Superdotação e altas habilidades: quando a inteligência vem de nascença

Em Alagoas, 21 pessoas são reconhecidas oficialmente como detentoras de altas habilidades, sendo 12 crianças e nove adultos; especialistas acreditam que números são subnotificados

Por Lucas França e Valdete Calheiros - Repórteres / Bruno Martins: Revisão | Redação

Alagoas tem 3.127.683 habitantes, segundo a mais recente contagem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2022. Desse total, apenas 21 pessoas são oficialmente reconhecidas como portadoras de altas habilidades, ou seja, consideradas superdotadas. Dentre elas, 12 são crianças e nove, adultas.

A estimativa é da Mensa, uma associação sem fins lucrativos fundada em 1946, em Oxford, na Inglaterra, que chegou ao Brasil em 2002. Hoje, a Mensa reúne 150 mil membros em 90 países, sendo 4.800 deles brasileiros.

A Mensa mobiliza esforços em torno da pauta dos superdotados em três frentes: identificando pessoas com superdotação; proporcionando um ambiente social e intelectualmente estimulante para seus membros; e contribuindo com pesquisas científicas sobre inteligência.

Assim como as pessoas de inteligência regular, os superdotados não podem ser generalizados. Entretanto, algumas características comuns se apresentam com maior frequência, como intensidade, hipersensibilidade, uma forma diferenciada de enxergar o mundo e receber estímulos, além de um processamento rápido de informações.

A reportagem do Tribuna Hoje foi a campo e localizou dois desses superdotados: pai e filho.

Eduardo de Paula Sabino de Oliveira, de 12 anos, ama estudar conteúdos dos mais diversos. Desvendar os mistérios e encantamentos da Matemática, Astronomia, Física Clássica e Física Quântica está entre suas atividades rotineiras. Desde cedo, o garoto já tem clareza sobre seus objetivos futuros: trabalhar com desenvolvimento nanotecnológico e robótico para saber como funcionam as coisas. Engenharia mecatrônica também está na lista de seus interesses.

“Quando eu concluir Cambridge, pretendo entrar na NASA. Quero trabalhar no desenvolvimento de rovers, robôs que estudam a capacidade mineral marciana. Vou juntar dinheiro para abrir minha própria empresa de engenharia mecatrônica com avanços em áreas relacionadas à nanotecnologia e ao desenvolvimento robótico”, afirmou, demonstrando sua determinação em cada passo planejado para o futuro.

Aos quatro anos, Eduardo perguntou à mãe como Deus poderia estar em todos os lugares se Ele é um só. Ele prefere estudar sozinho na biblioteca da escola, onde afirma conseguir avançar nos estudos 14 vezes mais rápido.

Sarita de Paula Silva, mãe do pequeno gênio, tem 48 anos e é contadora especialista em auditoria. Eduardo deveria estar cursando o 7º ano do Ensino Fundamental II, mas recentemente avançou na grade escolar e passou para o 8º ano.

Sarita está em processo de avaliação neuropsicológica para também confirmar sua identificação como superdotada. Ela atualmente exerce a função materna em tempo integral.

Sarita de Paula olhou mais atentamente para as altas habilidades do filho depois que outras mães dos amigos da escola chamaram sua atenção e sugeriram que a família fizesse uma avaliação neuropsicológica no garoto. A essa altura, o raciocínio rápido do menino já era percebido como algo acima do comum.

Sarita e o filho superdotado, Eduardo (Foto: Edilson Omena)

“Eu sempre soube que o Eduardo e o pai dele eram inteligentes, mas não tinha a dimensão desse universo pouco explorado. Para mim era normal, eu os compreendia. Depois de uma pesquisa criteriosa, cheguei até a profissional que fez a avaliação do meu filho. Eu tinha receio de uma avaliação rasa, que não tivesse a identificação correta. Sei que há crianças que fizeram avaliações e depois refizeram com outros profissionais, obtendo convergência nos laudos. Então, a escolha de um profissional capacitado é o ponto de partida principal para evitar erros e, principalmente, ter uma conduta mais assertiva e adequada a cada caso de neurodivergência”, explicou, detalhadamente.

Após a identificação da superdotação de Eduardo de Paula Sabino, o pai dele também realizou o processo e obteve a mesma identificação de AH/SD, sigla para Altas Habilidades e Superdotação. Esse termo é utilizado para descrever pessoas com potencial elevado de desempenho em uma ou mais áreas.

A partir da identificação de ambos, ela mesma decidiu passar por uma avaliação neuropsicológica devido a algumas questões que relacionou com sua própria vida. O processo ainda está em curso e Sarita de Paula aguarda a conclusão.

Ser mãe de um superdotado, admitiu a contadora, não é tarefa das mais fáceis. “As barreiras sociais são enormes, porque foge do padrão convencional. E lidar com o padrão é sempre mais fácil”, pontuou.

