sempre foi muito forte para mim”, afirmou.

Conferência transformadora


Outros gestores de educação presentes no evento, representando as delegações estaduais, apostam justamente no poder de transformação socioambiental das conferências, tanto na consciência sobre o futuro, nos hábitos atuais dos participantes jovens, assim como no combate à desinformação.

É o que destaca a servidora da Secretaria de Educação do Estado do Piauí Luana Batista, responsável pela delegação do estado.

“São projetos com o envolvimento da comunidade escolar que dão certo. Há uma mudança significativa nas atitudes, nos comportamentos e valores para melhorar a qualidade de vida do nosso cotidiano”, acredita.

Luana Batista percebe mudanças nos jovens que vivenciam as experiências das conferências que tratam de meio ambiente. “Essas mudanças de atitude tendem a melhorá-los. Até mesmo a fala deles, como protagonistas juvenis, dentro da sua comunidade escolar, em seu território”.

O representante da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, professor Alexandre Guimarães, presente pela primeira vez em uma conferência nacional, aposta no potencial da juventude para melhorar o planeta Terra.

“Os estudantes de 11 a 14 anos da Bahia foram muito engajados em todos os projetos desenvolvidos em suas escolas. Isso nos traz o alento de que essa transição geracional vai acontecer e será com qualidade, garantindo o futuro desse planeta que a gente tanto ama e quer bem”, disse.

A mobilização para a conferência alcançou 8.732 escolas em 2.307 municípios e reuniu delegações dos 26 estados e do Distrito Federal.

Na quarta-feira (8), os representantes dos estudantes do 6º ao 9ª ano do ensino fundamental de várias partes do Brasil, apresentaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministros a Carta Musical Raiz que Floresce, e entregaram a versão preliminar da Carta Compromisso das Crianças e Jovens pelo Futuro do Planeta, com o pacto das novas gerações pela construção de uma sociedade sustentável e solidária.

A versão final da carta será levada pelo governo do Brasil à COP30 [Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima], em Belém, a partir de 10 de novembro, como forma de reconhecer o protagonismo dos jovens na conscientização e no enfrentamento às mudanças climáticas.