Alisson Barreto
Bloco Latino-Americano: a oportunidade de o Brasil liderar

Bloco Latino-Americano: a oportunidade de o Brasil liderar
O cenário geopolítico atual e as relações ideológicas entre Trump e Putin não apenas colocam a União Europeia contra a parede como também exigem uma postura de realinhamento de todas as Nações do globo. Qual o papel do Brasil e as portas que podem ser abertas ou fechadas com essa situação?
A realidade do mundo não se trata apenas de uma Europa ameaçada por um vizinho saudoso de suas épocas imperiais ou de um mundo liderado por duas superpotências. Trata-se também, mas não só disso. Refere-se, inclusive, à possibilidade de um eixo militar entre os dois países que lideraram os polos da Guerra Fria.
O Brasil, à luz de sua Constituição Federal, não consiste em uma Nação fã de um modelo trumpista ou socialista. Sob as bases multipartidárias, multiculturais e ideologicamente pluralistas, em suas dimensões continentais, é chamado a voos mais altos com alcances a povos significativamente diferentes, mas com os quais guarda laços que, estreitados, podem levar os países envolvidos a um desenvolvimento humano jamais experimentado em tal escala.
Independentemente das buscas ideológicas dos presidentes recentes, o Brasil – por força do parágrafo único, do art. 4º, de sua Constituição – é conclamado a visar à formação de uma comunidade latino-americana de Nações. E para isso, consoante a letra da Constituição Federal (CF), deve buscar uma integração econômica, política, cultural e social dos povos da América Latina.
O irônico é que o mundo está em realinhamento geopolítico e isso passa despercebido por muitos brasileiros. E mais despercebido ainda é o surgimento de oportunidades que isso possibilita. Tal realinhamento mundial engendra desafios globais que vão do risco de guerra com possibilidade de aniquilação generalizada à possibilidade de formação de novos eixos e soerguimento de países.
Enquanto, nas determinações de seus líderes, a Rússia tenta reerguer os anseios de um eixo soviético e os Estados Unidos anseiam por uma imposição de um poderio econômico e ambos, orgulhosos de suas forças militares; outros países ficam entre a criação de novas alternativas ou a sucumbência inercial ao bloco que os incorporem.
A Europa busca reforços tecnológicos às suas forças armadas, enquanto alguns países parecem tentar desenvolver suas economias alheios ao cenário geopolítico, ou com fidelização a líderes que admiram ou representam seus ideais doutrinados. Aliás, enquanto uns concentram-se em buscar o poder, ou retomá-lo, ou perpetuar-se; o poderio geopolítico mundial está realinhamento.
Em tempo, assistimos a uma aproximação entre União Europeia (UE) e Mercosul, enquanto o Mercosul está fragilizado por divisões ideológicas. Uma oportunidade de o Brasil chamar para si a responsabilidade e assumir o protagonismo na América Latina em direção à EU. O protagonismo de um país que, em seu passado, alcançou proporções continentais resistindo a investidas de vários países de além-mar.
Não obstante, como se sabe, o tempo agora é outro: o Brasil não seja mais colônia nem Reino Unido a Portugal e Algarves; continua exportador de commodities e importador de novas tecnologias. Aliás, dessa vez, prossegue desatualizado em tecnologias militares. Não que o Brasil não tenha uma forte infantaria, mas qual o nível de defesa de mísseis antiaéreos? Como nosso país fazer frente a forças armadas de proporções internacionais com menos de mil caças, sem armamento nuclear e apenas um porta-avião? Como está o Brasil em níveis cibernético, de automação e robótica militar? Até quando o Brasil será fazendinha de países ricos?
Durante a Guerra Fria, como a Europa, o Brasil – assim como a Europa – manteve-se sob o olhar de um amigo forte: os Estados Unidos. Como ela, o Brasil precisa estar atento que pode não apenas deixar de contar com eles como também ser ameaçado por tal vizinho do Norte. Quem garante que após uma Groelândia não viria um Amazonas? E se Putin e Trump estiverem tramando uma parceria ao estilo nazi-russo (Alemanha e URSS, antes da Segunda Guerra Mundial)?
