Economia circular se faz presente dos brechós às franquias

Empreendedores em Alagoas fortalecem o setor evitando desperdício e consumo excessivo de matérias-primas

Por Lucas França e Valdete Calheiros - Repórteres / Bruno Martins: Revisão / Edilson Omena: Foto da capa | Redação

A economia circular é essencial para o desenvolvimento econômico local porque promove um modelo mais sustentável e eficiente de produção e consumo. Ao invés de seguir a lógica tradicional da economia linear, que gera desperdício e degradação ambiental, o modelo busca maximizar o aproveitamento dos recursos, reduzindo a dependência de matéria-prima virgem e incentivando a reutilização e reciclagem. Esse conceito fortalece a economia local ao estimular novos modelos de negócios, como cooperativas de reciclagem, empresas de remanufatura e plataformas de compartilhamento. Além disso, a economia circular gera empregos verdes, impulsionando setores como gestão de resíduos, inovação tecnológica e produção sustentável.

Em Alagoas, muitos negócios já nascem com caraterísticas da chamada economia circular. O economista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Fábio Leão, esclarece que o modelo traz impactos positivos. “As empresas que adotam práticas circulares têm redução dos custos de produção, tornando-as mais competitivas no mercado. Municípios que investem nesse modelo também se beneficiam com a melhoria da qualidade de vida, já que a economia circular contribui para a preservação ambiental e a redução da poluição”.

Conforme o economista, a economia circular pode também impulsionar os negócios populares e de responsabilidade social, promovendo a inclusão de uma vasta parcela da população à margem dos grandes negócios tradicionais.

“A economia popular desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico local, pois está diretamente ligada à geração de renda e à inclusão social de comunidades menos favorecidas. Esse conceito abrange práticas econômicas que surgem da própria população, como cooperativas, associações e pequenos negócios informais, permitindo que grupos vulneráveis encontrem alternativas para sustento e crescimento financeiro. Além disso, a economia popular fortalece a autonomia das comunidades ao incentivar a produção e o consumo locais, reduzindo a dependência de grandes corporações e promovendo um ciclo econômico mais sustentável. Ao apoiar negócios locais, há um impacto positivo na criação de empregos, na circulação de dinheiro dentro da própria região e no fortalecimento dos laços sociais”, esclareceu Fábio Leão.

Economista Fábio Leão (Foto: Arquivo pessoal)

Ainda segundo o especialista, outro aspecto relevante é a capacidade da economia popular de se adaptar às crises econômicas. “Em períodos de recessão ou desemprego elevado, essas práticas se tornam ainda mais essenciais, oferecendo soluções alternativas para a sobrevivência financeira de muitas famílias”.

A economia popular abrange uma ampla variedade de negócios, especialmente aqueles que surgem da necessidade e criatividade das comunidades locais. Alguns exemplos incluem:

• Comércio informal: vendas ambulantes, feiras livres e pequenos mercados comunitários.

• Cooperativas: produção agrícola, artesanato e prestação de serviços coletivos.

• Negócios sociais: empresas que combinam lucro com impacto social, como oficinas de reciclagem e capacitação profissional.

• Serviços autônomos: costureiras, mecânicos, eletricistas e outros profissionais que atuam de forma independente.

Mais especificamente, a economia popular pode ser aplicada na prática por meio de iniciativas que valorizam o empreendedorismo local, a inclusão social e a sustentabilidade. Alguns exemplos bem-sucedidos deste tipo de atividade sustentável:

• Cooperativas de produção e consumo: de mesma forma que as cooperativas gerais, as cooperativas de produção e consumo são grupos de trabalhadores que se organizam para produzir e vender bens ou serviços de forma coletiva, garantindo melhores condições de trabalho e preços mais acessíveis para a comunidade. A distinção neste caso é o propósito específico de um consumo mais responsável e direcionado para reduzir a utilização de recursos naturais.

• Microfinanças e crédito solidário: programas que oferecem pequenos empréstimos a empreendedores de baixa renda, permitindo que desenvolvam seus negócios sem depender de grandes instituições financeiras.

• Feiras e mercados comunitários: espaços onde pequenos produtores e comerciantes locais vendem seus produtos diretamente aos consumidores, fortalecendo a economia regional e reduzindo custos de distribuição.

• Reciclagem e reaproveitamento de materiais: projetos que transformam resíduos em novos produtos, gerando renda e promovendo a sustentabilidade ambiental.

• Empreendimentos sociais: negócios que combinam lucro com impacto social, como capacitação profissional para comunidades carentes ou iniciativas de inclusão digital.

