Brasil
UE vai suspender empresas envolvidas no escândalo de carne no Brasil
China e Coreia do Sul também vão barrar compras, segundo agências. Governo brasileiro e representações dos países ainda não se manifestaram.
A Comissão Europeia disse nesta segunda-feira (20) que está monitorando as importações de carne do Brasil e que todas as empresas envolvidas em um escândalo de carne ilegal terão acesso negado ao mercado da União Europeia temporariamente. O nome de nenhuma empresa foi citado.
"A Comissão garantirá que quaisquer dos estabelecimentos implicados na fraude sejam suspensos de exportar para a UE", disse o porta-voz da Comissão Europeia Enrico Brivio em coletiva de imprensa regular.
De acordo com Brivio, a Comissão está ciente da contínua investigação no Brasil. "Assim que a história saiu, na sexta-feira, a comissão pediu esclarecimento e ação das autoridades brasileiras."
Questionado sobre o tipo de carne envolvida na investigação - e que terá a compra suspensa -, o porta-voz afirmou que, de acordo com relatos iniciais, trata-se de frango, em sua maior parte.
O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador. O setor vendeu para mais de 150 países no ano passado e agora se preocupa com os impactos negativos do esquema de venda de carne adulterada.
Operação Carne Fraca
Na última sexta-feira (17), uma investigação da Polícia Federal apontou um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos no país. No total, são 21 empresas investigadas, entre elas as maiores do setor, mas apenas 3 frigoríficos foram interditados.
Policiais envolvidos - 1,1 mil Prisões preventivas – 26 Prisões temporárias -11 Total de busca contra pessoas – 111 Total de buscas contra empresas – 70 Empresas investigadas - 21 (entre elas 3 foram interditadas)A operação envolve grandes empresas, como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e também a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas, mas também frigoríficos menores, como Mastercarnes e Peccin, do Paraná.
O governo brasileiro vai acelerar o processo de auditoria nos estabelecimentos citados na operação, mas o Ministério da Agricultura afirmou que 'não existe risco' sanitário pelo consumo de carne no país.
Para tentar tranquilizar os países que importam do Brasil, o presidente Michel Temer convidou embaixadores para um churrasco em restaurante de Brasília no último domingo.
Reação na Europa
A Comissão acrescentou que o escândalo da carne não terá qualquer impacto nas negociações em curso entre a União Europeia e o Mercosul, no qual os dois lados esperam chegar a acordos sobre livre comércio.
O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e o Itamaraty foram procurados pelo G1, mas ainda não se pronunciaram sobre as afirmações da União Europeia.
De acordo com o comentarista da Globo News Valdo Cruz, o ministro da Agricultura Blairo Maggi confirmou a informação de que a China, a Coreia e a União Europeia devem mesmo suspender a importação de carne das unidades investigadas.
O ministro terá uma conferência com as autoridades da China para discutir esse assunto, segundo o comentarista. O governo quer trabalhar para que o embargo fique restrito somente às 21 unidades investigadas; e não a todas unidades exportadoras.
Coreia do Sul
A Coreia do Sul também disse nesta segunda-feira que vai intensificar a fiscalização de carne de frango importada do Brasil e banir temporariamente as vendas de produtos da BRF após o escândalo deflagrado pela Operação Carne Fraca na semana passada. De acordo com a agência Reuters, as informações estão em um comunicado do Ministério da Agricultura sul-coreano.
O ministério disse que fornecedores brasileiros de carne de frango terão que enviar um certificado de saúde emitido pelo governo brasileiro. Mais de 80% das 107.400 toneladas de frango importadas pela Coreia do Sul no ano passado vieram do Brasil, sendo quase metade fornecida pela BRF.
Por meio de nota, a BRF informou que não foi notificada oficialmente a respeito dessa "suposta suspensão" e por isso não vai se manifestar." A companhia reitera que cumpre todos os padrões exigidos pelas autoridades brasileiras e dos países em que opera."
