Enio Lins

Palmeira dos Índios & Graciliano: um exemplo a ser seguido

Enio Lins 20 de março de 2025

VOLTAMOS AO TEMA abordado na quinta passada, 13 de março: O 1º Encontro de Gracilianistas. Realizado em Palmeira dos Índios, começou ontem e prossegue até amanhã. Três dias básicos para um projeto grandioso, ideia sem data de validade determinada, e indicada para uso sem moderação.

DOUGLAS APRATTO TENÓRIO, maior historiador alagoano em atividade, foi o nome escalado para a aula-magna de abertura do evento. Não é um acaso nessa história. Escrevo a coluna horas antes da palestra do autor do antológico “A Metamorfose das Oligarquias”, mas com plena segurança para assegurar a alta qualidade do que será exposto, considerando a profundidade dos conhecimentos do palestrante sobre Graciliano Ramos, Educação, Cultura – e, no particular, interiorização do Ensino Superior. Afinal, não é uma coincidência fortuita o Encontro Gracilianista estar sendo realizado no Campus Sertão do CESMAC, em Palmeira dos Índios.

INTERIORIZAR É PRECISO. Alagoas tem ótimos exemplos dessa política ao longo da história, como no caso do Festival de Verão de Marechal Deodoro e do Festival de Cinema de Penedo, pioneiros há meio século, eventos de grande porte que legaram grandes lições, sendo a principal delas a retomada da programação cinematográfica penedense pela UFAL & prefeitura local. E temos mais: Desde a década de 80, a agenda do 20 de Novembro coloca União dos Palmares no centro das solenidades do Dia Nacional da Consciência Negra. E o 28 de Julho traz, todo ano, para Piranhas, a memória do Cangaço – em mobilização coordenada por Expedita e Vera Ferreira, respectivamente filha e neta de Maria Bonita e Lampião. Infelizmente descontinuadas ao longo das décadas, ações (regionais e nacionais) uniram nomes e fatos históricos às suas cidades, como Jorge de Lima & União dos Palmares, Calabar & Porto Calvo, Delmiro Gouveia & Delmiro Gouveia. Descentralizar o fazer cultura, com eventos de abrangência universal, é indispensável.

REALIZAR AGENDAS ATRAENTES noutras cidades, além da capital do Estado, é democratizar – também – a agenda econômica. Quanto mais municípios forem base de programações de interesse geral, melhor. Obviamente, isso se aplica para todos os campos e não só aos territórios da arte & cultura – mas como o mote desta coluna hoje, tomando como base o Encontro de Gracilianistas, vamos seguir nesse foco cultural. A própria Palmeira dos Índios, como o nome bem diz, poderia sediar eventos periódicos com a temática dos povos originários, e para continuar nas celebridades nacionais palmeirenses, a cidade pode muito bem abrigar agendas em torno de Jofre Soares, e – por que não? – ter Tenório Cavalcanti também como alvo. E mais: São Luiz do Quitunde tem Pontes de Miranda, Passo de Camaragibe tem Aurélio Buarque de Hollanda, Marechal Deodoro tem toda família Fonseca e os Tavares Bastos (pai e filho), Pilar tem Arthur Ramos (e pode reivindicar Jararaca), Satuba tem Hekel Tavares, São Miguel dos Campos tem o Visconde de Sinimbu, Penedo tem o Barão de Penedo, Arapiraca e Lagoa da Canoa podem celebrar Hermeto Pascoal em vida... isso só para falar nos nomes mais conhecidos nacionalmente – e sem citar estrelas radiosas nascidas em Maceió.

EM RESUMO: NÃO FALTAM motes a Alagoas para interiorizar eventos permanentes capazes de atrair os públicos mais variados em torno de personagens relevantes. Basta apostar na força (indiscutível) de nomes cuja vida e obra tenha capacidade de gerar estudos e debates. Naturalmente, eventos como o Encontro de Gracilianistas não caem do céu, nem brotam do chão espontaneamente. São frutos de trabalho árduo: precisam ser semeados, adubados, apartados das ervas daninhas e das pragas, para, enfim, vir a colheita. Solo fértil e sementes nos sobram, só falta quem plante, cuide e colha.