Para Fábio, os brechós são um excelente exemplo de economia circular, pois promovem a reutilização de roupas e acessórios, reduzindo o desperdício e prolongando a vida útil dos produtos. “O mercado de brechós tem crescido significativamente, com projeções de expansão de 15% a 20% até 2030. Além de serem uma alternativa sustentável, eles também democratizam o acesso à moda e incentivam o consumo consciente”.

“Necessidade de manter uso consciente motivou criação de brechó”

Segundo a empreendedora Penélope Soares, de 28 anos, curadora da Sun Clothings, um brechó que surgiu on-line e hoje já é destaque na área com ponto físico, o universo do brechó surgiu em sua vida por vários aspectos, mas o primeiro e essencial foi a necessidade de manter um uso consciente visando a sustentabilidade do planeta. “Este foi um dos aspectos essenciais. Um outro ponto importante é que não existem espaços para corpos como o meu, sendo uma travesti as oportunidades são extremamente escassas, tendo isso em mente a solução foi criar o meu próprio negócio”, ressaltou.

Conforme a empreendedora, o seu início foi apenas on-line através do Instagram durante um ano, mas a Sun Clothings surgiu há dois anos após a saída do seu último emprego. “Como fiquei desempregada, veio a necessidade de voltar ao mercado de trabalho, tendo como bagagem um bom acervo de moda e desenvolvimento dentro da área, pois já trabalhei em ateliês renomados e sou autodidata”, explicou Penélope.

Empreendedora Penélope Soares (Foto: Arquivo pessoal)

A curadora da Sun Clonthings tem formação como figurinista através da Aguda de Cinema via Sebrae. “Trazendo toda essa bagagem para os meus garimpos, que são as coletas das peças e essas coletas acontecem em diversos lugares da cidade e até mesmo fora dela, esse processo de garimpos começa com os deslocamentos até os locais e, como o próprio nome já diz, são seleções em meio a várias peças, sendo muitas vezes insalubre a higiene dos espaços e das peças. Logo depois desse garimpo/coleta surge o processo de curadoria, que seria a higienização das peças e que, além disso, a Sun Clothings também energiza todas as peças após o processo de lavagem delas. Acreditamos e entendemos sobre todos os tipos de energias, tendo isso em mente, as peças vendidas são não apenas cuidadas visualmente, mas também espiritualmente visando a prosperidade de quem está vendendo e comprando”.

Ainda conforme Penélope, além do garimpo, ela costuma trazer todo o background das peças, explicando ano, tecido, registros e tudo que construiu e contribui para a peça ser garimpada. “Sun Clothings se torna uma experiência visual, olfativa e sensorial. E depois de longos dois anos estamos além do Instagram também com um ponto físico que fica localizado no Studio Gato Preto, onde disponibilizamos um espaço aconchegante e receptivo para que vocês desfrutem de toda a experiência Sun Clothings, podendo assim ver, tocar e provar as peças e ter o seu atendimento direto comigo”.

'Em períodos de recessão ou desemprego elevado, essas práticas se tornam ainda mais essenciais, oferecendo soluções alternativas para a sobrevivência financeira de muitas famílias' - Fábio Leão, economista do Sebrae/AL

(Foto: Adailson Calheiros)


Empresário implanta usina de reciclagem de resíduos da construção civil em Arapiraca

Nos tempos de hoje, nunca se falou tanto sobre a necessidade de buscar um mundo que equilibre produção e consumo. Dos brechós e franquias às grandes empresas, o interesse dos empreendedores é cumprir metas ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa). A sociedade não só cobra como sabe da necessidade de exercitar práticas para não degradar os recursos naturais. Com isso, a economia circular ganha relevância - na medida em que se propõe a transformar o sistema vigente - cuja trajetória é extração, transformação, consumo e descarte, a partir da reciclagem e da revalorização do produto ao longo de todo o processo.

E foi seguindo essas caraterísticas que surgiu a Urban Ambiental – uma empresa genuinamente arapiraquense que iniciou suas atividades em 2019, com foco na coleta de resíduos sólidos da construção civil. Como todo bom empreendimento que busca inovação, o empreendedor Mayk Melo afirma que começou a estudar alternativas dentro do próprio segmento. “Após muitos estudos, pesquisas e visitas a usinas de RCD [Resíduos de Construção e Demolição] em diversas regiões do Brasil, percebemos que havia uma grande oportunidade de trazer para Arapiraca a primeira usina de reciclagem de resíduos da construção civil. Hoje temos uma planta considerada de médio porte, mas com potencial para se tornar uma planta de grande porte”.