Para transpor esses obstáculos, ela faz cursos na área com uma neuropsicóloga, pesquisa muito e busca informações. Tudo isso para proporcionar melhores condições para que seu filho viva sua realidade e cumpra seu propósito. Para ser mãe de um superdotado, a pessoa também precisa desenvolver altas habilidades e buscar constantemente os melhores meios de orientar o desenvolvimento da criança da forma mais adequada possível.

“É importante identificar a área de interesse da criança. Em algum momento, isso aparece de forma inusitada. O que você não controla, você entrega para a sabedoria de Deus. No nosso caso, temos grandes desafios. Mas, ao mesmo tempo, é maravilhoso ter um filho AH/SD. Falo do nosso caso porque não há um padrão para superdotados, então as características podem variar de um indivíduo para outro. Da mesma forma, a área de interesse dos indivíduos AH/SD também varia. É desafiador porque esbarramos em uma intensidade emocional e um raciocínio lógico fora do padrão social”, argumentou.

Sobre o filho, Sarita afirmou que o menino tem um pensamento muito lógico. Ao ser perguntado sobre qualquer assunto, ele responde sem rodeios.

“Eduardo vai responder exatamente o que você perguntou, seja ou não do seu agrado. E as pessoas não estão acostumadas com isso, o que pode até gerar um conflito social”, contou ela, ao recordar que o garoto, aos oito anos de idade, identificou um ponto fraco, à época, na segurança do condomínio onde moram. Com orgulho, a mãe relata que o filho observa todo o seu entorno e sempre preza pela verdade e justiça. Não suporta ver violência, nem mesmo de ‘brincadeira’.

Eduardo de Paula Sabino (Foto: Edilson Omena)

Há aspectos negativos na condição de ser um superdotado? Sim, há! Sarita de Paula pontuou um: por ser muito jovem ainda e não encontrar seus pares na sociedade, o garoto acaba se isolando muito.

Prontamente, lhe vem a solução: buscar por esportes, música e, principalmente, áreas de interesse da criança para que eles, aos poucos, encontrem o seu lugar no mundo e se distraiam. “No nosso caso, em um ambiente fora da escola, que atenda mais às necessidades específicas dele, para que haja continuidade e progresso no desenvolvimento”, ensinou.

Quanto às emoções, é como se os sentidos emocionais fossem mais aguçados. Há muito amor quando sentem amor. Na mesma proporção, vem a dor. Ela também costuma ser intensa, e eles sofrem mais por isso.

“Somado ao fator de ele não encontrar os seus pares na escola e em outros lugares, ele acaba carecendo de mais atenção e mais afeto, uma boa dose de amor. É uma necessidade real que eu pontuo. Tem outro aspecto também que, no caso do Eduardo, é a sensibilidade sensorial auditiva. Desde cedo, ele passava mal na escola com dores de cabeça, chegando a quadros de vômito. Chegamos a levá-lo a diversos especialistas na área da Medicina, fazia exames e não havia uma causa que justificasse. Só após a identificação de AH/SD que tudo começou a fazer sentido. As dores de cabeça não são provenientes do sistema auditivo; provêm da própria inteligência e estrutura do cérebro.”

Mas, apesar de todas as barreiras que Eduardo se depara e que, aos poucos, têm sido transpostas, é maravilhoso perceber, acrescentou a mãe, como o racional dele, muitas vezes incompreendido, o puxa para o lado da verdade, da moral e da ética.

“Ele não liga para os padrões sociais, para o status quo, ele é autêntico. Tem objetivos grandes desde novo. Além da sua capacidade nata de aprender rápido tudo o que é ligado à sua área de interesse, ele tem um bom coração. Vai ter sempre alguém com mais ou menos do que você, o que nos distingue (no final) é o nosso caráter. Tudo se resolve muito melhor na vida com o respeito sincero às diferenças (sejam elas quais forem). Sem o respeito, nem o amor se sustenta”, definiu a mãe orgulhosa.

Sarita de Paula contou que, geralmente, os especialistas dizem que a AH/SD é genética. Mas, em um posicionamento muito pessoal, ela acredita que, além da genética, Deus capacita as pessoas. “Deus também não privilegia ninguém. É bagagem espiritual de cada um”, afirmou. Ela aceitou falar com a nossa equipe de reportagem por acreditar ser importante abordar o assunto, devido à desinformação e ao preconceito também, pelo fato de os superdotados serem diferentes.

“Todos enxergam o superdotado como infalível. O fato é que existe o potencial; entretanto, são mais racionais e, com isso, mais exigentes também. O meu filho, por exemplo, não quer estudar em um ambiente onde ‘brincar de briga’ é aceito culturalmente por ser coisa de menino”, pontuou.

De acordo com sua avaliação, há necessidade de políticas públicas mais amplas, que abracem, por exemplo, o homeschooling [ou educação domiciliar, uma modalidade de ensino em que os pais ou tutores educam os filhos em casa]. “Alguns superdotados adoecem por conta do ambiente escolar. Chega a ser uma questão de saúde mental”, alertou.

