Brasil
Vítima que agrediu assaltantes em SP se defende: "Eram eles ou nós"
Dupla foi agredida ao tentar roubar um veículo em Praia Grande, no litoral paulista; Mãe de um dos criminosos quis registrar um B.O. de lesão corporal em favor do filho, mas delegado não permitiu
Um motorista de uma empresa de embalagens foi quem deteve dois criminosos que tentavam roubar um veículo de uma firma em Praia Grande, no litoral de São Paulo. O homem foi ajudar um colega, que havia sido rendido após ser ameaçado pela dupla. A reação, segundo ele, ocorreu em legítima defesa: "Eram eles ou nós".
O caso ocorreu na quinta-feira (6). Erick Thadeu Pariz de Oliveira, de 23 anos, e Gregory Perciliano de Jesus, de 20, tentaram roubar com uma arma falsa um veículo no bairro Quietude. Não conseguiram, foram imobilizados, agredidos e desarmados pelas vítimas. Em seguida, acabaram presos pela Polícia Militar. Familiares tentaram registrar um boletim de ocorrência a favor deles, por lesão corporal.
O administrador de empresas Felipe Nascimento, de 20 anos, estava movimentando o veículo quando foi surpreendido pelos dois criminosos. Com a arma em punho, eles o renderam e mandaram entregar o utilitário. "Saí do volante, deixei tudo ligado e entreguei para eles, não fiz nada. Mas ele não conseguir dar a partida".
Outro funcionário, Marcus Novaes, de 38 anos, militar reformado, flagrou a ação. "Eu ouvi uma gritaria e fui ver o que estava acontecendo. Na hora, eu não pensei muito. Quando me aproximei do carro, um deles saiu. Eu dei um soco na cara do rapaz e ele caiu no chão. O outro tentou sair com o veículo, mas não conseguia", disse.
Marcus tentou deter o outro criminoso. Os dois começaram a brigar. "Ele reagiu e veio para cima de mim. Lutamos. Ele ficou machucado e eu também. Eu quebrei os dedos da minha mão direita", conta. Em seguida, os dois, desarmados, foram contidos pelos funcionários da empresa, que acionaram a Polícia Militar.
Os funcionários falam que a dupla quase foi linchada pelos moradores do bairro. "Nós não deixamos que isso acontecesse. A gente sabe que está todo mundo cansado, mas a gente não queria isso. Eu reagi sem pensar muito. Se aquela arma deles disparasse, minha mãe poderia estar chorando agora", disse Marcus.
Gregory e Erick ficaram feridos. Na delegacia, após serem presos, familiares dos dois quiseram registrar um boletim de ocorrência contra as vítimas por lesão corporal. "Foi uma humilhação. A gente tenta fazer tudo certo, trabalha para conseguir dinheiro. Somos assaltados e ainda somos os culpados?", desabafou Felipe.
O delegado Alexandre Comin, responsável pela ocorrência, prendeu a dupla por roubo, mas informou aos familiares de Gregory e Erick que não registraria um novo boletim, por entender que as vítimas do crime agiram em legítima defesa. "Eles estão respaldados pela lei", explicou a autoridade policial.
Nada justifica
Na sexta-feira (7), em entrevista ao G1, a mãe de Gregory disse compreender que o filho cometeu o crime. "Quando soube o que aconteceu, fui à delegacia ver meu filho. Cheguei lá e ele estava muito machucado. Ele foi espancado. Tentei registrar um boletim de ocorrência de lesão corporal. Nada justifica", disse.
A esposa de Erick também defende o marido. "Depois que o delegado negou o boletim, as vítimas ficaram rindo da nossa cara. Eu me senti humilhada. Que violência é essa deles? Não vai a lugar nenhum", definiu. Ela também alega que o delegado postou em uma rede social um comentário sobre o caso.
As duas familiares classificaram como "vexatória" a postagem do delegado, e negam qualquer ameaça feita contra as vítimas do roubo. No mesmo dia, os rapazes foram submetidos a audiência de custódia no Fórum de Santos e permaneceram presos. Inicialmente, eles seriam ouvidos no Fórum de Praia Grande.
O caso
Erick e Gregory tentaram roubar a carga de um caminhão na Rua Gastão de Souza Oliveira, segundo a Polícia Civil. Eles estavam armados. As vítimas conseguiram reagir, lutaram com os assaltantes e os imobilizaram até a chegada da PM. O caso foi encaminhado à Delegacia Sede da cidade, onde os dois foram presos.
O delegado Alexandre Comin, responsável pela ocorrência, reafirmou que atendeu os familiares da dupla, mas explicou a eles que não faria um boletim de ocorrência de lesão corporal em favor dos dois, pois as vítimas agiram em legítima defesa. Sobre a postagem na rede social, ele não quis comentar.
O caso foi registrado como roubo a patrimônio e segue em investigação. Comin ainda disse que os suspeitos foram submetidos a atendimento médico e a exame no Instituto Médico Legal (IML) de Santos, onde os médicos liberaram para permanecerem na carceragem. Ambos foram encaminhados à Cadeia Pública.
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