Mayk Melo, da Urban Ambiental (Foto: Divulgação)

Com a empresa, Melo gerou 10 empregos diretos no processo da Usina de RCD, mas considerando todo o processo envolvido, são mais de 30 postos de trabalho em média. “Oferecemos serviços de transporte e coleta de resíduos sólidos da construção civil, comercial e industrial. Além disso, trabalhamos com a reciclagem e comercialização dos materiais beneficiados, como britas de diversos tamanhos, rachãozinho e areia reciclada”, contou.

A Urban Ambiental atua em todo o Agreste e Sertão de Alagoas. Segundo o empresário, o Banco do Nordeste (BNB) foi muito importante na concretização do sonho. “O Banco do Nordeste foi — e continua sendo — um grande parceiro nesse projeto. Desde a apresentação inicial, os diretores da agência se mostraram muito otimistas quanto à viabilidade econômica e sustentável da ideia. Nos deram apoio desde o início da negociação até a implantação da usina”.

Mayk disse que o processo para conseguir o crédito não foi demorado e não teve muita burocracia. “Após a visita técnica na sede da empresa, o banco analisou o projeto e buscou a linha de crédito que melhor atendesse à proposta. Em menos de 30 dias, conseguimos um capital de giro para cobrir os custos iniciais dos projetos e das obras. Logo depois, também foi liberado o crédito para a compra dos equipamentos. Passamos pela burocracia normal de qualquer instituição financeira. Mas a gestão administrativa e contábil da nossa empresa fez toda a diferença e isso contribuiu para que tudo fluísse de forma mais rápida e eficiente”.

Empresa iniciou atividades em 2019, com foco na coleta de resíduos sólidos da construção civil (Foto: Divulgação)

Além do BNB, o empreendedor disse que teve outros parceiros. “A empresa que fabricou os equipamentos nos deu todo o suporte necessário desde o início até o funcionamento da planta. Também contamos com parceiros da região que prestaram serviços de montagem da usina. Mesmo sem experiência anterior nesse tipo de obra, aceitaram o desafio e trabalharam em conjunto com os técnicos da empresa fornecedora. Como é uma atividade muito específica, não buscamos a consultoria do Sebrae, por isso contratamos empresas especializadas que já atuavam no segmento para a elaboração dos projetos”, esclareceu Melo.

Franquias com aspectos da economia circular são possíveis?

De acordo com o economista Fábio Leão, algumas franquias já podem ser associadas à economia circular, especialmente aquelas que adotam práticas sustentáveis. “Existem redes de franquias que investem em reciclagem, redução de desperdício e uso eficiente de recursos naturais. No entanto, nem todas as franquias seguem esse modelo, pois muitas ainda operam dentro da lógica da economia linear”, explicou.

Conforme o diretor regional da Associação Brasileira de Franchising (ABF) no Norte e Nordeste, Fernando Ribeiro, o mercado de franquias em Alagoas vem consolidando sua força e atraindo cada vez mais investidores. De acordo com dados da associação, o setor no estado registrou um faturamento superior a R$ 2,2 bilhões em 2024, o que representa um expressivo crescimento de 13,9% em relação ao ano anterior. O número de unidades se manteve estável com um leve declínio de 1%, totalizando 1.612 operações em todo o território alagoano.

Ainda segundo Ribeiro, no estado os setores que mais abriram franquias foram: alimentício, serviços, turismo, entretenimento e lazer. “Educação e alimentação foram os ramos que mais cresceram em operações de franquias. O crescimento em Alagoas é favorecido por uma combinação de fatores: maior confiança de investidores no modelo de franquias, adaptação das redes ao perfil de consumo local e expansão de segmentos com forte apelo regional. O destaque é para entretenimento e lazer, com crescimento de 187%, o que demonstra a busca do consumidor por experiências e serviços”, pontuou.

PIB EM ALAGOAS

Em 2024, o setor de franquias em Alagoas registrou um faturamento de aproximadamente R$ 2,2 bilhões. No mesmo período, o Produto Interno Bruto (PIB) do estado foi estimado em R$ 96 bilhões. Com base nesses dados, as franquias representaram cerca de 2,3% da economia alagoana em termos de faturamento. Um dado importante e que merece destaque é o fato de o nicho de mercado ter gerado 14.162 vagas em 2024. O Nordeste faturou mais de R$ 39 bilhões no mesmo período, com crescimento de 13,3%. Apesar de uma pequena retração de 0,6% no número de unidades, a região segue com 28.479 franquias ativas.

