Alisson Barreto
Adestrando os algoritmos aos seus propósitos
Adestrando os algoritmos aos seus propósitos
Muita gente fala em algoritmo e muitos erros são repetidos, conversa após conversa. Um deles é acreditar que o que se vê nas redes sociais são com base apenas no que se curte ou no que ou quem e resolve seguir. Mas isso são mitos que, além de não traduzir a realidade, podem ocultar envenenamentos silenciosos dos próprios propósitos.
OS ALGORITMOS E O CUSTO DA GRATUIDADE
Primeiramente, convém observar que há diversos tipos de algoritmos utilizados em streamings e redes sociais: de identidade, de classificação ou ranqueamento, de recomendação, de publicidade e também os de detecção de conteúdo nocivo e os de descoberta ou “quebra de bolha”.
Portanto, muito antes de seus cliques e seus tempos de tela, seus dados – tais como os de sexo, de gênero ou sexualidade, de idade e localização – estão sendo disponibilizados para os patrocinadores das redes sociais e refletirão em boa parte do que aparece para você em suas plataformas de streamings e em suas redes sociais.
Seus dados são caros e é por isso que muito do que é acessado com aparência de gratuito tem por trás, rios de dinheiro, com os quais se bancam muito comércio, não apenas de compra e venda de produtos, mas também de sexo e de ideologias.
Um fator interessante a se observar é que somos bombardeados por muitos vídeos e postagens, cada vez que acessamos nossas plataformas de streamings ou redes sociais. Se – ao identificarmos um conteúdo que não condiz com nossos propósitos, buscas ou crenças – não bloqueamos ou clicamos em ver menos, bem como se não clicamos em “curti”, “gostei” ou algo do gênero, ao nos depararmos com o que condiz, as plataformas registrarão nossos acessos e mostrarão mais do que mesmo bancado pelos patrocinadores.
ALGORITMOS, ACULTURAÇÕES E PERDAS DE PROPÓSITO
Assim, por exemplo, um cristão X que quer viver a castidade, mas não clica em ver menos conteúdo que atenta contra a castidade, verá mais conteúdo atentatório ao seu propósito. Sua crença pode achar que há uma entidade a provocar-lhe, mas é apenas uma lógica computacional sendo perpetuada.
Ao mesmo tempo se ele curte uma postagem rotulada como tradicional, outras que também o seja passarão a aparecer mais, ainda que sejam de um tradicionalismo que o direcionem para uma ruptura com a Tradição e prosseguimento a uma vertente cismática. Com o tempo, o indivíduo X pode ter recebido tanta informação daquela linha que nem tenha tempo de se dar conta da lavagem cerebral à qual foi submetido.
Outro ponto a observar é a do algoritmo de descoberta, ao qual podemos chama-lo de algoritmo “quebra bolhas”. Ele, de tempos em tempos, rompe a lógica de seus cliques para oferecer-lhe conteúdo totalmente novo e diferente do que você costumava ver para aguardar seu tempo de visualização e seu engajamento. Se você se estende muito nisso, passará a ver mais e mais. Com o tempo, sem se dar conta, você pode ter saído da esfera de suas escolhas iniciais para a zona de influência da bolha que patrocinou aquelas postagens.
Lembre-se de que não são apenas coisas, mas também ideologias e comércio sexual que são comercializadas nas redes sociais. Assim, aquele propósito do indivíduo X, que citei como exemplo, após um tempo de internet, pode levá-lo a interessar-se mais e mais por aquilo até nem se lembrar do propósito que tinha antes desse tempo de internet.
Nesse sentido também entram em jogo a aculturação e a inculturação. Assim, o indivíduo pode, com o passar do tempo, ver-se menos envolvido com elementos de sua cultura e mais envolto com elementos de uma cultura de além-mar.
De repente, uma brasileira Y, criada num mesmo ambiente cultural cristão de X, passa de uma cultura que buscava realidades celestes para comemorações da cultura estadunidense de Dia das Bruxas.