'Existe um estereótipo de que o superdotado seja aquele com perfil acadêmico, que só tira boas notas na escola. E isso leva a algum bullying e/ou preconceito, inclusive nas políticas públicas' - Cadu Fonseca, presidente da Mensa Brasil

Mensa, uma associação voltada aos superdotados

Formado em Jornalismo e especialista em Relações Governamentais, Carlos Eduardo de Souza Gomes Fonseca, mais conhecido como Cadu Fonseca, foi identificado com a superdotação aos 35 anos de idade. Atualmente, ele preside a Associação Mensa Brasil para o biênio 2024/25.

A Mensa é uma associação sem fins lucrativos que surgiu em 1946, em Oxford, na Inglaterra. No Brasil, foi instalada em 2002. Hoje, são 150 mil membros em 90 países, sendo 4.800 membros no Brasil.

A Mensa se mobiliza em torno da pauta de superdotados em três frentes: identificando pessoas com superdotação; fornecendo um ambiente social e intelectualmente estimulante para seus membros; e contribuindo com pesquisas científicas sobre inteligência.

Na Mensa Brasil, há dois públicos distintos: para adultos, são 101 grupos de interesse temático, e para crianças, 138 grupos de interesse temático (incluindo os exclusivos para seus pais).

Segundo Cadu Fonseca, o número mais relevante atualmente no Brasil sobre superdotados vem do Censo Escolar. “Em sua última edição publicada, em março do ano passado, foi divulgado o Censo Escolar 2023. O Brasil contava com 38.800 superdotados identificados, um salto relevante em relação ao ano anterior. Em 2022, o Censo fechou com cerca de 26 mil superdotados.”

Na avaliação do presidente da Mensa, esse esforço contínuo pela identificação visa retirar os superdotados de uma invisibilidade social e garantir a esse público seus direitos na educação especial.

“Entretanto, olhando pelo aspecto da subnotificação, vemos que teremos grande esforço para alcançar bons resultados, pois superdotados são 5% da população, ou seja: esperamos 10,7 milhões de brasileiros superdotados. Estamos muito distantes da identificação plena – e do direito pleno.”

(Foto: Reprodução)

Para Cadu Fonseca, por um lado, temos o superdotado como um indivíduo com alto potencial, que pode se expressar em várias frentes, sendo muito criativo, motivado e dotado de alta capacidade intelectual. Por outro lado, pesquisas indicam que os superdotados são hipersensíveis e possuem maior predisposição a transtornos em comparação à média da população geral.

Para o presidente da Mensa, são necessárias abordagens específicas nas políticas públicas tanto na matéria escolar quanto na saúde, pois são indivíduos com necessidades específicas e que requerem abordagem profissional assertiva.

“Existe um estereótipo de que o superdotado seja aquele com perfil acadêmico, que só tira boas notas na escola. E isso leva a algum bullying e/ou preconceito, inclusive nas políticas públicas. A ausência de um marco legal dificulta a melhor abordagem profissional para esse público, e a subnotificação leva a escolhas de Sofia nas políticas públicas (onde se priorizam outras necessidades na educação especial, já que o poder público só identificou 38.800 superdotados no último Censo Escolar). Essa conjuntura de estereótipos, baixa identificação e pouco conhecimento das necessidades específicas dos superdotados nos coloca em um cenário de um caminho muito árduo a percorrer para melhorar o ambiente para os superdotados no Brasil”, avaliou.

Para o presidente da Mensa, a imprensa tem um papel importantíssimo para ajudar a esclarecer o assunto, dar luz ao tema e romper com esses estereótipos.

“Eu brinco dizendo que parece que na imprensa temos a figura do personagem ‘Sheldon Cooper’ [da série The Big Bang Theory, um superdotado de perfil acadêmico] dominante, mas na verdade o que temos é uma ‘novela mexicana’, com diferentes perfis e condições a serem abordadas. Se um indivíduo superdotado (que não seja do mesmo perfil do Sheldon Cooper) não se enxerga nos meios de comunicação, com certeza não busca uma identificação, pois não se sente parte desse público das altas habilidades e superdotação”.

Cadu Fonseca explicou que existem bons testes a partir dos dois anos e meio de idade. A Mensa hoje aceita (para crianças) laudos a partir dessa faixa etária. E, para quem tem mais de 17 anos, é possível fazer testes diretamente na Mensa também. O ideal, esclareceu, é a identificação o quanto mais cedo, para dar aos pais, professores e profissionais psicólogos condições de ajudar o indivíduo superdotado a se desenvolver da melhor forma.

“Na Mensa, temos visto uma maioria de meninos entre os superdotados, mas, como todos esses dados no Brasil possuem uma subnotificação crônica, é preciso tomar cuidado com essa informação, pois pode estar enviesada, devido à falta de uma identificação plena da nossa parcela de superdotados na sociedade.”

