Enio Lins

Bolsonarismo é antipatriotismo em sua forma mais abjeta

Enio Lins 21 de março de 2025

SERIA TÃO-SOMENTE PATÉTICA, não fosse extremamente grave, a atitude do deputado federal vulgo “Dudu Bananinha” e/ou “Zero-três” em pedir licença do mandato para se homiziar nos Estados Unidos. É um direito democrático, sim, se autoexilar. Ativistas à esquerda, à direita e ao centro sempre fizeram isso como gesto de protesto. O problema é que o filho do Zero-zero justifica sua temporada em solo americano para liderar uma campanha pela intervenção estrangeira em nosso país.

EXTREMAMENTE PERICULOSO é o gesto do deputado porque ele oferece seu país como prenda para os Estados Unidos, exatamente quando aquela superpotência padece do agravamento de uma velha enfermidade moral e política, crônica, de se achar dona do mundo e de se sentir na obrigação de invadir nações alheiras para satisfazer seus próprios interesses. E muitos são os interesses dos extremistas estadunidenses, hoje no poder, contra a autonomia brasileira. Inclusive, tanto o atual presidente americano, Trump, quanto seu parceiro Musk tentaram acionar na justiça americana o Ministro Alexandre de Moraes – ações que “floparam”, conforme preconizam as leis norte-americanas, mas o afã intervencionista é escancarado. É nessa onda liberticida, no geral, e antibrasileira, no particular, que o citado deputado quer surfar.

LITTLE BANANA, O DEPUTADO que já está nos Estados Unidos antes mesmo de pedir licença de seu mandato, se jacta de ser “amigo pessoal” de familiares de Donald – mas nem Zezinho, Huguinho ou Luizinho conseguiram convites pro parça entrar na posse do parente como presidente, e restou a Dudu, acompanhado da madrasta Micheque e outras celebridades bolsonaristas, comemorar (debaixo da neve) no meio da rua. O dito, filho do mito, afirma ter pilotado um carrinho de cachorro-quente pelas esquinas de Portland, Oregon. Diz ele. Mas, nestes dias em curso, Dudu se tornou um vendedor ambulante da cachorrada-quente de convencimento de poderosos americanos (juízes, parlamentares, mídia, máfia...) da ideia de intervir no Brasil. Assumiu-se como gigolô da Pátria.

“YES, NÓS TEMOS BANANAS” – É o canto de sereia do Dudu nos inferninhos ianques. “Bananas pra dar e vender/ Banana menina tem vitamina/ Banana engorda e faz crescer” cantarola aquele pequeno notável, se achando uma Carmen Mirada reencarnada em versão de extrema-direita e antipatriótica (a cantora original jamais entraria numa dessa, como protestou, em 1940, na canção “Disseram que voltei americanizada”). Zero-três, cheio de balangandãs fake news, e, à título de turbante, o boné vermelho “Make America Great Again”, vai sapatear nos portões de quartéis e bordéis americanos, rogando por uma intervenção, quiçá invasão, para evitar que o papito dele preste contas à Justiça e venha a ver o sol nascer quadrado tal qual em 1986 (quando, ainda sujando a farda das forças armadas, insubordinado e indisciplinado, alardeava planos terroristas).

NÃO É UMA BRINCADEIRA de filhinho mimado o autoexílio de Dudu nos States. O bolsonarismo aposta na possibilidade de reverter a desaprovação americana à proposta de golpe de Estado no Brasil. Essa objeção ianque foi explicitada publicamente durante o mandato de Jair Messias (2019/2022), conforme lembra Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV: “A partir da reunião com Jake Sulivan [embaixador dos Estados Unidos] e Bolsonaro no final de 2021, o governo americano começou a fazer um mapeamento para identificar as maiores vulnerabilidades da democracia brasileira. E iniciou desenhar um plano para uma campanha de pressão para garantir que as Forças Armadas brasileiras, [e] que Bolsonaro, aceitariam o resultado das eleições". A entrevista de Stuenkel está disponível no site globo.com. Voltaremos ao tema, ele merece.