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Novo vídeo mostra detalhes do momento em que PM agrediu estudante em protesto

Imagens revelam confusão começando na avenida Anhanguera e vítima de agressão sendo atingida por policial militar com cassetete

Por G1 02/05/2017 07h34
Novo vídeo mostra detalhes do momento em que PM agrediu estudante em protesto
Reprodução - Foto: Assessoria

Um vídeo mostra, em detalhes, o momento em que o estudante Mateus Ferreira da Silva, de 33 anos, foi agredido por um policial militar com um cassetete durante uma manifestação, em Goiânia. O rapaz segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), em estado grave. Ele passou por sessão de hemodiálise na tarde desta segunda-feira (1º), realizada sem intercorrências.

A gravação mostra quando policiais militares conversavam com manifestantes que protestavam na Praça do Bandeirante, no cruzamento das avenidas Goiás e Anhanguera. Em seguida, segurando os cassetetes com as duas mãos, os PMs começavam a empurrar algumas pessoas. Em meio à gritaria e confusão, é possível ouvir barulhos de rojões.

As imagens continuam e mostram os policias caminhando lado a lado pela avenida Anhanguera, em meio aos manifestantes, alguns mascarados e outros não. Enquanto isso ouvem-se outros estouros e é possível ver Mateus no meio da rua, segurando um tecido preto sobre o nariz e a boca. Ele começou a correr em direção à câmera, enquanto, ao fundo, policiais militares caminham no sentido de uma agência bancária e mascarados correm.

Em seguida, é possível ver, de perto, Mateus sendo atingido na testa pelo capitão Augusto Sampaio, que vinha pela avenida Anhanguera. Com a força da pancada, o cassetete do policial quebrou. Nesse instante, alguns manifestantes mascarados olhavam para a cena, mas seguiram correndo.

Autor das imagens, o fotógrafo Luiz da Luz também começou a correr na direção contrária até chegar nas proximidades de algumas bancas, quando parou de gravar.

Outro vídeo veiculado pela TV Anhanguera já havia mostrado a situação e uma sequência de imagens também detalham a agressão contra o estudante.

Agressão

Após ser agredido, Mateus ficou caído no chão. O autor da agressão saiu correndo. Já o rapaz recebeu os primeiros socorros de outros manifestantes.

Amigos do Mateus, que preferiram não se identificar, disseram à TV Anhanguera que ele estava sem máscaras e não participou de nenhum ato de vandalismo durante o protesto. Porém, antes da agressão, é possível ver que o estudante estava sem camisa perto dos policiais. Momentos depois, ele aparece com um capuz e parte do rosto encoberto, junto a um grupo de manifestantes mascarados.

A mãe de Mateus, a cabeleireira Suzethe Alves, de 49 anos, repreendeu a conduta do policial. “Ele [Mateus] não é bandido e, mesmo que fosse, a polícia não tem o direito de bater em ninguém, é um ser humano, gente, é um ser humano”, disse em entrevista à TV Anhanguera.

PM afastado

A Polícia Militar de Goiás afastou das ruas o capitão Augusto Sampaio, que é subcomandante da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar. “Ele foi afastado em decorrência do Inquérito Policial Militar instaurado em virtude da agressão que teria sido praticada por ele contra o Mateus”, disse ao G1, o comandante geral da Polícia Militar de Goiás, coronel Divino Alves de Oliveira.

O comandante ponderou que ele foi afastado das atividades operacionais, porém segue trabalhando administrativamente. “Ele pode auxiliar em qualquer sessão”, explicou o coronel.

Logo após a agressão, na última sexta-feira (28), o comandante da PM informou, em nota, que determinou abertura de inquérito pela Corregedoria da Polícia Militar “diante das imagens que circulam em redes sociais, quando da intervenção policial militar, que mostram a clara agressão sofrida” pelo estudante.

Ainda de acordo com a nota divulgada pela PM na ocasião, a investigação tem o “objetivo de individualizar condutas e apurar responsabilidades”. O coronel explicou que o inquérito tem um prazo de 30 dias para ser concluído.

Em nota, o comando da PM já havia destacado que “condena veementemente todo e qualquer tipo agressão praticada por policias militares no exercício de sua função, não compactuando com atos que possam afrontar os princípios da ética, moral e legalidade”.

Durante o ato, segundo a corporação, quatro policiais militares foram feridos e foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) para serem submetidos a exames de corpo de delito.

