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"Foi assustador", diz sobrevivente de barco "sugado" em represa que secou em Franca

Clube confirmou fechamento de comportas que apresentaram falha 3 dias após acidente. Ministério Público descarta dano ambiental: "peixes que morreram são exóticos"

Por G1 19/09/2017 10h02
'Foi assustador', diz sobrevivente de barco 'sugado' em represa que secou em Franca
Reprodução - Foto: Assessoria

O auxiliar de serviços gerais Nilson Salles ainda se surpreende com as cenas de tensão que viveu na última sexta-feira (15), quando se viu prestes a ser sugado pelo buraco de uma represa que se esvaziou em Franca (SP).

O acidente aconteceu depois que as comportas, abertas para que fosse medida a vazão do reservatório no clube Castelinho, não puderam ser fechadas por um galho enroscado. Na tentativa de salvar os peixes, Salles e o pedreiro Elias Pádua entraram com uma canoa, sem esperar que ela também seria puxada pela força da água. No fim, eles conseguiram ser resgatados por um guindaste.

"Realmente foi assustador, na hora lá eu não pensava em outra coisa, so tentei não deixar a canoa virar, porque a canoa até não podia ir embora, mas se a gente caísse lá a gente teria ido embora", relata.

Com o escoamento sem controle, praticamente toda a água escoou para o Córrego do Espraiado, que corta o município, revelando toda a sujeira acumulada no fundo, em função do descarte de resíduos na região. Três dias depois do ocorrido, na segunda-feira (18), as comportas foram fechadas novamente, na expectativa de que o espelho d'água fique cheio novamente.

"A beleza da represa era a nossa menina dos olhos, mas agora vamos trabalhar, pra cima do Ministério Público e da Prefeitura pra ver de que forma podemos recuperar", disse o gerente do clube, Esílton Tavares dos Reis.

Apesar da perda de peixes no local e do esforço dos funcionários, o MP descarta crime e dano ambientais, porque as espécies que ali estavam eram exóticas ao ecossistema.

Um inquérito em andamento desde 2013 apura problemas no escoamento da represa. "Não houve dano ambiental nenhum, a não ser a evidência de que há um problema técnico na barragem que precisa ser corrigido", afirmou o promotor Fernando Martins.

'Não podia sair'

Salles ainda exibe nos braços os arranhões resultantes do esforço que fez para evitar que o barco em que ele estava não virasse. Os vãos da comporta, segundo ele, não eram grandes o bastante para que o barco entrasse, mas tinham espaço de sobra para levá-los com a correnteza.

"Precisava fazer força pra canoa não virar, porque a gente não podia sair de dentro da canoa, não tinha como fazer nada. Você olhava o barranco, todo mundo gritando ali, mas você não entendia o que eles estavam falando, porque o barulho da água era muito forte", diz.

O funcionário afirma que, no desespero, viu seu colega esboçar uma tentativa de deixar a embarcação, mas o fez desistir, com medo de que aquilo pudesse piorar as coisas. Pouco depois de continuarem no barco, eles foram resgatados por um guindaste.

"Teve uma hora que eu o vi colocando o pé pra fora da canoa. Eu chamei de volta, porque, se ele entrasse na água, talvez nele sair a canoa virava. Chamei, ele voltou pra trás. A gente controlou a canoa e no final deu tudo certo."

Ministério Público

De acordo com o promotor do Meio Ambiente, Fernando Martins, apesar das imagens que impressionaram, não foram constatados danos ambientais na área da represa.

Segundo ele, o acidente revela um problema técnico em relação às suas condições de escoamento, associadas aos dejetos que são despejados na região. O caso é alvo de um inquérito desde 2013.

"Alguns peixes que morreram são exóticos, tilápias, ou invasores, carpas, exóticas também, que a rigor não poderiam estar num ambiente natural. São espécies invasoras, isso não causa dano ambiental", explica.

Represa esvazia

Peixes morreram e um barco com dois funcionários foi parar dentro de um buraco após a maior represa de Franca (SP) se esvaziar devido a uma falha nas comportas no final da tarde de sexta-feira (15). Toda a movimentação foi registrada em imagens.

Os funcionários do Clube Castelinho, onde fica o reservatório, haviam entrado às pressas com a embarcação para tentar salvar os peixes que ficaram retidos na lama, depois que a água começou a escoar sem controle para o Córrego do Espraiado.

As estruturas de contenção tinham sido abertas para que fosse medida a vazão da Represa do Castelinho, mas não foram fechadas devido a um galho, segundo a direção, e a maior parte da água escoou.

O vídeo mostra que o barco dos funcionários foi parar justamente sobre o ponto de vazão, que abriu um buraco no meio da lama. Os encarregados foram resgatados por um guindaste e não se feriram.