Brasil
Menor viciado em crack acorrentado pela mãe diz que atitude o salvou
Adolescente de 17 anos está internado em uma clínica de Bady Bassitt; Mulher de 35 anos ficou três dias acorrentada com o filho em Itapetininga
"A droga, o crack, só causa destruição. Eu estava me matando sozinho até que minha mãe resolveu me salvar ao me deixar acorrentado com ela para evitar uma tragédia. O vício me fez furtar e deixar minha família preocupada. Eu preciso de ajuda e quero melhorar. Quero me libertar do crack.” O relato é do adolescente de 17 anos, que ficou acorrentado à mãe por três dias devido ao vício em crack, em Itapetininga (SP).
Internado há mais de uma semana em uma clínica de reabilitação na região de São José do Rio Preto, o menor afirmou ao G1 que agradece a atitude da mãe e o desejo é voltar recuperado.
“No início eu fiquei bravo porque não queria ir para a clínica. Mas após essa semana aqui, percebi o quanto foi importante a atitude da minha mãe de me acorrentar e me impedir que me destruísse ainda mais. Ela me salvou e sei disso. Ela me ama. Então, eu quero voltar curado, ficar liberto. Sair dessa vida. Estou gostando daqui, fiz amigos. Está sendo bom”, diz. Vício e furtosO adolescente contou que há dois anos não consumia droga e já chegou a ser internado em São Paulo. Porém, ele afirma que teve uma recaída ao fumar uma pedra de crack.
“Comecei a usar ainda na infância, mas eu estava tranquilo há dois anos. Foi aí que me ofereceram e o vício voltou. Tinha R$ 300 que consegui trabalhando e gastei tudo em droga. Depois, comecei a furtar objetos”, diz.O garoto revelou que chegou a “limpar” a casa da avó e invadiu casas da vizinhança. Com isso, passou a ser ameaçado pelos moradores.
“Eu fiz isso para comprar a droga, pois não tinha dinheiro. Invadi várias casas e pegava diversos objetos para continuar com o vício. Quando você está viciado, você sabe que está fazendo errado, mas não se importa porque o que mais quer é usar droga”, afirma. SonhoPara o menor, o grande sonho é voltar a estudar, já que parou no ensino fundamental, e ser bombeiro.
“Já pensei em ser advogado, médico. Mas quero mesmo ser bombeiro e ajudar a salvar vidas. Quem sabe quando eu sair daqui eu consiga. Quero poder trabalhar e ajudar minha avó e minha mãe. Eu as amo muito e quero compensar tudo que fiz”, ressalta. AlívioA mãe do adolescente de 17 anos afirmou que já está conseguindo dormir mais tranquila e a sensação é de alívio por saber que o filho está sendo tratado.
“Eu posso dizer que a sensação é de alívio e de paz após uma semana de internação. Não estava conseguindo dormir direito por pensar que meu filho podia morrer a qualquer momento, seja por causa das drogas ou pelas ameaças que vinha sofrendo. Agora estou dormindo mais tranquila por saber que ele está na clínica sendo tratado. Eu acredito que dessa vez dará certo e ele vai se recuperar. Valeu muito a pena ter acorrentado ele para tentar salvá-lo. Eu não me arrependo e faria de novo.”
A dona de casa, de 35 anos, conta que conversa todos os dias com o dono da clínica, o qual envia fotos do adolescente e informações sobre o tratamento.
“Ele me mandou uma foto em que o meu filho está tão mais sereno e com um semblante diferente. Um rosto mais tranquilo. Eu fiquei tão feliz em ver. Além disso, ele me falou que o meu filho fala que ama muito eu e minha mãe, e que quer se recuperar. Isso não tem preço”, afirma.
As visitas são autorizadas apenas no segundo domingo do mês. Para a mãe, será um momento emocionante o reencontro. "Eu já estou com muita saudade dele e sei que vou me emocionar muito quando vê-lo. Minha mãe também está com saudade. Queremos apenas o bem dele. Não vejo a hora de encontrá-lo e ver ele melhor. Sei que não estará bravo pelo que fiz porque sabe que foi para o bem dele", diz.A moradora também afirma que guardou a corrente usada para prender o adolescente na casa da sua mãe e espera não usá-la.
“Eu guardei ela e espero nunca mais precisar. Mas ela foi muito útil e fez com que eu conseguisse uma clínica. Claro que se precisar de novo, eu faço. Mas tenho fé que ele não vai mais usar droga e que tudo dará certo”, ressalta.Tratamento
Segundo o responsável pelo local, Pedro Henrique Ribeiro Araújo, o grau de dependência do jovem é forte, mas que ele está bem e medicado.
"Geralmente, o tratamento dura de seis a nove meses, mas ele chegou com um grau de dependência química muito forte. Por isso, a previsão é de pelo menos nove meses. Em três meses o adolescente se recupera da dependência física, mas a dependência emocional e mental demora mais. A recuperação do trauma, o pesadelo e a obsessão demoram cerca de seis meses. A gente conversou e ele já se diz arrependido de ter deixado a avó cheia de contas e sem nada, o que é um bom sinal", afirma.
Araújo diz que a abstinência só deve aparecer daqui a uma semana. "A abstinência não virá com o pedido da droga, mas com a vontade de ir embora. Ele irá dizer que está com saudade da mãe e deve chorar bastante, mas o remédio tira a ansiedade", explica.
Para o dono da clínica o adolescente tem chance de se recuperar. "A gente trabalha com a trilogia: igreja, conscientização (grupos de autoajuda) e laborterapia. No nosso caso, o trabalho será ajudar durante 50 minutos com os afazeres de casa. Se ele praticar o que aprendeu ao sair da clínica, com certeza não terá recaída", diz.
Antes de sair da clínica o menor passará por um trabalho de reinserção social, em que trabalhará e estudará de forma monitorada. Araújo diz que a mãe do adolescente só poderá visitá-lo no segundo domingo do próximo mês.
‘Melhor acorrentar do que ver ele morto’
A dona de casa afirmou que encontrou em uma corrente de seis metros a alternativa para salvar o filho e tentar a internação em uma clínica.
“Eu fiz de tudo e nada funcionou. Procurei a polícia, procurei o Caps, mas ele não melhorou. Não adiantou. Foi então que, depois de saber que ele era ameaçado por vizinhos por furtar objetos para comprar droga que resolvi acorrentá-lo e não deixá-lo sair. Melhor acorrentar do que ver ele morto. Eu faria de novo se fosse preciso”, afirma.
A mulher contou que morava com o adolescente e outros quatro filhos em Itapetininga, quando há três meses o marido conseguiu um emprego no interior de Mato Grosso do Sul, para onde mudaram. O garoto chegou a ir junto, mas, segundo a mãe, por apresentar problemas com drogas e bebidas, voltou a morar com a avó em Itapetininga. De acordo com a mãe, o filho teria passado a furtar vizinhos e até a própria avó para comprar crack.
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