Enio Lins
Mortos muito vivos que teimam em sair das suas catacumbas

E A ALEMANHA, HEIN, GENTE? Lá a democracia engatou uma marcha-à-ré daquelas barulhentas, embora ainda não tenha retrocedido de forma irreversível (para o bem do mundo). O crescimento da extrema-direita alemã, lança sombras da cruz gamada sobre a nação-epicentro de duas grandes guerras mundiais.
SOBRE AS ELEIÇÕES ALEMÃS 2025, o site NexoJornal.com.br cravou no dia 23: “A maior vitória da extrema direita alemã desde o nazismo”, complementando: “A AfD (Alternativa para Alemanha) fez história ao conquistar 20,8% dos votos nas eleições legislativas (..). A legenda é, agora, a segunda maior força do Bundestag, o Parlamento alemão. Ela ficou atrás apenas da aliança democrata-cristã de centro-direita CDU/CSU, liderada por Friedrich Merz, que obteve 28,5% dos votos. O partido de centro-esquerda SPD, de Olaf Scholz, atual chanceler, ficou em terceiro, com 16,4%”. E faz uma ressalva importante: “Apesar de ter dobrado seu apoio e aumentado sua força no Parlamento, é pouco provável, a princípio, que o partido de extrema direita integre a coalizão do novo governo alemão”.
ENSINA A HISTÓRIA GERMÂNICA que, na década de 30, a extrema-direita chegou ao poder aos pulos, em eleições sucessivas a partir de uma posição eleitoral aparentemente insignificante. Em 1928, o Partido Nazista saiu das urnas com míseros 2,6% dos votos, ficando com 12 cadeiras no Reichstag. Dois anos depois, saltou para 18,3%, ocupando 107 vagas. Em 1932, os nazis lamberam 37,3% do eleitorado e se aboletaram em 230 poltronas. Em 1933 Adolf Hitler foi nomeado Chanceler do Reich, e o resto dessa tragédia todo mundo sabe, ou deveria saber.
FRENTE AMPLA SEGUE como tática legítima e eficiente no mundo onde exista a disputa eleitoral aberta, aí inclusa a Alemanha velha de guerra. Até nos Estados Unidos e seu obtuso bipartidarismo (deformação própria dos ianques), uma composição de forças mais ampliada poderia, talvez, ter derrotado a extrema-estupidez representada por Trump nas recentes eleições. Identificar a força mais perigosa, mais deletéria, e unir correntes de pensamento divergentes para eliminar esse perigo é o bê-á-bá da política. Nas eleições germânicas deste ano, além das três siglas mais votadas, os resultados indicaram: Verdes (Aliança 90/Os Verdes), com 14%; FDP (Partido Democrático Liberal), com 11,2%; Esquerda (Die Linke), com 5,6%; outros partidos, 3,5%. É possível, tranquilamente, peitar os neonazistas do AfD. Basta ter firmeza na formação de frentes, mas...
MAS O PROBLEMA É MAIS PROFUNDO e, no longo prazo, não poderá ser equacionado sem respostas eficientes (dadas pelas forças democráticas e de esquerda na condução do país). Uma composição de partidos que isole a extrema-direita neonazista não é coisa difícil de construir na atual conjuntura, sim. Porém o nó é a formulação de propostas capazes de atender às demandas da maioria do povo (da Alemanha e de qualquer país) quando a crise econômica bate à porta e o perfil social dessa população é de racismo e conflitos explosivos. No atual cenário alemão, o refluxo econômico atordoa com lembranças penosas do desastre pós-Primeira Guerra, enquanto os migrantes voltam a ser vistos como estorvos raciais a serem removidos, assim como foram enxergados os judeus naquele período. Nesse mar revolto, a extrema-direita nada como um cação – e precisa ser retirada da água antes de se transformar num tubarão.
ALICE WEIDEL É A FÜHRERIN da AfD (Alternativa para Alemanha). Destaca a BBC que “Nos seus comícios, a líder é recebida com cartazes que dizem ‘Alice für Deutschland’ — que é muito semelhante ao slogan da Alemanha nazista ‘Alles für Deutschland’ (Todos Pela Alemanha)”. Slogan esclarecedor. Não precisa dizer mais nada sobre essa turma.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.