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Vítima que agrediu assaltantes em SP se defende: "Eram eles ou nós"

Dupla foi agredida ao tentar roubar um veículo em Praia Grande, no litoral paulista; Mãe de um dos criminosos quis registrar um B.O. de lesão corporal em favor do filho, mas delegado não permitiu

Por G1 08/07/2017 10h08
Vítima que agrediu assaltantes em SP se defende: 'Eram eles ou nós'
Reprodução - Foto: Assessoria

Um motorista de uma empresa de embalagens foi quem deteve dois criminosos que tentavam roubar um veículo de uma firma em Praia Grande, no litoral de São Paulo. O homem foi ajudar um colega, que havia sido rendido após ser ameaçado pela dupla. A reação, segundo ele, ocorreu em legítima defesa: "Eram eles ou nós".

O caso ocorreu na quinta-feira (6). Erick Thadeu Pariz de Oliveira, de 23 anos, e Gregory Perciliano de Jesus, de 20, tentaram roubar com uma arma falsa um veículo no bairro Quietude. Não conseguiram, foram imobilizados, agredidos e desarmados pelas vítimas. Em seguida, acabaram presos pela Polícia Militar. Familiares tentaram registrar um boletim de ocorrência a favor deles, por lesão corporal.

O administrador de empresas Felipe Nascimento, de 20 anos, estava movimentando o veículo quando foi surpreendido pelos dois criminosos. Com a arma em punho, eles o renderam e mandaram entregar o utilitário. "Saí do volante, deixei tudo ligado e entreguei para eles, não fiz nada. Mas ele não conseguir dar a partida".

Outro funcionário, Marcus Novaes, de 38 anos, militar reformado, flagrou a ação. "Eu ouvi uma gritaria e fui ver o que estava acontecendo. Na hora, eu não pensei muito. Quando me aproximei do carro, um deles saiu. Eu dei um soco na cara do rapaz e ele caiu no chão. O outro tentou sair com o veículo, mas não conseguia", disse.

Marcus tentou deter o outro criminoso. Os dois começaram a brigar. "Ele reagiu e veio para cima de mim. Lutamos. Ele ficou machucado e eu também. Eu quebrei os dedos da minha mão direita", conta. Em seguida, os dois, desarmados, foram contidos pelos funcionários da empresa, que acionaram a Polícia Militar.

Os funcionários falam que a dupla quase foi linchada pelos moradores do bairro. "Nós não deixamos que isso acontecesse. A gente sabe que está todo mundo cansado, mas a gente não queria isso. Eu reagi sem pensar muito. Se aquela arma deles disparasse, minha mãe poderia estar chorando agora", disse Marcus.

Gregory e Erick ficaram feridos. Na delegacia, após serem presos, familiares dos dois quiseram registrar um boletim de ocorrência contra as vítimas por lesão corporal. "Foi uma humilhação. A gente tenta fazer tudo certo, trabalha para conseguir dinheiro. Somos assaltados e ainda somos os culpados?", desabafou Felipe.

O delegado Alexandre Comin, responsável pela ocorrência, prendeu a dupla por roubo, mas informou aos familiares de Gregory e Erick que não registraria um novo boletim, por entender que as vítimas do crime agiram em legítima defesa. "Eles estão respaldados pela lei", explicou a autoridade policial.

Nada justifica

Na sexta-feira (7), em entrevista ao G1, a mãe de Gregory disse compreender que o filho cometeu o crime. "Quando soube o que aconteceu, fui à delegacia ver meu filho. Cheguei lá e ele estava muito machucado. Ele foi espancado. Tentei registrar um boletim de ocorrência de lesão corporal. Nada justifica", disse.

A esposa de Erick também defende o marido. "Depois que o delegado negou o boletim, as vítimas ficaram rindo da nossa cara. Eu me senti humilhada. Que violência é essa deles? Não vai a lugar nenhum", definiu. Ela também alega que o delegado postou em uma rede social um comentário sobre o caso.

As duas familiares classificaram como "vexatória" a postagem do delegado, e negam qualquer ameaça feita contra as vítimas do roubo. No mesmo dia, os rapazes foram submetidos a audiência de custódia no Fórum de Santos e permaneceram presos. Inicialmente, eles seriam ouvidos no Fórum de Praia Grande.

O caso

Erick e Gregory tentaram roubar a carga de um caminhão na Rua Gastão de Souza Oliveira, segundo a Polícia Civil. Eles estavam armados. As vítimas conseguiram reagir, lutaram com os assaltantes e os imobilizaram até a chegada da PM. O caso foi encaminhado à Delegacia Sede da cidade, onde os dois foram presos.

O delegado Alexandre Comin, responsável pela ocorrência, reafirmou que atendeu os familiares da dupla, mas explicou a eles que não faria um boletim de ocorrência de lesão corporal em favor dos dois, pois as vítimas agiram em legítima defesa. Sobre a postagem na rede social, ele não quis comentar.

O caso foi registrado como roubo a patrimônio e segue em investigação. Comin ainda disse que os suspeitos foram submetidos a atendimento médico e a exame no Instituto Médico Legal (IML) de Santos, onde os médicos liberaram para permanecerem na carceragem. Ambos foram encaminhados à Cadeia Pública.