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"Meu filho não é bicho", diz mãe de adolescente tatuado na testa

Vania Rocha afirmou que menino é doente e precisa de tratamento contra dependência química e alcoolismo; Tatuador e comparsa foram presos em São Bernardo do Campo

Por G1 12/06/2017 08h24
'Meu filho não é bicho', diz mãe de adolescente tatuado na testa
Reprodução - Foto: Assessoria

O auxiliar de limpeza Vania Rocha, mãe do adolescente que teve a testa tatuada por dois agressores em uma pensão em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, disse que o filho foi tratado com crueldade por parte do tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, 27 anos, e o vizinho dele, Ronildo Moreira de Araújo, 29 anos. Eles foram presos em flagrante por tortura nesta sexta-feira (9). "Meu filho não é boi, não é animal. Ele não é bicho."

Ela está preocupada com a recuperação do filho, que estava desaparecido desde 31 de maio até sofrer a agressão. "A gente precisa tirar isso do rosto dele porque ele não é bicho. Muita gente está julgando ele, mas ninguém conhece a história dele. A única coisa que a gente quer é Justiça."

Vania disse ao G1 que não conseguiu até agora assistir ao vídeo em que o filho é tatuado na testa. "Infelizmente eles vão pagar pelo erro deles. Só tenho pena da família deles. Quando eu recebi o vídeo eu não consegui assistir. Eu vi a foto e isso acabou comigo, acabou com a família. Como ele vai sair por aí? Ele é vítima da sociedade."

A mãe espera conseguir tratar a dependência química do filho. "Ele precisa de ajuda, de tratamento, a gente não tem condições de pagar, a gente é pobre. Eu sou auxiliar de limpeza e estou desempregada. Eu estou acabada, ele pode ser o que for, mas o ser humano não tem direito de fazer isso. Ele é uma criança, ele é doente, não precisa de críticas, precisa de ajuda, de tratamento."

O adolescente disse ao G1 que "teve vontade de morrer" quando se olhou no espelho e viu a frase "Sou ladrão e vacilão" marcada para sempre em seu rosto. "Comecei a chorar". Ele foi reencontrado neste sábado (10) e passou a tarde deste domingo (11) com a avó, a mãe, tio e amigos.

O rapaz de 17 anos negou que tenha roubado uma bicicleta de um deficiente físico, como alegaram os dois homens que o torturaram. "Eu estava bêbado, esbarrei na bicicleta e ela caiu", afirmou.

Os responsáveis pela tortura estão presos no 3º Distrito Policial de São Bernardo do Campo e devem ser transferidos para um Centro de Detenção Provisória. A juíza Inês Del Cid, da Vara Criminal de São Bernardo do Campo, decretou a prisão preventiva deles neste sábado.

"Ele é muito querido no bairro e muitas pessoas começaram a procurar por ele. Vieram nos avisar onde ele estava e os amigos foram buscá-lo. Agora ele está na casa da avó, descansando. Vamos cuidar da saúde dele", disse Vando Rocha, tio do adolescente.

Além de ter a testa marcada com uma tatuagem, o adolescente revelou que teve o cabelo cortado e teve os pés e as mãos amarrados por Ronildo e Maycon. "Eu comecei a puxar o cabelo para a frente para tentar esconder e eles então cortaram meu cabelo."

O advogado da família, Leonardo Rodrigues, disse ao que deve se reunir com a família para saber quais medidas jurídicas deve tomar nos próximos dias. "Vamos avaliar. Primeiro vamos cuidar dele, ele foi medicado, está assustado com o que passou. Muitas pessoas compartilharam a imagem dele fazendo julgamento sem conhecer os fatos. Ele não fez nada do que foi dito e espalhado na internet."

O crime

A tatuagem foi filmada com o celular de Maycon, compartilhada no WhatsApp e o vídeo viralizou rapidamente. Nas imagens é possível perceber que o adolescente não reage às provocações do tatuador e do vizinho dele. Em certo momento, um deles diz: "vai doer, vai doer". Em outro momento eles perguntam ao menino o que ele quer tatuar e forçam a resposta: "ladrão."

Com o vídeo em mãos, a família foi até o 3º DP de São Bernardo do Campo para tentar localizar o paradeiro do adolescente. Com as informações passadas pela família, uma equipe de investigadores seguiu até a Rua Jurubatuba, no Centro da cidade, onde localizaram o tatuador na calçada. No local não funciona um estúdio de tatuagem, mas uma pensão onde Ronildo e Maycon eram vizinhos.

Na delegacia, os dois disseram para a delegada Carolina Nascimento Aguiar que o adolescente teria tentado furtar uma bicicleta na região e ficaram revoltados com isso e "resolveram tatuar o mesmo como forma de punição".

A tatuagem foi filmada com celular e compartilhada no WhatsApp e o vídeo viralizou rapidamente. Nas imagens é possível perceber que o adolescente não reage às provocações do tatuador e do vizinho dele. Em certo momento, um deles diz: "vai doer, vai doer". Em outro momento eles perguntam ao menino o que ele quer tatuar e forçam a resposta: "ladrão."