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‘Foi tudo para o fundo’ diz índio que perdeu casa após enxurrada em Roraima

Defesa Civil diz que 936 índios foram afetados por enxurrada que ocorreu na madrugada de quinta-feira (18) em Uiramutã

Por G1 22/05/2017 17h57
‘Foi tudo para o fundo’ diz índio que perdeu casa após enxurrada em Roraima
Reprodução - Foto: Assessoria

"Estávamos achando que os rios não iriam encher, mas encheram e foi tudo para o fundo", disse Max Pereira líder indígena da comunidade Kumapai, umas das 15 afetadas por uma enxurrada na Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

Nesta segunda-feira (22), a Defesa Civil do estado reiterou que 936 índios que vivem na circunscrição da Raposa Serra do Sol e do município de Uiramutã foram afetados pela enxurrada que ocorreu na madrugada da quinta-feira (18) devido à cheia repentina dos rios Maú e Uailã. Não há registro de mortos ou feridos.

Em entrevista à Rede Amazônica Roraima, o líder indígena disse que 63 famílias da comunidade Kamapai estão desabrigadas. Todos estão acampados na comunidade Uiramutanguen que não foi afetada pela enxurrada.

"A minha casa foi para o fundo às 5h [de quinta-feira]. Ela foi a última casa da comunidade Kumapai a afundar", conta Pereira.

Ele relembrou que no momento do desastre todos se preocuparam em salvar as pessoas, deixando máquinas e animais para trás.

"Cuidamos de salvar as pessoas e o resto ficou lá. Então, as casas e as coisas que ficaram dentro delas se foram".

Casas ficaram submersas após cheia súbita de rios em Uiramutã (Foto: Rede Amazônica Roraima/Reprodução)

O líder indígena afirma que os moradores da comunidade perderam maquinários, além das produções de mandioca, batata, cebola e cheiro verde.

"Choramos porque perdemos o que construímos trabalhando. A água foi rápida, se não tivéssemos barcos lá, teríamos perdido até nossos filhos", Santília de Souza, catecista e moradora de Kumapai.

A força da água danificou 45 moradias nas 15 comunidades afetadas, conforme a Defesa Civil, sendo que algumas chegaram a ficar submersas. Duas escolas foram atingidas pela água e estão sem funcionar desde então. Ainda não há um número preciso de desabrigados.

As comunidades afetadas são: Caveira, Canã, Kumapai, Kanapang, Nova Esperança, Ximarão, Mutiár I, Muriar II, Mutun, Central, Prododó, São Matheus, Lage, Orinduque e Boca do Uailã, segundo o governo.

As produções agrícolas dos índios também foram afetadas pela enxurrada. A Defesa Civil estima que 57 hectares de produção foram atingidos pelas águas.

O município de Uiramutã fica no extremo Norte de Roraima e possui cerca de 9 mil habitantes, segundo o IBGE. A cidade fica a mais de 300 KM da capital Boa Vista.

'Cheia é histórica’, diz governadora

A governadora de Roraima Suely Campos (PP) disse em coletiva de imprensa nesta segunda-feira que a situação na cidade é histórica.

“Não temos registro de enxurradas iguais. Foi um fenômeno natural, imprevisto, que requer muitos cuidados pois o período chuvoso está apenas começando aqui em Roraima”, declarou Suely.

De acordo com ela, o estado já tem um plano de contingência pronto caso ocorram enchentes ou enxurradas em outras cidades.

No domingo (21), o prefeito da cidade confirmou ao G1 que decretaria emergência na cidade nesta segunda-feira . Até o início desta tarde, no entanto, não havia informação se o decreto já tinha sido oficializado e o prefeito não atendia as ligações da reportagem.

Em coletiva, governadora Suely Campos (PP), ao lado do chefe da Defesa Civil Doriedson Ribeiro, disse que desastre ocorrido em Uiramutã é histórico (Foto: Emily Costa/G1 )

Rio subiu 5 metros antes de enxurrada, diz Defesa Civil

De acordo com o coronel Doriedson Ribeiro, chefe da Defesa Civil, o rio Maú, onde o Uailã desemboca, subiu 5 metros na madrugada em que ocorreu a enxurrada. A cheia foi súbita e pegou os moradores desprevenidos.

Hoje, quatro dias após a enxurrada, a Defesa Civil considera que o nível do rio está baixando, mas ainda monitora a região no intuito de evitar novos desastres, uma vez que ainda há chuvas intensas na região. “De todo modo, o estado hoje é de atenção em Uiramutã”, afirma.

Ele explicou que a meta da Defesa Civil agora é levar comida, roupas e água potável às comunidades afetadas pela enxurrada. "Há possibilidade de surtos de doenças, por isso trabalhamos para evitar mais danos nas localidades atingidas”, frisa.

O Exército também está na região e prestar atendimentos médicos e humanitário nas áreas afetadas pela enxurrada.

Risco de enchentes em outras cidades

Ainda segundo o coronel da Defesa Civil, as chuvas no estado estão acima do previsto. Ele afirmou que só em Boa Vista a previsão de chuva para o mês de maio estava em 220 milímetros, mas até agora já choveu o equivalente a 350 milímetros.

“Há a tendência de uma cheia semelhante a que ocorreu em 2011, quando a capital foi afetada. Por isso, o Corpo de Bombeiros, por meio da Defesa Civil, está se preparando para novas cheias e eventuais situações de emergência”, afirmou.

Ele disse ainda que também há risco de enchente em Caracaraí, mas que a situação na cidade é igualmente monitorada. “Estamos em alerta em todo o estado”, finalizou.

Doações

Emília Campos, titular da Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social (Setrabes), anunciou que a pasta está recebendo doações de roupas, alimentos e água potável para os moradores afetados pela enxurrada. Os donativos podem ser entregues na própria Setrabes, na zona Oeste de Boa Vista, das 8h às 18h na sala 78.