Brasil

MPF apura se mesada de R$ 500 mil para Cabral virou doação a partido

"Tais fatos poderão fundamentar nova denúncia", diz acusação do Ministério Público. Partido confirma doação, mas diz que não tinha "conhecimento da procedência do dinheiro"

Por G1 17/05/2017 13h22
MPF apura se mesada de R$ 500 mil para Cabral virou doação a partido
Reprodução - Foto: Assessoria

O Ministério Público Federal (MPF) investiga se uma mesada de R$ 500 mil recebida pela quadrilha liderada pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) foi repassada como doação oficial de campanha ao partido Solidariedade, em 2014.

A informação consta na oitava denúncia contra Cabral, que inclui outros seis acusados, por fraudes na Secretaria de Saúde. O Solidariedade confirma a doação oficial, mas diz que não sabia a "procedência do dinheiro" (veja nota na íntegra abaixo). A doação foi feita pela Levfort, do ramo da Saúde, que não se posicionou até a última atualização desta reportagem.

"Tais fatos serão investigados e poderão fundamentar nova denúncia por lavagem de dinheiro", diz o MPF.

A descoberta foi feita em uma planilha informal, onde seriam feitos os registros de contabilidade da organização criminosa de Cabral. No documento, aparece o termo "doação Solidariedade" ao lado do codinome "Xerife". O MPF afirma que o codinome "Xerife" é uma referência aos sócios da empresa Sheriff Serviços e Participações, Miguel Iskin e Gustavo Estellita, ambos denunciados.

A empresa era a principal beneficiária de licitações viciadas na área da Saúde, através de um cartel, com contratos superfaturados. A propina era redistribuída para abastacer o esquema de corrupção.

Entre 2013 e 2016, a Sheriff teria feito 31 repasses de mesada que variavam de R$ 400 mil a R$ 500 mil. A planilha era escrita manualmente e foi encontrada na casa do operador Luiz Carlos Bezerra. Em três anos, somente analisando planilhas como esta, o MPF concluiu que foram movimentados R$ 37 milhões de origem ilícita entre 2013 e 2016.

"O pagamento de propina por Gustavo Estellita registrado por Carlos Bezerra se referiu a uma doação oficial de campanha ao Partido Solidariedade, no valor de R$ 500 mil", diz a denúncia.

"Doação, que na verdade foi decorrente, de fato, da propina devida mensalmente pelo empresário à ORCRIM (organização criminosa) comandada por Sérgio Cabral. A prestação de contas junto à Justiça Eleitoral a seguir prova que o fato se deu em 25/07/2014".

Solidariedade confirma doação, mas diz que não sabia da procedência do dinheiro (Foto: Reprodução / Ministério Público Federal)

Nota na íntegra do Solidariedade

"O Solidariedade confirma o recebimento de doação financeira de R$ 500 mil da Levfort Comércio e Tecnolgia Médica de forma legal e garante que cumpriu com todas as cláusulas de prestação de contas exigidas na época em questão, quando eram permitidas as doações de pessoas jurídicas a partidos políticos. A importância foi dividida e utilizada nas campanhas de quatro deputados federais e um estadual. A legenda deixa claro que nenhum se candidatou pelo Rio de Janeiro. O Solidariedade ressalta ainda que não tinha conhecimento da procedência do dinheiro."

Fraude na Saúde

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e outras seis pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal por corrupção passiva e ativa e organização criminosa por irregularidades cometidas na Secretaria Estadual de Saúde, entre 2007 e 2014.

Além do ex-governador, César Romero, Carlos Miranda, Carlos Bezerra, Sérgio Côrtes, Miguel Iskin e Gustavo Estellita são acusados pela Força-tarefa Lava Jato no Rio de Janeiro de pagar ou receber propina para fraudar contratos da área de saúde.

As investigações indicam que Miranda e Bezerra eram os encarregados de distribuir a propina paga pelos empresários, em um total de mais de R$ 16,2 milhões, conforme demostram anotações feitas pela própria organização criminosa.

De acordo com a denúncia do Ministério Público, o esquema, operado por Côrtes e por Romero, ex-secretário e subsecretário da pasta, direcionava as licitações de serviços e equipamentos médicos ao cartel organizado por Miguel Iskin e Gustavo Estellita, sócios nas empresas Oscar Iskin Ltda. e Sheriff Serviços e Participações.