SUPORTE E SERVIÇO

A ABF oferece suporte relevante tanto para franqueadores quanto para franqueados, contribuindo para o fortalecimento do setor. A entidade promove cursos de capacitação, encontros para debates de ideias e troca de experiências entre os participantes do sistema de franquias. “Um dos destaques nesse esforço é a ABF Academy, plataforma educacional oficial da entidade. Voltada a empreendedores de diversos perfis, franqueadores, franqueados e interessados no franchising, ela disponibiliza conteúdos abertos ao público e outros exclusivos para associados, sempre com curadoria da própria ABF, com foco em desenvolvimento sustentável e boas práticas”, ressaltou Ribeiro.

Diretor regional da Associação Brasileira de Franchising (ABF) no Norte e Nordeste, Fernando Ribeiro (Foto: Arquivo pessoal)

Além disso, segundo o diretor regional, a ABF organiza encontros regionais em diversas partes do país, com ênfase crescente em cidades do Norte, fomentando o bom franchising e disseminando esse modelo de gestão colaborativa e eficiente. “Esses eventos reforçam o caráter integrador do sistema, valorizando a parceria estratégica entre franqueadores e franqueados e contribuindo para o crescimento organizado e profissionalizado do setor”.

BENEFÍCIOS DAS FRANQUIAS

- Desenvolvimento regional: a expansão das franquias pode contribuir para o desenvolvimento regional, melhorando a qualidade de vida da população local e atraindo novos investimentos.

- Vantagem competitiva: os franqueados podem aproveitar a vantagem competitiva de suas marcas, produtos e serviços já consolidados no mercado.

No entanto, é importante considerar os desafios e limitações que podem surgir com a expansão das franquias, como a necessidade de apoio governamental e infraestrutura adequada para sustentar o crescimento do setor. As franquias podem oferecer vários desafios e ameaças para as empresas locais, incluindo:

- Concorrência: as franquias podem aumentar a concorrência no mercado local, tornando mais difícil para as empresas locais competirem em termos de preço, qualidade e inovação.

- Padronização: as franquias podem impor padrões e procedimentos rígidos, o que pode limitar a capacidade das empresas locais de se adaptar às necessidades específicas do mercado local.

- Perda de identidade local: a presença de franquias pode levar a uma perda de identidade local e uma homogeneização da cultura empresarial, o que pode afetar negativamente a economia local.

- Dependência de marcas externas: as franquias podem criar uma dependência de marcas externas, o que pode limitar a capacidade das empresas locais de desenvolverem suas próprias marcas e produtos.

- Impacto nos pequenos negócios: as franquias podem ter um impacto negativo nos pequenos negócios locais, que podem não ter os recursos necessários para competir com as grandes franquias.

- Remessa de lucros: as franquias podem remeter lucros para a matriz, o que pode reduzir a quantidade de dinheiro que permanece na economia local.

“Por outro lado, é importante notar que as franquias também podem trazer benefícios para as empresas locais, como a criação de empregos e a introdução de novas tecnologias e práticas de gestão. Por fim, enfatizamos que a aquisição de uma franquia exige pesquisa e planejamento, como qualquer outra empresa. Porém, vale destacar que, além das questões abordadas em qualquer planejamento – como a busca por informações, análise da concorrência, projeção de demandas, cálculos de custos e preços – os empresários ainda precisam pesquisar sobre a saúde financeira do grupo detentor da marca. Neste momento é muito importante consultar a ABF para saber da idoneidade da empresa e de sua saúde financeira. Recomendamos também pedir ajuda de consultores, contadores e do Sebrae, que podem orientar nos primeiros passos da aquisição de um investimento importante como uma franquia”, destacou o economista do Sebrae, Fábio Leão.

Fábio Leão finalizou dizendo que os negócios de pequeno porte, a economia popular e a economia circular apresentam uma complementaridade importante para a inclusão socioprodutiva de parcelas importantes da sociedade no processo produtivo. “Todo este esforço precisa de coordenação e do surgimento de atores que façam este papel no mercado. Assim, teremos escala a partir das pequenas iniciativas e uma produção consciente e comprometida com os recursos naturais. Adicionalmente, essas iniciativas também se comprometem com o consumo consciente, fechando o ciclo do desperdício e criando a racionalidade para a reutilização e o reaproveitamento de insumos e matérias-primas”.

CRESCIMENTO EM ALAGOAS

A economia circular tem ganhado espaço em Alagoas, especialmente com iniciativas como moedas sociais que ajudam a distribuir renda dentro das comunidades.

