Brasil

Ex-mulher de vereador obrigada a comer terra teme pela vida: "Frio e insensível"

Parlamentar foi condenado pela Justiça depois de agredir a ex-companheira em Mongaguá, no litoral paulista

Por G1 18/08/2017 11h59
Ex-mulher de vereador obrigada a comer terra teme pela vida: 'Frio e insensível'
Reprodução - Foto: Assessoria

Meu medo é de repressão, medo que façam algo comigo". O desabafo é da educadora física, de 33 anos, ex-mulher do vereador Guilherme Prócida (PSDB), de Mongaguá, no litoral de São Paulo. Ele foi condenado essa semana pela Justiça a três meses e 18 dias de detenção por agredí-la.

As agressões que motivaram a mulher a denunciar Guilherme à polícia ocorreram às vésperas do Natal de 2011. Na ocasião, ela discutiu e acabou ferida pelo ex-marido após descobrir uma suposta traição. A educadora disse que recebeu socos na cara, foi arrastada pela escada e obrigada comer terra.

"Sinto que o físico recupera-se, as feridas saíram. Mas o psicológico não, esse está abalado", desabafa. Para a vítima, que prefere manter o anonimato, o caso dela serve de exemplo para outras mulheres que são vítimas de violência doméstica pelo país e têm medo de denunciar o companheiro à polícia.

"Fui humilhada, ameaçada. Mesmo que eu ache injusta a pena, por todo o meu tempo de sofrimento e lembranças, vejo que ele não saiu totalmente impune", disse. A condenação ocorreu na última segunda-feira (14), após a Justiça entender que os ferimentos que ela sofreu ocorreram pelas agressões do então marido.

"Sofri muitas ameaças. Não sei até que ponto o Guilherme pode chegar por sua própria imagem, pois o descrevo como uma pessoa fria, insensível e sem compaixão", desabafou, em entrevista ao G1. Após o ocorrido, ela se divorciou e foi morar com familiares no interior do estado.

'Pacificador'

Após a repercussão do caso, na quinta-feira (17), o vereador Guilherme Prócida publicou uma postagem em uma rede social se dizendo inocente de todas as acusações. "Nunca tive problemas. Sou totalmente contra violência e sou noivo de uma mulher maravilhosa. Sempre fui pacificador", escreveu.

Por nota, quatro advogados que trabalham na defesa do vereador afirmam que consideram o cliente inocente e que testemunhas provaram isso nos autos. "As alegações mostram claramente a intenção de expor e denegrir a imagem do Guilherme, mesmo sem haver uma decisão definitiva da Justiça", pontuaram.

Ainda por meio do comunicado, a defesa do parlamentar disse que vai acionar a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pelo fato da advogada da ex-mulher do cliente ter "tentado se auto-promover com um processo que corre em segredo de Justiça, justamente pela fragilidade das afirmações".

O caso

"A briga ocorreu dentro da casa deles. Após relatar o que sabia ao Guilherme, ele deu diversos socos na cara dela, a puxou pelos cabelos e a arrastou pelas escadas. Ela disse que contaria a todos sobre a vida promíscua que ele mantinha, inclusive frequentando casas de swing [troca de casais]", disse a advogada da ex-mulher, Cristina Yoshiko Saito.

Segundo Cristina, na mesma ocasião, ele a fez engolir a raiz de uma planta. "Ele disse que ela tinha que comer terra para parar de falar as coisas. Depois disso, a ex-mulher saiu da cidade ameaçada e escorraçada. Ela decidiu por registrar o caso na polícia e continuar com a ação em seguida", explicou.

Durante o processo, a advogada afirma, também, que a educadora física chegou a ser ameaçada. "Ela recebeu e-mails com avisos. Em um deles, estava escrito: 'Cuidado, você pode amanhecer boiando em um rio'. Tudo isso está nos autos, que foram julgados após quase cinco anos", afirmou a defensora.

A ex-mulher decidiu se separar do vereador após o ocorrido e se mudou para o interior do estado. "Não houve absolvição por parte do Ministério Público, nem prescrição da pena de agressão", disse a advogada. Divorciado, Guilherme Prócida é filho do prefeito da cidade, Artur Parada Prócida (PSDB).