No mundo das pessoas com altas habilidades, nem tudo é perfeito. Ele contou que há relatos de sofrimento psicológico entre os membros e em todo o meio dos superdotados. Além, claro, da perda de janelas de oportunidade de desenvolvimento educacional e social ao longo da vida adulta. Por isso, a Mensa reforça a necessidade da identificação o quanto mais cedo possível.

“Atualmente, certamente existe um cenário melhor do que o que havia quando eu era criança [década de 1980], mas ainda estamos muito aquém de uma garantia plena de direitos dos superdotados. Os pais que identificam em seus filhos as altas habilidades e superdotação devem procurar escolas que deem esse suporte. O poder público tem a obrigação de fornecer esse suporte, embora faltem os recursos financeiros, materiais e humanos ideais para o pleno atendimento das necessidades dos alunos superdotados. Hoje, existem boas referências de educação especial para superdotados em Curitiba, Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Mas seria ideal já trabalharmos hoje em dia com boas referências em cada estado da nossa federação”, salientou.

A neuropsicologia a serviço da superdotação e das altas habilidades

A neuropsicóloga e psicoterapeuta cognitivo-comportamental Christianne Assumpção Couto, mais conhecida como Chris Couto, afirmou que, assim como todas as pessoas, os indivíduos com AH/SD são únicos e apresentam um universo de possibilidades de facilidades e, também, dificuldades.

Muitas pessoas, destacou, possuem concepções errôneas sobre o que seriam as AH/SD. Tais concepções vão desde habilidades fantásticas até ligações com problemas psiquiátricos, o que a Ciência não corrobora.

“Acredito que essa nova onda de busca pela identificação das AH/SD esteja oferecendo mais conteúdo para que as pessoas tenham acesso às informações adequadas. Por outro lado, infelizmente, canais como as redes sociais contribuem, muitas vezes, de forma danosa, com informações nada científicas. Todos parecem especialistas no assunto e acabam confundindo as pessoas.”

Mas, afinal, em que momento é possível descobrir se determinada pessoa tem ou não altas habilidades? Chris Couto explicou que, desde a primeira infância, é possível identificar as pessoas com AH/SD.

“Não há uma idade específica. Contudo, digamos que uma avaliação mais aprofundada pode ser feita após os seis anos de idade.” Feita a avaliação, novas etapas desafiadoras estão por vir.

Em alguns casos, explicou a neuropsicóloga e psicoterapeuta cognitivo-comportamental, pode haver, entre os superdotados, sensação de não pertencimento entre os pares e desinteresse escolar (até notas baixas).

“É importante ressaltar que nem sempre a habilidade do indivíduo virá no meio acadêmico. Tal habilidade também pode ser expressa através de liderança, habilidades artísticas e nos esportes. Desta forma, é muito importante que sejam identificadas e estimuladas. A sociedade ainda precisa ser mais flexível com todos os públicos que exijam atenção diferenciada. A escola deve ser o grande primeiro acolhimento desse indivíduo, mas ainda temos caminhos a serem percorridos”, frisou.

Neuropsicóloga Chris Couto (Foto: Arquivo pessoal)

Mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo, Chris Couto também é professora e mentora de diversos cursos de neuropsicologia, pedagogia, neurociências da aprendizagem e do desenvolvimento, palestrante e sócia-diretora da Clinede – Clínica de Neuropsicologia Escolar e do Desenvolvimento.

A profissional atua há 23 anos na avaliação neuropsicológica e na identificação de AH/SD. Nas mais de duas décadas de profissão, já ouviu as mais variadas queixas. Em sua maioria, os pais reclamam das dificuldades em ambiente escolar.

E como será a vida de uma pessoa após a identificação da AH/SD? Segundo Chris Couto, após a avaliação neuropsicológica, é elaborado um plano de ação junto à família e à escola (se necessário, com os profissionais que assistem à criança ou ao adolescente). “Nos casos em que são necessários, o acompanhamento psicoterápico também é indicado, mas isso não é regra”, finalizou.

Para a vice-diretora do Colégio Marista Maceió, Mary Hellen Severiano, no contexto educacional, é comum observar a diversidade de habilidades entre os alunos.

“Contudo, torna-se imperativo identificar aqueles que demonstram um desenvolvimento de habilidades significativamente superiores em relação aos seus pares da mesma série ou faixa etária. Para a instituição escolar, o aluno com altas habilidades representa um desafio pedagógico, uma vez que o currículo padrão pode não atender às suas necessidades específicas, resultando em desinteresse e desmotivação.”

Vice-diretora do Colégio Marista Maceió, Mary Hellen Severiano (Foto: Arquivo pessoal)

É crucial esclarecer, na sua opinião, que o diagnóstico de altas habilidades não implica necessariamente um desempenho acadêmico excepcional em todas as áreas do conhecimento. As altas habilidades podem manifestar-se em domínios específicos, como matemática, ciências, artes ou linguagem.

