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Durante cirurgia cerebral, músico canta e toca violão no HC de Barretos

Médico aproveitou profissão de paciente para auxiliar na hora de cirurgia

Por G1 14/01/2017 19h53
Durante cirurgia cerebral, músico canta e toca violão no HC de Barretos
Reprodução - Foto: Assessoria

Um cantor teve que realizar um pequeno concerto durante uma cirurgia para retirar um tumor do cérebro em um hospital de Barretos (SP) na manhã desta sexta-feira (13). Conhecido pelo nome artístico de Felipe Reis, o músico Reginaldo Oliveira Santos Junior, 31 anos, tocou violão e cantou durante a operação e agora está se recuperando. Otimista e bem-humorado, ele diz que nunca pensou que fosse passar por um procedimento similar.

O cantor foi diagnosticado com um tumor no cérebro há aproximadamente 18 meses durante uma consulta a seu médico após passar mal múltiplas vezes por mais de um ano. Assim que ficou sabendo de sua condição, ele foi alertado que deveria ser submetido à cirurgia o mais depressa possível.

Músico descobriu tumor no cérebro há 18 meses em Mogi das Cruzes (Foto: Reprodução / EPTV)

"Eu tive uma convulsão em casa há uns três anos e a gente passou a saber há um ano e meio que era um tumor, mas antes disso eu apenas passava mal, ia no médico, me receitavam algo e eu voltava para casa. A gente passou no médico em Mogi das Cruzes e ele falou que eu tinha um mês para ter notícia de algum hospital para que eu operasse antes que o tumor passasse de benigno para maligno porque aí seria mais complicado", explica.

O tumor que se desenvolveu no cérebro de Reginaldo afeta a parte motora e da fala do paciente. Para auxiliar durante o procedimento, o rapaz de Mogi das Cruzes, que trabalha com música há aproximadamente 13 anos, teve que tocar violão e cantar enquanto os profissionais do Hospital de Câncer de Barretos realizaram a cirurgia em seu cérebro.

"Eu achei uma coisa muito louca. Toco mais música nacional, sertanejão, mas em bar você faz um pouco de tudo, como MPB. Já cantei umas músicas pra ele [médico]. Uma que fiz pra minha esposa e ‘Nossa Senhora’ do Roberto Carlos, acho que serão essas músicas mesmo, eu ainda estou em dúvida, se na hora pintar outra coisa, vai de momento. O doutor mesmo falou, 'a gente quer que seja um espetáculo porque a gente ainda não teve essa oportunidade'", diz.

Inicialmente, Reginaldo diz que a intenção do procedimento é não retirar o tumor por inteiro e o cantor explica que existe a possibilidade de ter que aliar o procedimento a sessões de quimioterapia, mas tudo dependerá de como será sua recuperação nas próximas semanas.

Reginaldo cantou música de Roberto Carlos e composição própria em Barretos (Foto: Reprodução / EPTV)

"Ele foi bem leal e falou das chances, dos riscos, dificuldades, tudo que pode acontecer. Estou bem confiante", conclui o paciente.

Procedimento

O médico responsável pela cirurgia de Reginaldo, o neurocirurgião Carlos Afonso Clara, explica que realizar a cirurgia com o paciente acordado não é algo inédito no Hospital de Câncer de Barretos. Entretanto, ele diz que esta foi a primeira vez em que o paciente a ser operado teve que cantar e tocar violão durante o procedimento ao qual foi submetido.

“Hoje em dia, em vários locais do mundo tem vários especialistas que fazem cirurgias com o paciente acordado. A cirurgia com o paciente acordado permite que o cirurgião, junto com a equipe, principalmente o neurofisiologista, faça a estimulação do cérebro identificando as áreas que chamamos de eloquente, as áreas com a função para motricidade e fala”.

O procedimento foi realizado para controlar a capacidade de fala, compreensão e interpretação da linguagem utilizada pelo paciente durante a cirurgia. Com esse recurso, os profissionais são capazes de saber quais áreas do cérebro devem ser mantidas intocadas durante o processo cirúrgico e de onde podem remover o tumor.

Parte da equipe médica acompanhou procedimento e gravou vídeos (Foto: Reprodução / EPTV)

“O objetivo de realizar a cirurgia com o paciente acordado é preservar as funções do mesmo, para que ele tenha uma qualidade de vida após a operação. Antes, quando a gente operava áreas desse tipo com o paciente totalmente anestesiado, às vezes o cirurgião poderia ser um pouco mais agressivo e isso acabava tendo consequências, pois o paciente poderia acordar com um déficit, uma sequela”, explica Clara.

Com isso, o neurocirurgião afirma que o objetivo não é o de remover todo o tumor do cérebro do músico e diz que o material que for deixado intocado será tratado com quimioterapia, ou radioterapia dependendo de como Reginaldo deverá se recuperar do pós-operatório.

Carlos afirma que as canções cantadas e tocadas pelo músico auxiliarão os trabalhos durante a cirurgia para que a equipe médica possa retirar o maior volume possível de tumor sem que isso afete as funções motoras do rapaz.

“Ele não é cantor? Não toca instrumento musical? Então vamos controlar isso quando estivermos estimulando o cérebro nas áreas para mapear o que a gente vai tirar e o que não há condição de retirar. Vamos deixá-lo cantando, tocando violão e na hora que ele errar nota, ou a mão parar a gente vai desenhando, mapeando a área que teremos que manter preservada e o resto vamos poder mexer e tirar”, conclui.

O procedimento foi realizado com sucesso e Reginaldo agora se recupera no hospital até poder voltar para casa. As equipes médicas afirmam que vão continuar monitorando seu estado de saúde e analisarão quais serão os próximos passos no tratamento do cantor.

Reginaldo é cantor há 13 anos e trabalho ajudou na hora de cirurgia em Barretos (Foto: Reprodução / EPTV)