Estima-se que, até 2030, esse modelo econômico possa representar uma oportunidade de crescimento global de US$ 4,5 trilhões. No Brasil, políticas públicas e projetos locais vêm impulsionando essa transformação, mas os dados específicos sobre rendimentos em Alagoas ainda são limitados.

Cresci e Perdi - maior franquia de moda circular chega a Alagoas

O sonho de toda mãe é não perder com tanta facilidade os looks caros e elaborados dos filhos pequenos. A Cresci e Perdi chegou a Alagoas para tornar esse sonho realidade. A maior franquia de moda circular do mundo, ela possui mais de 660 lojas. A marca foi alcançada no ano passado.

A Cresci e Perdi é uma franquia de moda circular no segmento de roupas e acessórios infantis novos e seminovos. Atualmente, a franquia está presente em mais de 471 cidades, em todos os estados do país. Fundada em 2014, no interior paulista, foi idealizada pela empresária Elaine Alves, logo após o nascimento do seu primeiro filho. O modelo de negócio aposta em um consumo de moda infantil mais consciente e sustentável.

“Por conta do crescimento rápido das crianças, muitas roupas e itens que custam caro não são nem usados ou são utilizados poucas vezes. Quando me tornei mãe, busquei opções nos brechós tradicionais de roupas para crianças, mas não encontrei boas seleções nem variedades. Foi quando tive a ideia de criar um espaço categorizado, com ampla gama de produtos e que oferecesse uma experiência de consumo única, tanto para quem quer adquirir um item quanto para quem quer se desfazer do que já não usa mais. Assim surgiu a primeira loja da Cresci e Perdi", contou Elaine Alves.

Loja franqueada da Cresci e Perdi em Maceió (Foto: Edilson Omena)

“Percebemos uma grande demanda por esse tipo de produto. Nosso modelo de negócio foi tão assertivo que, hoje, cinco anos depois, nos tornamos referência no mercado de moda circular”, afirmou Elaine Alves, hoje CEO da Cresci e Perdi Franchising.

A expansão da Cresci e Perdi Franchising começou em 2017, com a criação de sua primeira franquia. Conforme a Cresci e Perdi, o sucesso do modelo de negócio é fazer circular a própria economia da cidade, impactando a cada dia mais pessoas para que contribuam com a circularidade dos itens, seja comprando, desapegando (vendendo) ou alugando, aumentando assim a vida útil dos produtos e ao mesmo tempo criando benefícios socioeconômicos nas comunidades onde são instaladas as franquias, espalhando cada vez mais a cultura da moda circular, através de novas unidades, em novas regiões, ficando cada vez mais próximas das pessoas a oportunidade de poder comprar e vender produtos usados, de excelente qualidade com preços acessíveis.

As lojas compram e vendem roupas do tamanho recém-nascido (RN) até 16 anos, além de calçados e acessórios para bebês como cadeiras de alimentação, bebê conforto, banheiras, cercados etc. Os valores para o consumidor são entre 40% e 80% a menos do que se paga pelos modelos novos. Outro diferencial é que o cliente pode levar lotes com as peças que deseja vender para serem avaliadas e o valor do lote pode ser convertido em dinheiro ou Giracrédito, um vale-compras para ser utilizado na própria loja. Muitos clientes escolhem essa modalidade porque recebem benefícios adicionais, tanto na hora de vender quanto na hora de comprar, sendo sempre mais vantajoso. Veja como funciona a franquia Cresci e Perdi em Alagoas, no vídeo ao final da matéria.

Franquia é um modelo de negócios com investimento seguro que atrai investidores

Especialistas apontam o modelo de franquias como um investimento seguro, especialmente para quem busca o primeiro negócio. O setor tem experimentado crescimento contínuo no Brasil desde o pico da pandemia. E, em Alagoas, a busca por este mercado é significativa.

Para Gilson Borges, analista de Relacionamento Empresarial do Sebrae/AL, as franquias permitem expandir de forma exponencial e controlar adequadamente múltiplas unidades, garantindo a identificação da empresa com a população local de cada região. E, segundo ele, geralmente o valor a ser investido não é tão alto. “Isso é muito relativo ao empreendimento que se deseja, pode variar entre 5 mil reais a valores acima de 750 mil, conforme a ABF. Além disso, geralmente o tempo de retorno do investimento é de 24 a 36 meses, mas esse tempo tem grande variação por franquia”, ressaltou Borges, acrescentando que “vale salientar a importância de ler a Lei 13.966 de 2019 que dispõe sobre o sistema de franquia empresarial”.

