Brasil

Isoladas, profissionais de saúde vão passar o dia das mães longe dos filhos

Juliana Susin e Carla Cardoso contam a experiência de estar distantes dos filhos há mais de um mês por causa do risco de transmissão da Covid-19

Por G1 10/05/2020 11h16
Isoladas, profissionais de saúde vão passar o dia das mães longe dos filhos
Reprodução - Foto: Assessoria

O dia das mães, comemorado no segundo domingo de maio, será diferente para as profissionais de saúde que precisaram se afastar dos filhos durante a pandemia do coronavírus.

Com o avanço da Covid-19 no Brasil, que já fez mais de 10 mil mortes no país, muitas mulheres optaram pelo distanciamento para evitar expor as crianças ao risco de contaminação do vírus.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), mais de 300 profissionais de saúde já testaram positivo para a Covid-19 em toda a Bahia.

São mães médicas, enfermeiras, técnicas de enfermagem, psicólogas, entre tantas outras funções, que estão privadas do convívio com os filhos, em alguns casos, há quase dois meses.

Neste domingo (10), Juliana Susin completa 58 dias longe da filha. Coordenadora de psicologia do Hospital Cárdio Pulmonar, ela decidiu sair de casa no dia 13 de março, antes mesmo das medidas de restrição social em Salvador.

Durante esse período, a saudade da filha é grande, mas ela tem consciência de que está fazendo o melhor para a família.

“É bem difícil, porque tem a saudade de estar perto, de dar abraço, de afeto. O que me conforta é que eu estou protegendo ela. É uma medida de proteção para a minha filha e para os meus pais. Isso me apazigua”, afirmou. Além da filha de 13 anos, que se chama Marcela, Juliana mora com os pais e uma tia, todos idosos e no grupo de risco do coronavírus, portanto a decisão de sair de casa levou em conta, também, a segurança dos três.

Juliana foi morar na casa do noivo, que também é médico. Como a filha é adolescente e já consegue entender a gravidade do momento enfrentado no país, é ela quem ajuda, inclusive, na fiscalização dos avós.

“Ela supervisiona meus pais, se eles estão respeitando o isolamento social, se não estão. Ela dedura eles para mim. Ela é minha fiscal lá em casa”, afirmou.

"Ela fica muito preocupada, entende que ela pode ser assintomática e ser vetor de transmissão, que ela pode passar alguma coisa para os avós mesmo isolada. Ela entende tudo".

Para matar a saudade, mãe e filha se falam todos os dias, seja por ligação ou chamada de vídeo.

“A gente se fala todos os dias. Não faço chamado de vídeo todos os dias, mas a gente se fala por telefone mais de uma vez por dia”, disse.

Essa é a mesma forma encontrada por Carla Cardoso para aliviar a dor da saudade dos dois filhos, Joaquim, de sete anos, e Maria Cecília, de cinco. Ela não os vê há um mês e 15 dias.

“Eu falo com eles diariamente, duas vezes no dia. Na hora do almoço eu falo com eles, faço vídeo chamada e assim que eu chego em casa, eu tomo banho e já ligo para eles, por vídeo chamada também”, contou.

Carla é enfermeira oncológica e segue trabalhando em uma clínica de Salvador. Como o marido entrou em esquema de home-office, trabalhando dentro casa, ele partiu para o município de Amargosa com os pequenos.

Ela confessa que está sendo muito difícil lidar com a solidão de ver a casa vazia quando chega do trabalho. Os dois filhos, aos poucos, estão se adaptando.

“Hoje eles já entendem mais, por conta que já passou esse tempo todo, mas no início eles não entendiam. Então deixar de ver o coleguinha, deixar de descer para brincar no parquinho e ficar preso dentro de casa, não ia ter atividades diferentes para eles. Lá no interior é casa, então é amplo e aí eles podem ficar dentro de casa, no quintal, em outros ambientes da casa que eles podem explorar sem ter a sensação de estarem enclausurados”, disse.

Para a caçula Maria Cecília, entretanto, o processo de separação foi mais difícil, tanto que foi preciso contar com a ajuda de uma psicóloga.

"Eu precisei acionar uma psicóloga para poder conversar com ela, porque ela sente falta de ficar em casa, falta do convívio, dos amiguinhos, da escola. A gente ficou meio preocupado com o psicológico dela", disse.

Quando perguntada sobre o que vai fazer quando reencontrar os filhos, Carla Cardoso nem pensou duas vezes.

“Acho que a primeira coisa é abraçar e beijar né?”, afirmou.