“Diante disso, o maior desafio para a escola, e em particular para o docente, reside na elaboração de um plano de ensino individualizado que estimule o aluno, proporcionando-lhe desafios intelectuais adequados ao seu potencial. Nesse sentido, a colaboração entre a orientação educacional e o professor é fundamental para o desenvolvimento de estratégias pedagógicas diferenciadas, e é assim que seguimos aqui no Colégio Marista de Maceió”, afirmou a vice-diretora, que é doutora em Linguística e Literatura.

Ela explicou que a adaptação de atividades, a organização de conteúdos e a atenção aos aspectos socioemocionais são elementos indispensáveis para o desenvolvimento cognitivo e social do aluno com altas habilidades. Segundo a vice-diretora, o colégio promove um ambiente que valoriza a diversidade e que oferece oportunidades para o desenvolvimento pleno do potencial de cada aluno.

“Estamos sempre preocupados com a formação contínua dos professores e da equipe pedagógica para lidar com as demandas específicas desses estudantes. Na formação docente, buscamos estratégias de identificação, avaliação e intervenção, bem como o desenvolvimento de habilidades para a criação de um ambiente inclusivo e estimulante”, garantiu.

O que é a superdotação afinal?

  • Conforme a neuropsicopedagoga Olzeni Ribeiro, a principal característica dessa condição é a atividade metabólica intensa do cérebro. Ou seja, o processamento de informações ocorre de forma muito mais rápida. Ainda segundo a especialista, o organismo metaboliza a glicose mais rapidamente em pessoas superdotadas, proporcionando mais energia para o funcionamento cerebral.
  • “A superdotação é uma condição do neurodesenvolvimento. Tem o fator inteligência envolvido, mas principalmente uma facilidade de aprender. Um dos mitos que temos aqui no Brasil é definir a superdotação pelo QI [Quociente de Inteligência]”, explica a neuropsicopedagoga.

Curiosidade sobre a própria vida teve início com o acompanhamento das descobertas sobre o filho

Pai de Eduardo de Paula Sabino, o auditor-fiscal do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, Alexandre Sabino, 45 anos, recém-descobriu, oficialmente, a condição de superdotação, no início deste ano. A curiosidade sobre sua própria vida teve início com o acompanhamento das descobertas sobre o filho.

“Desde os primeiros meses de vida, meu filho Eduardo já apresentava características que o diferenciavam das outras crianças da mesma idade. Ele demonstrava uma sensibilidade auditiva extrema, reagindo com incômodo a sons que não pareciam afetar os demais. Quando começou a falar, percebemos que sua estrutura de raciocínio e seu vocabulário eram notavelmente avançados”, recordou.

Com o passar dos anos, completou Alexandre Sabino, essas diferenças se tornaram ainda mais evidentes. Eduardo desenvolveu um interesse intenso por temas complexos, como Astronomia, Física Quântica, Matemática e Xadrez. Além disso, sempre se queixava de fortes dores de cabeça quando exposto a sons que considerava excessivamente altos, como os de cinemas ou festas infantis.

O auditor-fiscal lembrou que, após inúmeras consultas médicas, exames e pesquisas, a pediatra do filho levantou a possibilidade de superdotação – um tema que algumas mães de colegas da escola já haviam mencionado de forma casual.

“Decidimos, então, submetê-lo a uma avaliação neuropsicológica, que confirmou a hipótese. A partir desse momento, eu e a mãe de Eduardo começamos a estudar mais sobre o assunto. Durante esse processo, percebi que muitas das características descritas também faziam parte da minha vivência: facilidade de aprendizagem, pensamento acelerado, raciocínio lógico aguçado, desinteresse por conversas triviais, ansiedade e até mesmo um certo perfeccionismo. Isso me levou a buscar a mesma avaliação que ele, quando foi constatada a minha condição de superdotado”, detalhou.

Alexandre Sabino contou que essa descoberta o fez perceber o quanto é essencial nos conhecermos para compreendermos nossa forma de enxergar e interagir com o mundo.

“Quando entendemos quem somos, conseguimos encontrar caminhos para lidar melhor com desafios e explorar nossas potencialidades. Afinal, vivemos em uma sociedade que não foi modelada para aqueles que pensam e sentem de forma diferente, e o autoconhecimento é a chave para navegar por esse cenário de forma mais leve e consciente”, argumentou.

Na sua avaliação, a superdotação traz diversas vantagens, mas também desafios que precisam ser compreendidos e enfrentados. Como vantagens, ele citou o aprendizado rápido: superdotados geralmente assimilam conteúdos de maneira acelerada e fazem conexões entre diferentes áreas do conhecimento com mais facilidade.

O pensamento criativo e inovador: a capacidade de enxergar soluções e possibilidades fora do comum pode levar a descobertas e inovações em diversas áreas. E a curiosidade intensa: o desejo constante de aprender impulsiona o aprofundamento em temas complexos e a busca incessante por conhecimento. Além da habilidade analítica: a facilidade de identificar padrões, resolver problemas e antecipar cenários pode ser uma grande vantagem em diversas situações.