Se por um lado, há um retorno mundial ao armamentismo; por outro, há um realinhamento sociopolítico, econômico e militar. Há muito poder em jogo e as peças do xadrez geopolítico estão em movimento. Se por um lado, o Brasil não tem poderio para uma liderança militar latino-americana suficiente; por outro, contém pré-requisitos para liderar estrategicamente uma formação de um bloco américo-europeu, ou latino-americano em uma escala transcontinental. Afinal, só existe América Latina porque existe o Lácio; somos latino-americanos em razão da herança linguística que temos dos países europeus de língua latina.
Claro que ainda fica a vacância do suporte bélico à defesa desse bloco por estas bandas, mas nada que não possa ser resolvido com empenho e unidade com o continente que trouxe os primeiros povos não nativos para a Terra de Santa Cruz. A teoria dos jogos está no ar!
Quem sabe o medo que a França tem da chegada de nossos produtos à Europa possa ser compensado com uma parceria nuclearmente militar? O que esbarra em outros pontos significativos de nossa Constituição: enlevadamente, os incisos VI e VII, do art. 4: “defesa da paz” e “solução pacífica dos conflitos”.
Ora, à defesa da paz também importa a existência de um poderio militar contra o qual o alienígena não queira mexer. É, portanto, importante observar que estar respaldado por uma imponente força militar contribui para uma solução pacífica de possíveis conflitos, preventivamente. Não se trata de meter medo nos vizinhos, uma vez que também a Constituição defende a “autodeterminação dos povos”, a “não intervenção” e a “igualdade entre os Estados” (incisos III, IV e V, do art. 4º, da CF). Mas se trata de, na formação de uma comunidade latino-americana de nações, garantir a independência nacional.
Um país forte e rico faz-se com pessoas inteligentes e dispostas, não com seguidores de soviéticos, de trumpistas ou de anarquistas de internet. Patriotismo se faz com amor ao povo e respeito aos valores do país, o que inclui inclusão, pluralidade e respeito à fé que sustentou esse país em unidade continental.
A menos que em oração a Deus, não se permite ser forte um país que jaz curvado. Ademais, não é rico um país cujo povo não evolui em IDH. O berço pode ser esplêndido, mas permanecer deitado eternamente é retirar do brasileiro a vocação a ser gigante.
Do desejo de povos se unirem em Cristo surgiram reinados na Europa; dos reinados, países. E povos que outrora eram bárbaros e inimigos cresceram em tecnologias e união. E quanto a nós, americanos nativos, quão menos bárbaros éramos, em nosso convívio com a natureza. E quão mais unidos e fortes podemos ser, se assim o quisermos!
É momento de rever rotas e expandir fronteiras (no sentido de unir-se, não de tomar), mas sopesando as consequências e o grau de preparação para elas. Não dá para ser grande sem solidez econômica e segurança militar. Aquela vai do morador de rua ao megaempresário e esta vai da proteção na infraestrutura cibernética ao controle de suas fronteiras físicas.
Que tal, então, unir a Nação, chamar os vizinhos para a mesa da negociação, ampliar os laços com a europeia união e mostrar ao mundo inteiro aquela força encontrada no sertão: de ser tão forte, de ser tão simples e tão capaz de estender a mão?
Maceió, 30 de março de 2025.
Alisson Francisco Rodrigues Barreto

Alisson Barreto
Sobre
Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo (Seminário Arquidiocesano de Maceió), bacharel em Direito (Universidade Federal de Alagoas), pós-graduado em Direito Processual (Escola Superior de Magistratura de Alagoas), com passagens pelos cursos de Engenharia Civil (Universidade Federal de Alagoas) e Teologia (Seminário Arquidiocesano de Maceió). Autor do livro “Pensando com Poesia”, escritor na Tribuna com o blog “Alisson Barreto” (outrora chamado de “A Palavra em palavras”), desde 2011. O autor, que é um agente público, também apresenta alguns dos seus poemas, textos e reflexões, bem como, orações no canal Alisson Barreto, no Youtube, a partir do qual insere seus vídeos aqui no blog.