Enio Lins

Prêmios para o talento artístico e para os ideais de liberdade e Democracia

Enio Lins 27 de maio de 2025

SEGUE SUBINDO A LADEIRA, com gosto de gás, o cinema brasileiro. Entusiasmante. Os dois prêmios materiais conquistados na Côte d'Azur somam-se com um terceiro, anterior, de pura emoção, que foi a ovação de 13 minutos quando da estreia. “O Agente Secreto” retorna para casa com os lauréis de Melhor Diretor e Melhor Ator do Festival Internacional de Cinema de Cannes. Empolga pela conquista nacional (poderia ser qualquer filme), empolga pelo conteúdo do filme premiado, empolga pelos posicionamentos corajosos, cidadãos, dos dois premiados: Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho.

ESSAS VITÓRIAS devem ser computadas, com muito orgulho, ao pensamento democrático brasileiro e internacional. Isto é particularmente importante num momento em que a extrema-direita (obtusa, criminosa, estúpida, arrogante) cresce em todo o globo, ameaçando com o retorno, em larga escala, do autoritarismo de feição fascista. O planeta sofre os tremores e temores de uma guerra nada fria onde a ignorância bombardeia a inteligência, a mentira apunhala a verdade, preconceitos trituram conceitos, a antiética esmaga a ética. Resistir é a palavra do momento. E quando um filme do tipo “O Agente Secreto” é reconhecido como um dos melhores do ano por uma das duas premiações mais emblemáticas do cenário cinematográfico universal, que lhe distingue com os títulos de Melhor Diretor e Melhor Ator, isto significa dizer que muitos milhões de pessoas a mais vão assistir à película premiada e raciocinar, ponderar, sobre os valores libertadores, antifascistas, ali expostos com arte e propriedade. É, portanto, um êxito – artístico, cultural e democrático – mundial.

KLEBER MENDONÇA FILHO, o melhor diretor do mundo em 2025, segundo Cannes, é um ativista pela liberdade e pela democracia, um militante antifascista convicto e sereno. Um cidadão com coragem suficiente para assinar um manifesto contra o genocídio em Gaza antes de ter sua obra cinematográfica votada, num cenário empresarial no qual o sionismo ainda tem enorme força e alto poder de decisão.

WAGNER MOURA, o melhor ator do mundo em 2025, segundo Cannes, é um ativista pela liberdade e pela democracia, um militante antifascista destemido, firme, e sem papas na língua, disposto a denunciar o autoritarismo em todos os momentos. Incansável. Quando seu nome foi anunciado como vencedor dentre todos os grandes atores concorrentes, estava em Londres, trabalhando, gravando mais um filme.

SOBRE O FILME, DIZ O G1: “Ambientado durante a ditadura militar no Brasil, O Agente Secreto conta a história de um professor que se muda para o Recife e descobre que está sendo espionado. Estreou no Festival de Cannes no dia 18 de maio e foi aplaudido por cerca de quinze minutos. Na imprensa internacional, o filme chegou a ser definido como "thriller maravilhoso", "obra-prima" e "monumental". Essa foi a primeira vez que o Brasil levou dois prêmios em uma mesma edição do Festival de Cannes”. Afirma a mesma fonte que ser premiado em Cannes não garante sucesso no Oscar, mas “mesmo assim, o festival francês aumenta a expectativa sobre o desempenho do longa em relação à premiação americana. Isso porque o festival tem um histórico promissor em relação ao Oscar — muitos dos filmes prestigiados e Cannes ganham destaque no Oscar no ano seguinte”.

ESSE SUCESSO, essas premiações, são – indubitavelmente – o sucesso e a premiação do ideal antifascista. É a valorização e reconhecimento da denúncia e da rebeldia contra o autoritarismo. São avanços importantes na guerra cultural contra os negacionismos de todos os tipos, contra as discriminações e preconceitos, e contra a ideia da violência como método para eliminar conflitos. Que se multipliquem obras como “Ainda Estou Aqui”, “O Agente Secreto”. Viva o cinema brasileiro! Viva a Cultura!