Auditor-fiscal Alexandre Sabino (Foto: Edilson Omena)

No entanto, os desafios existem e também foram pontuados pelo auditor-fiscal. “Um dos maiores problemas é a distorção que existe sobre o que significa ser superdotado. Há um mito de que um superdotado é um gênio universal, alguém que nunca erra, que tem memória fotográfica e que, se derem a ele um pente, um chiclete e uma palha de aço, será capaz de construir um rádio para se comunicar com a Estação Espacial Internacional. Essa expectativa irreal pode ser sufocante e frustrante, tanto para a própria pessoa quanto para aqueles ao seu redor.”

Além disso, acrescentou, as pessoas poderiam entender que nossa mente funciona de maneira diferente. Isso faz com que muitos de nós sejamos mais introvertidos, altamente questionadores e impacientes com burocracias que parecem sem sentido. Eles também possuem um senso de justiça – ou de injustiça – que muitas vezes extrapola o que é considerado “normal”. O que para os outros é apenas uma pequena incoerência pode causar aos superdotados um incômodo real, pois eles tendem a buscar lógica e coerência em tudo.

Há ainda, relacionou Alexandre Sabino, desafios pessoais que costumam ser rotulados como exagero ou frescura. A hipersensibilidade sensorial, por exemplo, pode tornar barulhos, luzes fortes e texturas desconfortáveis um verdadeiro tormento.

A necessidade de profundidade nos assuntos, comentou, pode fazê-los parecerem “críticos demais” ou “complicados”. A tendência ao perfeccionismo pode ser interpretada como arrogância ou falta de flexibilidade, quando, na verdade, eles estão apenas tentando atingir um nível de profundidade que faz sentido para os superdotados.

“E nem mesmo o termo ‘altas habilidades’ me agrada muito. Prefiro ‘altas capacidades’, porque ter potencial não significa nada se não houver capacitação, treino e desenvolvimento. Sem esforço contínuo, disciplina e persistência, não há diferença significativa entre alguém com superdotação e qualquer outra pessoa neurotípica. A verdade é que a consistência e a dedicação vencem qualquer condição biológica de inteligência. Além disso, inteligência sem propósito pode ser irrelevante ou até perigosa. As mentes mais brilhantes do mundo já se uniram para criar armas de destruição em massa, o que prova que o verdadeiro diferencial não está apenas na inteligência, mas na forma como ela é empregada”, expôs.

Para ele, o que o mundo realmente precisa não é apenas de pessoas inteligentes, mas de pessoas boas. Alexandre Sabino é professor na Guruja Concursos, uma assessoria de estudos especializados nos maiores concursos públicos do país, nas áreas Fiscal, Policial e de Controle. Know-how, ele tem. Foi aprovado no concurso federal na primeira tentativa.

O pai e os irmãos de Alexandre Sabino também apresentam algumas características, mas ainda não foram avaliados clinicamente para que possamos afirmar se também são superdotados.

Ele contou que a vida escolar e acadêmica pode ser um verdadeiro tormento para quem tem altas capacidades intelectuais. “Desde cedo, a estrutura tradicional de ensino, baseada em um ritmo padronizado e linear, se torna uma fonte constante de frustração. Enquanto a maioria dos alunos precisa de tempo para assimilar os conteúdos, um superdotado frequentemente capta a essência do assunto em poucos minutos – e então se vê obrigado a passar o restante da aula ouvindo repetições intermináveis ou simplesmente esperando que os outros alcancem o mesmo nível de compreensão. Essa lentidão imposta pelo sistema educacional pode gerar tédio, desmotivação e até a sensação de que a escola é um lugar de perda de tempo.”

De acordo com Alexandre Sabino, outro grande desafio está na falta de conexão com os colegas da mesma idade. A maneira de pensar, os interesses e a forma de enxergar o mundo costumam ser muito diferentes, o que torna difícil estabelecer relações genuínas. Muitas interações sociais parecem superficiais ou sem propósito, e isso pode levar ao isolamento voluntário.

“No meu caso, até tive amigos, mas sempre entre aqueles que se destacavam academicamente. A conversa fluía melhor com pessoas que tinham uma sede semelhante por aprendizado e questionamentos mais profundos. Não é raro fingirmos interesse em alguma coisa só para sermos aceitos pelo grupo – e isso é absolutamente frustrante! Além disso, o pensamento questionador, que é uma característica natural dos superdotados, nem sempre é bem recebido por professores e colegas, o que pode ser fonte de bullying, gerar conflitos e até a sensação de não pertencimento.”