COMO EMPREENDER COM FRANQUIAS

No mundo dos negócios uma boa ideia é chamada de empreendedorismo. As franquias têm se tornado a menina dos olhos dos empreendedores mais arrojados. Uma excelente ideia. Anotações acanhadas e sonhadoras eternizadas à caneta em uma folha de papel. Planejamento feito na tela de um computador. Vontade de trabalhar. Iniciativa. Coragem para arriscar e muita, muita força de vontade foram os pontos em comum citados pelos empreendedores ouvidos pela reportagem do Tribuna Hoje em uma verdadeira imersão feita no mundo competitivo e fascinante do empreendedorismo que vem transformando a economia pujante de Alagoas.

Acompanhando uma tendência vista nos demais estados do Nordeste, o número de franquias – um capítulo à parte no campo do empreendedorismo – tem crescido bastante em Alagoas. As franquias empregam 14 mil trabalhadores no estado. Como, pelas contas do Sebrae, a cada duas vagas existentes no mercado formal, uma vaga de emprego indireto é criada, podemos extrair que as franquias empregam 21 mil pessoas no estado.

Conforme a Associação Brasileira de Franquias, em 2021, havia 1.382 franquias em Alagoas. Ano passado, elas somavam 1.612. O segredo para tanto sucesso? As franquias são práticas, mas precisam de planejamento como qualquer outro empreendimento. Afinal, o que são franquias? Até porque você, leitor, pode ser um assíduo cliente de uma franquia sem ter pleno conhecimento do que o termo significa. Uma franquia é um sistema de negócio onde uma empresa (franqueadora) concede a outra (franqueado) o direito de usar sua marca, métodos e sistemas de operação, em troca de taxas e royalties. O franqueado opera um negócio sob o nome da marca, seguindo os padrões e procedimentos estabelecidos pela franqueadora. Além de garantirem maior confiança dos investidores no modelo de franquias, as grandes redes têm capacidade de se adaptarem ao comércio local. As franquias têm como principal característica a padronização de processos e produtos. Facilidades que acabam sendo um atrativo para os empresários.

Gelato Borelli pode ser encontrado em três locais de Maceió (Foto: Adailson Calheiros)

Foi o que aconteceu com o empresário paulista, de São Carlos, Rafael Ceschi, franqueado das três unidades da Borelli em Maceió. O primeiro “dono” da Borelli no Nordeste. As unidades da gelateria ficam na Ponta Verde, Maceió Shopping e no bairro da Gruta de Lourdes. As lojas foram citadas por ordem cronológica de abertura. Cada uma custou em torno de R$ 1 milhão e 500 mil para ser totalmente estruturada e passar a atender ao público. Em uma comemoração familiar, há alguns anos, o empreendedor de conversa fácil e sorriso simpático conheceu – e aprovou – o sabor especial do gelato. A experiência foi marcante, mas nada que o levasse a investir suas economias nas cores e sabores que dominam a marca.

FRANQUIA DE GELATO SE DESTACA EM ALAGOAS

Em português, gelato, palavra italiana, significa sorvete. No entanto, a palavra gelato também é usada para se referir a um tipo específico de sorvete, geralmente artesanal e italiano, conhecido por sua textura densa e cremosa, e por ser feito com ingredientes frescos e sem muitos aditivos. A principal diferença entre gelato e sorvete reside na sua base, no teor de gordura e na temperatura de serviço. O gelato, geralmente feito com leite, creme de leite e sem gordura e com corante natural tem uma textura mais densa e cremosa, sendo servido a uma temperatura ligeiramente mais alta. Já o sorvete, muitas vezes baseado em creme de leite, gordura vegetal, é mais aerado e servido a temperaturas mais baixas. Devido à menor quantidade de creme de leite, o gelato tem, em geral, menos gordura e calorias. O gelato é considerado uma opção mais saudável que o sorvete industrializado, principalmente por ter menos gordura e menos ar incorporado.

Empresário Rafael Ceschi, franqueado das três unidades da Borelli em Maceió (Foto: Adailson Calheiros)

Entre o primeiro ímpeto de montar uma Borelli, franquia com uma década de solidez no mercado, Rafael Ceschi e o sócio Ícaro Tolentino demoraram de fevereiro a dezembro. Há quatro anos, eles inauguraram a primeira loja, na Ponta Verde.

