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Carroceiro morto pela PM em Pinheiros já foi gerente de loja

Ricardo Teixeira, de 39 anos, foi baleado na tarde desta quarta-feira; Ele chegou há 15 anos em Pinheiros e trabalhou em uma loja e num mercado antes de virar carroceiro

Por G1 14/07/2017 09h55
Carroceiro morto pela PM em Pinheiros já foi gerente de loja
Reprodução - Foto: Assessoria

O carroceiro Ricardo Teixeira entrou em um restaurante na última terça-feira (11), na Rua Mourato Coelho, em São Paulo, e se virou para um altar com a imagem de Nossa Senhora que fica na entrada. Por ser morador de rua, foi convidado a se retirar. "Só quero ver em que página está a Bíblia", respondeu. Ele fez o sinal da cruz, e saiu. No dia seguinte, ele seria morto com dois tiros por um policial militar.

Ele chegou na região de Pinheiros, Zona Oeste da capital paulista, há cerca de 15 anos, para ser funcionário de uma loja de artigos para casa na Rua Teodoro Sampaio. "Menino bom, sem problemas, tanto que chegou à gerência", disse o dono da loja, Fernando Braga.

Ricardo ficou cerca de 3 anos na loja. Fátima Munhoz, que foi colega de trabalho na época, também elogiou o tempo de convívio. "Sempre feliz", descreveu. Os colegas de trabalho contam que ele era reservado em relação à família e não comentava sobre parentes.

O dono da loja disse que Ricardo saiu para trabalhar numa filial de uma rede de supermercados no mesmo bairro, mas que não sabe o que o fez sair do emprego fixo e depois começar a trabalhar como carroceiro na região. "Sou do mundo, sou livre", ele costumava dizer, disse o ex-chefe.

Como carroceiro, estava há mais de 10 anos na região. Nos últimos anos, a rotina dele era recolher papelão e outros materiais durante a noite. No começo da manhã, levava tudo para o depósito que fica na Rua Padre João Gonçalves, também em Pinheiros.

Ele chegava por volta de 7h, 8h, pesava o material, tomava banho no depósito e saía. Segundo um funcionário do local, o carroceiro recebia cerca de R$50 por dia com o material, de segunda a sábado. "Ele era brincalhão. Agora o que fica é a tristeza", disse o funcionário Marcelo Batista.

Na manhã desta quinta-feira (13), as três carroças de Ricardo foram levadas pela última vez ao depósito para onde iam todos os dias. Quem levou os instrumentos de trabalho foi o amigo Duacir Francisco da Silva, de 52 anos. "Nunca pensei em ver uma coisa dessa. A gente imagina que um policial fala duramente com a gente, mas não imagina isso. É difícil. Quando me ligaram, achei que era brincadeira".

Duacir e outros carroceiros tiraram os materiais das carroças, e, entre muito papelão e plásticos, encontraram brinquedos, canetas e um radinho onde ele gostava de escutar os jogos do Corinthians. "Se ele estivesse aqui hoje com certeza estaria zoando os palmeirenses. Hoje não tem nem graça de zuar", disse um amigo enquanto tirava as coisas da carroça.

Morte

O carroceiro Ricardo Nascimento levou dois tiros na região do tóraxpor volta das 18h desta quarta-feira (12). A reportagem do G1 escutou os tiros e chegou ao local da ocorrência (a Rua Mourato Coelho, perto da Rua Teodoro Sampaio) logo após os disparos.

Testemunhas que viram a ocorrência disseram que o morador estava alterado e segurava um pedaço de madeira. "Baixa o pau, baixa o pau", teria dito o policial, segundo Maria do Socorro. Em seguida, ao fazer um movimento como se fosse jogar o pedaço de madeira, o policial disparou duas vezes e Ricardo caiu.

Sob gritos de "assassinos” e “fascistas”, os policiais colocaram a vítima dentro de um carro da polícia, cerca de 15 minutos depois dos tiros. Ele foi levado para o Hospiral das Clínicas mas não resistiu. Os policiais envolvidos na ação foram afastados das ruas, informou a Secretaria de Segurança Pública.

No boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil, o policial militar afirma que “foi obrigado a efetuar os disparos de arma de fogo” para se defender.

Imagens de câmera de segurança registraram o momento em que o carroceiro foi baleado. No vídeo, é possível ver o momento em que o carroceiro desce a rua, na esquina da Mourato Coelho coma Navarro de Andrade. Ele volta e depois cai no chão, provalmente no momento em que é atingido pelos tiros.