O governo brasileiro e a embaixada da Coreia do Sul foram procurados pelo G1, mas ainda não se pronunciaram.
China
A China também disse ter suspendido temporariamente, como "medida de precaução", a importação de carne brasilera depois do escândalo revelado na semana passada, de acordo com fontes ouvidas pela agência Reuters.
O governo brasileiro e a embaixada da China no Brasil foram procurados pelo G1, mas ainda não enviou comunicado.
Reação dos Estados Unidos
Ainda na sexta-feira, o governo dos Estados Unidos informou que está "monitorando" a situação no Brasil.
"Neste momento, o Serviço de Segurança e Inspeção de Alimentos (FSIS, na sigla em inglês) do Departamento de Agricultura (USDA) está trabalhando com funcionários do USDA no Brasil para saber mais sobre esse assunto. Também estamos em contato com o Ministério da Agricultura brasileiro e continuaremos monitorando a situação", dizia o órgão na nota.
Carne fraca
Deflagrada na sexta-feira (17) pela Polícia Federal, a operação investiga o envolvimento de fiscais do ministério em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. Segundo a Polícia Federal, fiscais do Ministério da Agricultura recebiam propina para liberar licenças sem realizar a fiscalização adequada nos frigoríficos.
A investigação indica que eram utilizadas substâncias químicas para maquiar carne vencida, e que água era injetada nos produtos para aumentar o peso.
Além das prisões, a Justiça Federal determinou o bloqueio de até R$ 1 bilhão das contas bancárias das 46 pessoas investigadas, e o Banco Central informou o bloqueio de pouco mais R$ 2 milhões.
Já o Ministério da Agricultura anunciou que 33 servidores da pasta foram afastados em decorrência da investigação. A pasta também interditou três frigoríficos, localizados em Goiás, Santa Catarina e Paraná.
Empresas envolvidas
A operação atingiu algumas das principais empresas do setor, como a BRF, que controla a Sadia e a Perdigão, e a JBS, responsável pelas marcas Friboi e Seara. Os grupos garantem a qualidade de seus produtos.
Em nota, a JBS admitiu que três de suas fábricas foram alvo da operação, mas repudiou a adulteração de produtos e afirmou que a empresa e suas subsidiárias "atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas", diz a nota. (veja íntegra no fim da reportagem)
Em nota enviada ao mercado, a BRF informou que está colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos. "A companhia reitera que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas. A BRF assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua".
A Central de Carnes Paranaense, dona das marcas Master Carnes, Souza Ramos e Novilho Nobre, esclareceu em nota que recebeu a visita dos policiais, mas que nenhum de seus funcionários foi detido. A empresa disse que está colaborando com as investigações, que classifica como "de suma importância para uma concorrência leal do mercado" e que está comprometida "com a verdade e com a ética".
Em nota, o Grupo Argus declarou que obedece rigorosamente às observações sanitárias e de qualidade determinadas, sem solicitar quaisquer favorecimentos ao Sistema de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura em detrimento da qualidade de seus produtos, e se solidariza com a ação que deve trazer benefícios significativos ao setor. No âmbito da operação, todo o corpo diretor e administrativo do grupo está inteiramente à disposição das autoridades policiais.
A E. H. Constantino informou que está colaborando com as investigações e, questionada, declarou não ter ligação alguma com os grupos JBS e BRF.
A Primor Beef informou que o dono está viajando e ninguém da empresa tem autorização para comentar sobre o assunto.
Partidos e políticos citados
O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, é citado na investigação. Em conversa grampeada quando ele ainda era deputado federal, Serraglio chama o ex-superintendente regional no Paraná do Ministério da Agricultura, Daniel Gonçalves Filho, de “grande chefe”.
Segundo a PF, a investigação apontou que parte da propina recebida pelas superintendências ia para o PMDB e o PP. O PMDB informou que desconhece o teor da investigação, e o PP ainda não se manifestou.
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