O secretário de segurança pública de Goiás, Ricardo Balestreri, se posicionou por meio de uma rede social condendo a ação do policial militar. Ele declarou que todo PM sabe que não deve atingir ninguém na cabeça durante tentativa de imobilização. O secretário também reconheceu que a PM nem sempre recebe os equipamentos e treinamentos necessários para progressão da força.

Estado grave

Os parentes de Mateus estão focados na recuperação do estudante, que está internado na UTI do Hugo. Ele sofreu traumatismo cranioencefálico (TCE) e múltiplas fraturas.

“A gente nunca espera que vá acontecer algo assim com quem a gente ama. A nossa prioridade agora é a recuperação dele. Ele passou por uma cirurgia de reconstrução facial e foi um sucesso. Mas agora ele apresenta um quadro de pneumonia e insuficiência renal. Os médicos estão fazendo as intervenções necessárias”, disse a gerente administrativa Heloísa Ferreira da Silva, de 28 anos, irmã de Mateus.

De acordo com o último boletim médico divulgado pelo hospital, no início desta noite, Mateus está em estado grave, sedado, intubado e internado na UTI.

Pai de Mateus, o técnico mecânico Salatiel Ferreira da Silva Filho, de 53 anos, revela que sentiu um pouco de alívio ao visitar o filho no hospital, mas está apreensivo. “Não dá de dormir direito. É o meu filho, mas estou feliz de estar por perto”, ressaltou.

A mãe de Mateus, Suzethe Alves, afirmou em entrevista à TV Anhanguera que, segundo os médicos, as reações do estudante ao trauma têm sido dentro do esperado.

"O médico falou que essa hemodiálise, essa parte da pressão que está abiaxando, a parte do pulmão, isso tudo foi devido ao trauma que ele teve. Então se a pessoa tem um trauma, logicamente o corpo vai sentir", explicou.

Ainda conforme a mãe, o estudante precisará colocar uma prótese feita por uma impressora 3D. "Ele está sem osso na parte frontal [testa], os ossos foram destruídos. Na parte esquerda, em baixo do olho, vai precisar colocar um pino para o osso se juntar. O ortopedista vai precisar fazer uma cirurgia na clavícula", completou.

Amigos do estudante fazem uma vigília na frente do Hugo para acompanhar novidades sobre o estado de saúde dele. Alguns até fizeram uma campanha na internete para arrecadar doações para ajudar a família de Mateus a se manter em Goiânia enquanto ele se recupera.

A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil seção Goiás (OAB-GO) conversou com a família nesta segunda-feira. Representante do grupo, Allan Ferreira afirmou à TV Anhanguera que o órgão busca garantir que os responsáveis sejam punidos.

"O nosso papel enquanto OAB é cobrar que essa investigação seja feita, que esses agentes sejam processados", afirmou.

Emoção

Ainda conforme o pai de Mateus, o estuadnte veio a Goiás para realizar o sonho de se tornar cientista social. Ele já era formado em Ciências da Computação, mas decidiu ir para segunda graduação.

"Sempre foi trabalhador, começou a trabalhar com 14 anos. Onde ele trabalhou teve difiucldade de entrar, porque tinha que ser excelente aluno, só podia ter notas dez. Essa foi a primeira vitória dele. Meu filho veio para esse estado realizar o sonho dele e simplesmente eu vejo pela televisão, pela mídia, o sangue dele derramado da na calçada. Um sangue inocente. [...] Acredito que todos nós, hoje, somos Mateus", disse, emocionado.

Repúdio

O reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Orlando Amaral, esteve no hospital no sábado (29) em busca de informações sobre o estado de saúde do estudante. Horas antes, a UFG, onde Mateus cursa o 3º período de ciências sociais, já tinha divulgado uma nota repudiando a agressão.

No hospital, o reitor voltou a criticar a postura da PM. “Ele estava lá junto com dezenas, centenas, milhares de outros estudantes, professores, a comunidade, a população em geral, e não se justifica uma atitude como essa, uma violência tão desproporcional, em uma situação que obviamente demandava uma postura diferente da polícia, que é o que nós esperamos”, disse o reitor.

A Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) informou que condena as agressões sofridas por Mateus e que atos como este "ferem a ética da corporação e das demais forças que compõem a Segurança Pública, cuja missão é proteger vidas e jamais atentar contra qualquer cidadão".

O comunicado destaca ainda que a "exigência de imobilização de eventuais manifestantes nunca justificará a transgressão de limites". Por fim, pontua que, se confirmado autoria, a SSPAP será "rigorosa na punição administrativa e no encaminhamento para a esfera judiciária".