Brasil
Professores de Universidade são presos por fraude em bolsas de estudo
Quatro docentes foram presos nesta sexta. Dinheiro recebido por bolsistas era repassado para docentes detidos.
Três professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foram presos na manhã desta sexta-feira (9) em uma operação da Polícia Federal contra desvios de dinheiro oriundos de programas federais de incentivo à pesquisa, como mostra o RBS Notícias (veja o vídeo acima). Uma professora da Unisinos e duas servidoras da UFRGS também foram presas na Operação PhD, que já apurou fraudes de R$ 5,8 milhões.
Delegados da PF detalharam o funcionamento do esquema em coletiva no final da manhã desta sexta, na Superintendência do órgão em Porto Alegre. O delegado Alexandre Isbarrola ressaltou que os professores presos usavam suas atribuições na universidade em benefício próprio.
Delegados detalharam operação em coletiva emPorto Alegre (Foto: Igor Grossmann/G1)"Olhamos para o caso com preocupação e tristeza. Sempre pensamos que a educação pode salvar. No entanto, vemos pessoas nos mais altos cargos da academia usando recursos públicos para si", comentou Isbarrola.
O esquema consistia na inclusão de bolsistas sem qualquer vínculo com a UFRGS para o recebimento de valores de até R$ 6,2 mil. O dinheiro, então, seria repassado, em parte ou integralmente, para coordenadores dos programas. Mais de 100 pessoas foram beneficiadas com o recebimento de bolsas, investigadas pela Polícia Federal desde 2013. O número total de envolvidos, no entanto, não foi precisado pelos investigadores.
Conforme a investigação, iniciada há seis meses, o projeto SUS Educador era o principal alvo dos desvios protagonizados dentro da área de Educação em Saúde da UFRGS. Eram desviados recursos do Programa de Extensão em Saúde Coletiva, conforme a PF, dentro de atividades de educação continuada e pós-graduação.
PF realizou buscas em Porto Alegre, Canoas ePelotas (Foto: Divulgação/PF)O dinheiro desviado foi usado, por exemplo, para custear a viagem da mãe de um dos presos à Europa. A PF não divulgou os nomes das pessoas detidas. Outro professor, por exemplo, incluiu uma arquiteta como bolsista de um programa de pós-graduação para que, com o valor da bolsa, fosse pago o serviço da reforma em seu imóvel.
Junto a isso, a PF apurou que o pagamento de diárias, recibos de pagamento autônomo (RPA), bem como outras despesas, também eram usadas para os desvios. Um aluno que recebeu o título de mestre sem ter frequentado cursos ou feito qualquer avaliação, o que evidenciou, segundo a polícia, o direcionamento de seleções.
Familiares dos professores presos, que coordenavam os programas de pós-graduação na área da saúde na UFRGS, amigos e pessoas próximas eram o perfil de beneficiados pelas bolsas, por se tratarem de "pessoas confiáveis". O delegado Alexandre Isbarrola também lamentou o fato de estudantes que poderiam receber as oportunidades para desenvolver pesquisas e estudos terem sido prejudicadas nas seleções para as vagas.
"Os requisitos eram flexibilizados pelos coordenadores. A seleção era subjetiva. Se verifica prejuízos a alunos que deixaram de ser beneficiados com as bolsas de estudo", ressaltou Isbarrola.
A investigação cruzou mais de 300 mil documentos para revelar o esquema de corrupção nos projetos investigados, que totalizam aproximadamente R$ 99 milhões, sendo que a PF apurou cerca de R$ 5,8 milhões em desvios. Os suspeitos são investigados pelos crimes de associação criminosa, estelionato, falsidade ideológica e inserção de dados falsos em sistema de informação.
Além de Porto Alegre, onde foram cumpridos oito mandados de busca, quatro de prisão, e um de condução coercitiva, operação também cumpriu duas ordens judiciais de busca e duas de prisão em Canoas, na Região Metropoliana, e uma condução coercitiva em Pelotas, no Sul do estado. Cerca de 70 agentes integraram as ações.ContrapontosEm nota, a UFRGS disse que foi "surpreendida" com a operação da Polícia Federal e salientou que as denúncias se limitam ao Programa de Extensão em Saúde Coletiva. A universidade informou ainda que não foi procurada "por nenhuma instância" mas que acompanha os desdobramentos das investigações com "muita atenção". "(A universidade) coloca-se à disposição para auxiliar em todos os esclarecimentos que se fizerem necessários para a elucidação dos fatos", observou a Ufrgs em nota.Já a Unisinos informou em nota que não tem vínculo com os projetos objeto da investigação. Observou ainda que a universidade não é alvo da PF. "Dentre as pessoas referidas na investigação, está uma pesquisadora da universidade que realizou seu mestrado e doutorado na UFRGS."
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