Em meio a muitas dúvidas, até mesmo sobre o ponto comercial – ressaltasse-se que a franqueadora não apostou muito no sucesso do endereço. A primeira jogada de sorte veio com a instalação da “Cadeira Gigante”, praticamente na esquina da gelateria. Um ano depois, foi a vez de cortar a fita da loja do Maceió Shopping e há um ano nasceu a loja no bairro de Gruta de Lourdes. Atualmente, são 45 colaboradores diretos. Os sócios até pensaram em continuar expandindo. Na verdade, não desistiram. No entanto, tocar, com mais afinco ainda, as atuais lojas é o que movimenta os planos da dupla no momento. A franquia foi adquirida com recursos próprios e só depois eles procuraram o Banco do Nordeste do Brasil para buscar a linha de capital de giro.

Sinônimo de sucesso e agradando facilmente o gosto do cliente mais exigente, a Borelli funciona diariamente, das 11h às 23h, sem fechar nem mesmo nos feriados. São ofertados 24 sabores, dos quais 12 fixos. A outra dúzia de sabores pode variar desde alguma novidade até os sabores regionais, os preferidos dos turistas. Há também opções zero lactose, diet e vegano. Pistache, doce de leite e torta de limão são os sabores mais vendidos.

CRESCIMENTO DO SETOR ALIMENTÍCIO

Outro empreendedor franqueado é Nairo José Monte Freitas, 45 anos. Ele empreende desde 2015, quando iniciou no ramo de hotelaria. Foi dono de uma pousada, em Japaratinga, Litoral Norte de Alagoas. No entanto, a sazonalidade do turismo na região fez o empreendedor e agora franqueado buscar algo que pudesse “existir” o ano todo, havendo o mínimo de previsibilidade financeira.

Há pouco mais de dois anos adentrou no ramo de alimentação com a franquia Dom da Empada em Maceió e agora, em 2025, também começou a trabalhar comercializando chocolates e afins com a franquia Brasil Cacau. A Dom da Empada comercializa empadas e pastéis de forno em praticamente todo a Região Nordeste. São mais de 50 quiosques espalhados entre Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Nairo Freitas é responsável pelos quiosques de Alagoas. Atualmente, são quatro quiosques em shoppings da capital e um em Arapiraca. A média é de quatro colaboradores por loja. “Consideramos um grande desafio empreender em nosso país. Mesmo em uma empresa pequena como a nossa, o excesso de burocracia e a alta carga tributária desestimulam quaisquer ideias de inovação, melhorias ou até mesmo uma melhor recompensa aos colaboradores. Outra grande dificuldade é a contratação de colaboradores. Por incrível que pareça, mesmo com as altas taxas de desemprego no país, a oferta de mão de obra é escassa. Mesmo com a utilização de empresas de recrutamento de Recursos Humanos, muitas vezes trabalhamos com o quadro reduzido por não conseguir ocupá-lo em tempo hábil”.

Quiosque da franquia Dom da Empada em um dos shoppings da capital alagoana (Foto: Divulgação)

A empresa é administrada com um sócio, Gustavo Mesquita. São divididas obrigações de gestão, o que facilita o dia a dia e a eficiência gerencial. “Para levar à frente a administração de todos os quiosques, foi necessário a busca por crédito de terceiros. Por se tratar de franquia (algo já consolidado no mercado), percebi uma maior facilidade em conseguir apoio nas instituições financeiras, como Sicredi e Banco do Nordeste do Brasil, por exemplo. Sem esse apoio, nossa expansão estaria comprometida. Fomos em busca de linhas de crédito de instalação e também de capital de giro”, detalhou.

Entre as vantagens de ser um franqueado, Nairo citou a “segurança” em adentrar em um negócio já comprovado e de sucesso em outras localidades. O apoio da franqueadora, completou ele, desde o início da operação até o compartilhamento de ideias de administração, de acordo com a experiência em outros pontos, reduz os riscos e facilita o gerenciamento. “Consideramos mais fácil a obtenção de crédito por instituições financeiras, devido principalmente à comprovação da viabilidade do negócio. Entre as desvantagens, cito os elevados valores do custo inicial de operação. A montagem inicial que inclui arquitetura, ambientação, maquinário, tudo de acordo com a orientação da franquia. Por vezes, não são as escolhas mais econômicas, mas devemos seguir o acertado. Outra desvantagem considerada é a dependência da franquia – precisamos da pontualidade de entrega de produtos, por exemplo – aliada a uma menor flexibilidade de gestão, ou seja, não podemos inovar ou buscar melhorar o desempenho por uma ideia própria, sem que isso seja aprovado previamente”, listou o empreendedor franqueado.