Na faculdade, pontuou, a situação tende a se repetir, especialmente em cursos muito teóricos ou com metodologias engessadas. O ritmo ainda é lento, a exigência pode não ser compatível com o potencial do aluno e as relações interpessoais continuam sendo desafiadoras. O problema não é apenas o conteúdo, mas a forma como ele é transmitido e a falta de estímulos para quem precisa de desafios reais para se manter engajado.

“No fim, o que poderia ser um período de crescimento e desenvolvimento muitas vezes se transforma em uma fase de tormento. E, se não houver um ambiente que incentive a exploração do potencial e respeite as peculiaridades da mente superdotada, o talento pode acabar sendo desperdiçado ou direcionado para caminhos que não aproveitam todo o seu potencial.”

“Superdotação não é só inteligência”

Para muitos, a superdotação, também conhecida como altas habilidades, é simplesmente ser inteligente ou genial, mas não é isso. Tal condição é muitas vezes interpretada de forma fantasiosa devido à desinformação.

O que a maioria das pessoas superdotadas e pais de crianças e adolescentes superdotados vivenciam, na verdade, é a incompreensão.

Veja algumas características de pessoas superdotadas:

- Distúrbios do sono (como sonambulismo e terror noturno);

- Intensidade (tato, sons, cheiros e emoções podem ser sentidos de forma muito mais exacerbada);

- Senso de justiça muito aguçado;

- Necessidade de questionar;

- Autocobrança;

- Perfeccionismo;

- Baixa tolerância à frustração;

- Memória acima da média.

EDUCAÇÃO E LEGISLAÇÃO

Só em 2013, o conceito de altas habilidades/superdotação passou a fazer parte da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que regulamenta a educação no país. Na ocasião, foi promulgada a Lei nº 12.796 (http://www.planalto.gov.br/cci...), que altera a LDB e estabelece "atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino".

Em 2015, dois anos depois, a Lei nº 13.234 (https://www.planalto.gov.br/cc...) foi promulgada para tornar obrigatória a identificação, o cadastro e o atendimento a estudantes com essas características. No entanto, a reclamação de famílias de crianças e adolescentes com altas habilidades é que, regionalmente, não há o cumprimento da lei, por ela ser muito abrangente. Além disso, a legislação vale apenas para escolas públicas.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

O Ministério da Educação (MEC) ressalta que "trabalha firmemente para retomar, fortalecer e ampliar a Política Nacional da Educação Especial". Segundo a pasta, tal política assegura, além do atendimento educacional especializado:

- Inclusão, orientando os sistemas de ensino para garantir acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino;

- Transversalidade da modalidade de educação especial, desde a educação infantil até a educação superior;

- Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão;

- Participação da família e da comunidade;

- Acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informações;

- Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas.

“Já em relação às pessoas com altas habilidades/superdotação, o ministério torna público o seu compromisso em romper com a invisibilidade histórica desse público nas políticas de educação", informa a pasta.

Secretaria de Estado da Educação oferece atendimento especializado

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) oferece Atendimento Educacional Especializado (AEE), conforme o Decreto nº 7.611/2011, assegurando um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com igualdade de oportunidades. Dessa forma, os professores da Educação Especial, efetivos e contratados, atuam nas unidades da rede pública estadual, apoiando o processo de inclusão dos estudantes.

Entre suas atribuições estão fornecer orientações aos professores das salas comuns e articular e mediar formações continuadas para a comunidade escolar.

De acordo com o Censo Escolar de 2023, 229 estudantes identificados com Altas Habilidades/Superdotação estão matriculados nas redes pública e privada do Estado de Alagoas. A triagem desses estudantes é realizada pelos professores das salas comuns, com o apoio da coordenação pedagógica e do professor da Educação Especial, durante as atividades escolares.

Possíveis indicativos são documentados para análise, sob a orientação de materiais como a Nota Técnica, disponibilizada no portal Escola Web (https://escolaweb.educacao.al....).

As unidades de ensino contam com Salas de Recursos Multifuncionais, equipadas com materiais e tecnologias assistivas. Nesses espaços, os estudantes participam de atividades de suplementação coordenadas por professores especializados em Educação Especial. Quando necessário, é promovido o encaminhamento para serviços de apoio externo que atendam às demandas específicas dos estudantes.

Cabe à gestão escolar assegurar a elaboração de propostas pedagógicas individualizadas que atendam às particularidades dos estudantes, seja na sala comum, seja em atividades de enriquecimento nas salas de recursos. Essas propostas incluem projetos como Programação e Robótica, Astronomia, Tecnologias Digitais, participação em Olimpíadas (como a Olimpíada Alagoana de História de Alagoas, mostras de Ciência e Tecnologia, entre outros eventos), tendo sempre como foco o desenvolvimento das potencialidades dos estudantes.

Por fim, a Seduc também orienta os professores a adotarem estratégias pedagógicas inclusivas e adaptadas às necessidades individuais, promovendo o reconhecimento das diferenças e o aprendizado diversificado. A participação ativa das famílias, por sua vez, é incentivada por meio de reuniões e plantões pedagógicos, além de eventos e palestras voltados à conscientização sobre AH/SD, com destaque para o Dia Internacional da Pessoa com Altas Habilidades e Superdotação, celebrado em agosto.