Na mesma perspectiva, pode um argentino Z, nascido na Guerra Fria e criado no ambiente ocidental do nosso continente latino-americano e acostumado com o capitalismo, com o passar do tempo acreditar que a Rússia não se nutre mais de suas raízes soviéticas e passar a copiar os comportamentos do que acredita serem os dos povos russos.
A RETOMAR O CONTROLE
Por conseguinte, se uma pessoa quer usar as redes sociais sem negar seus propósitos, deve escolher cuidadosamente o que curte e aquilo a que assiste, sem pena de denunciar, “descurtir” e clicar na opção ver menos ou não ver mais, se a rede ou plataforma permitir. Muitas das vezes, é possível que precise ausentar-se de redes sociais ou plataformas streamings.
Vale lembrar que a busca por propósitos e pela realização existencial ou profissional passam por periódicas reavaliações de trajetória. Mas pergunto: em suas reavaliações de metas e trajetórias, você inclui o conteúdo assistido ou clicado? Você reserva um tempo para filtrar, curtindo ou bloqueando o conteúdo que lhe é apresentado?
Bom… A essa altura do texto, você já percebeu que, quando não tomamos as rédeas dos algoritmos, somos levados pelas águas do que nos oferecem. Portanto, não são apenas as montanhas de livros dos ambientes profissionais ou educacionais pelos quais passamos que nos direcionam por caminhos inesperados, também os montantes de postagens ou vídeos que nos são oferecidos.
Aliás, acima falei em Dia das Bruxas, já percebeu como, nessa época do ano, redes sociais e streamings
são invadidos por postagens de Halloween? Antes de fazer esse texto, por exemplo, notei que nem o YouTube Kids está livre disso e, pior, ali não aparece a opção de não mostrar conteúdo de Halloween! Ou seja, se você é pai ou mãe e se interessa pelo tema, está tudo normal; mas se não se interessa, saiba que lhe falta a opção de isso não ser oferecido às suas crianças.
Vá além, abra um Spotify e suas plataformas de streaming e procure identificar quais você tem a opção de “pedir” para não mostrar conteúdos de que não gosta. Vá mais além e verifique se seus aparelhos e aplicativos têm a opção de seleção de conteúdo e, depois disso, veja se os conteúdos ficam de acordo com o que selecionou.
Recentemente, adquiri um aparelho que supostamente tem controle de conteúdo, mas após selecionar, advinha… Nada mudou. E mesmo quando mudar, lembre-se de que existem os algoritmos de “quebra-bolha”. Uma hora acabam oferecendo algum vídeo ou postagem diferente de suas escolhas. Sabe por quê? Porque há gente interessada no que você consome e empresas que pagam na expectativa de você consumir seus produtos, sejam eles objetos, pessoas ou ideologias.
A CONDUZIR-SE
Certa vez, assistindo ao Pe. Léo, na Canção Nova, ele disse que precisamos parar de assistir à TV e começarmos a assistirmos a programas de TV que escolhamos. Ora, ligar a TV ou pegar o celular e ficar na passividade de assistir, curtir e compartilhar sem sopesar a qualidade do que consumimos ou mesmo estamos a passar adiante é um erro que pode custar caro. Inclusive, o preço pode ser a ruína espiritual.
Que tal experimentar algo novo na própria relação com streamings e redes sociais: abri-los com propósito definido: ouvir uma música clássica ou canto gregoriano, assistir a imagens calmas de paisagens ou de animais divertidos, ouvir pessoas falando sobre o bem e sobre o amor. Ou você é do tipo que prefere insistir em assistir a noticiário policial e replicar a raiva no trânsito?
Por fim, convido a adestrar os algoritmos aos seus propósitos: filtre, curta, clique em não gostei e bloqueie conteúdos sem pena, pois são seus propósitos e suas crenças que estão no jogo. Faça um “detox” no seu consumo audiovisual.
Maceió, 28 de outubro de 2025.
Alisson Francisco Rodrigues Barreto
Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.