Quem está quase com os dois pés no mercado de franquias é o também paulista Fabio Lopes de Araújo. O empreendedor está buscando o melhor ponto comercial nos bairros de Ponta Verde e Jatiúca para abrir sua unidade franqueada de poke, a Mana Poke, cuja franquia é de Campinas, São Paulo. Virão, logo de primeira, 10 vagas diretas no mercado de trabalho. Assim como os demais franqueados, ele também considera a alta carga tributária, a escassa mão de obra e a falta de incentivo para levantar capital os maiores obstáculos. Natural de São José dos Campos, em São Paulo e atualmente residindo na capital paulista, o empreendedor virá morar em Maceió.

Fabio Lopes de Araújo vai abrir a franquia Mana Poke no segundo semestre deste ano em Maceió (Foto: Arquivo pessoal)

Antigo trabalhador pelo regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), o futuro franqueado sempre teve o sonho de empreender. “Carreguei esse sonho comigo, por muito tempo. Mas, como não tive referências próximas na família, senti que precisava primeiro ganhar experiência no mundo corporativo antes de me lançar nesse caminho. A escolha por Maceió veio do coração. Minha noiva é nordestina e em uma viagem para cá nos encantamos completamente pela cidade. Fomos acolhidos com tanto carinho que sentimos, de forma muito clara, que aqui é o nosso lugar. Maceió não é apenas linda – ela nos tocou, nos inspirou. E foi assim que decidimos que este seria o cenário da nossa vida juntos, da nossa família e do nosso sonho empreendedor”, detalhou. Aguardem, Mana Poke chegará à capital alagoana no segundo semestre deste ano.

Instituição financeira oferece linha de crédito específica para franquias

O Banco do Nordeste oferece a linha de crédito FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste) Franquia, destinada especificamente ao financiamento de empreendimentos vinculados ao sistema de franquias. Mas as franquias também podem acessar as linhas de crédito tradicionais do Banco.

Conforme Eduardo Baracho, gerente de Relacionamento em exercício da Agência Maceió Centro do BNB, a linha FNE Franquia é destinada a pessoas jurídicas e empresários registrados, inclusive MEIs, que atuem como franqueadores e/ou franqueados. “A FNE Franquia permite financiar a implantação, expansão, modernização, reforma ou ampliação de franquias; aquisição de franquias em funcionamento; taxa de filiação, estoque inicial, móveis, equipamentos, tecnologia, entre outros; com capital de giro associado ao investimento (limitado a até 1/3 do valor financiado)”, elenca Baracho.

Em Alagoas, no ano passado, foram R$ 3,5 milhões disponibilizados através do FNE Franquia. Vale ressaltar que as franquias acessam outras linhas de crédito, então o apoio ao segmento é bem maior do que esse valor. Ou seja, podemos considerar esse valor como o utilizado para implantação de franquias, basicamente.

Eduardo Baracho, gerente de Relacionamento da Agência Maceió Centro do BNB, em reunião com o franqueado da Gelato Borelli, Rafael Ceschi (Foto: Cortesia)

Em 2023, o BNB praticamente não tive acesso específico a essa linha em Alagoas (as franquias já instaladas acessaram outras linhas de crédito). O que mostra um crescimento considerável de novas franquias vindo para o estado em 2024.

Em 2025, até março, no banco como um todo (com atuação em 11 estados, porque pega, além do Nordeste, o Espírito Santo e parte de Minas Gerais), já são 9 milhões dessa linha específica FNE Franquia. Em Alagoas, a gerência informou que ainda não disponibiliza o filtro deste ano.

MOVIMENTAÇÃO

De acordo com Eduardo Baracho, só na agência do Centro, em 2024, em torno de seis clientes buscaram informações sobre a linha de crédito específica para franquias. “Destes clientes, dois concluíram o cadastro e concretizamos essas duas operações. Apenas uma operação não foi aprovada para seguir para contratação”, comentou o gerente, acrescentando que, este ano, a procura continua na mesma proporção, “as propostas estão em negociação”.

Em relação à movimentação financeira liberada pelo banco, na agência do Centro, no programa de franquias foram liberados R$ 200 mil, “mas contabilizando o total de recursos para franquias foram mais de R$ 500 mil”.

O gerente explica que o banco avalia para liberar o crédito: o limite gerado para o proponente; capacidade de pagamento do mutuário; apresentação da Circular de Oferta de Franquia (COF) e contrato-padrão da franquia, exceto em casos específicos; se o interessado é da associação do franqueador à ABF (preferencial); condições de garantia, conforme o Manual interno; conformidade com as normas legais (inclusive prevenção à lavagem de dinheiro); e para imóveis: localização, condição física, infraestrutura e destinação do imóvel.