NA CAPITAL

Na rede pública de ensino de Maceió, quando as professoras identificam possíveis casos de superdotação/altas habilidades entre as crianças/estudantes, a equipe da Secretaria Municipal de Educação (Semed) é acionada para realizar uma avaliação diagnóstica. Atualmente, há 11 crianças/estudantes na rede identificadas com superdotação/altas habilidades.

Sede da Secretaria Municipal de Educação (Semed) (Foto: Ascom Semed)

Após o preenchimento pela professora da ficha com a lista base de indicadores, com parâmetros para observação do aluno em sala de aula, a criança/estudante terá um atendimento de acompanhamento com foco no desenvolvimento de seus interesses e no enriquecimento de seus conhecimentos, antes mesmo do diagnóstico realizado pelo neuropsicólogo.

Esse acompanhamento é feito por meio das salas de recursos multifuncionais (SRMs). Hoje, a rede pública municipal de ensino conta com 114 SRMs espalhadas pelos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e nas escolas.

A reportagem entrou em contato com representantes das escolas particulares de Alagoas para falar sobre o assunto, mas, até o fechamento do material, não obteve retorno.

Escolas têm dificuldade de incluir estudantes com altas habilidades no espaço de ensino

Para Fabiane Navega, professora do curso de pedagogia do Centro Universitário de Paulínia (SP) e especialista em educação especial, as pessoas com altas habilidades ou superdotação fazem parte de um grupo muito heterogêneo, com graus também variados. Não é possível colocá-las em "caixinhas". Ela explica que existem diferentes tipos de inteligência, e isso também está presente nos casos de altas habilidades.

Conforme a especialista, isso acaba dificultando que a instituição identifique esses estudantes. “Acaba que a escola tem a dificuldade de reconhecer essas crianças [com altas habilidades], por serem tão diferentes umas das outras. A instituição fica esperando encontrar, dentro da sala de aula, um gênio e, às vezes, desconsidera pequenas potencialidades”, afirma Navega.

Diferentes tipos de inteligência dificultam identificação de superdotados no ambiente escolar (Foto: Ilustração)

A especialista em educação inclusiva e coordenadora de pós-graduação no Instituto Singularidade, Carolina Vieira, pontua que a subnotificação não é o único fator que dificulta o acolhimento e atendimento adequado às crianças com altas habilidades. De acordo com ela, geralmente, a educação especial na perspectiva inclusiva foca bastante em alunos com deficiência, com transtornos globais ou no espectro autista, e nem sempre olha com a atenção devida para as altas habilidades.

“Outro desafio na inclusão desse público é que se espera dele um perfil específico, como se ele tivesse que ser aquele gênio da matemática ou da língua portuguesa, alguém que se destaca nas hard skills (habilidades concretas). Isso também é uma inverdade”, diz a especialista. Sobre essa expectativa, ela afirma ser comum que essas crianças sejam taxadas de desinteressadas ou problemáticas. “A gente precisa entender que a criança que tem altas habilidades não é apenas aquela que tira notas altas na escola."

No Brasil, número de pessoas superdotadas é subnotificado

Caracterizadas pela facilidade de aprender novos conceitos e procedimentos, pessoas superdotadas ou com altas habilidades intelectuais respondem por uma média de 5% da população mundial, conforme projeções da Mensa. No Brasil, a entidade estima que existem 4 milhões de pessoas com essas características. Porém, sem contar com políticas públicas para mapear superdotados em diferentes faixas etárias e áreas do conhecimento, a contagem no país se restringe ao ambiente escolar.

Um documento publicado em 2019 pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), para analisar políticas voltadas a pessoas superdotadas no mundo, mostra que há distintos métodos de identificação, que abarcam uma combinação de testes de QI e desempenho cognitivo, ferramentas para medir habilidades específicas e o engajamento do indivíduo em atividades relacionadas com suas áreas e disciplinas de interesse.

De acordo com a cartilha Saberes e Práticas da Inclusão, elaborada em 2006 pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (MEC), alunos superdotados “demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes”. Eles também são criativos e têm grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse, segundo a secretaria. Ou seja, não se considera superdotado apenas quem consegue boas notas em matemática e língua portuguesa, por exemplo, mas também aqueles que demonstram ser líderes natos, desenham ou tocam instrumentos de forma brilhante ou têm performance corporal excepcional.

“Um estudante com altas habilidades em artes pode não ser bom em matemática ou em outra disciplina curricular. Para ser considerado superdotado, não é necessário apresentar boa performance em todas as áreas”, detalha a matemática Carina Alexandra Rondini, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do campus de São José do Rio Preto, que desde 2009 desenvolve pesquisas no campo da superdotação, sendo duas delas financiadas pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).