Enio Lins
Maceió, a Lagoa da Anta, e a tresloucada anarquia imobiliária

SEGUNDO O JORNALISMO INVESTIGATIVO local, avançam a todo vapor, e na surdina, os conciliábulos para o que pode vir a ser um tremendo golpe ambiental, patrimonial e urbanístico contra a capital alagoana. Pelo noticiado no G1, e TV Gazeta, no dia 6 deste mês, “Negociações sobre venda do Hotel Jatiúca, em Maceió, e projeto de novo empreendimento na Lagoa da Anta seguem sob sigilo”.
DIZ MAIS A REPORTAGEM: “Projeto prevê construção de cinco torres com 15 andares no local. Ambientalistas se preocupam com a descaracterização da Lagoa da Anta”. PQP! – como bradaria o saudoso Pasquim, com suas siglas dribladoras da censura vigente nos anos 70. Quinze andares não são moleza, e vezes cinco, teremos 75 (setenta e cinco) pavimentos, algo assustador, mesmo sem saber agora quantos apartamentos serão ofertados em cada piso. Esse número, ainda incerto, para efeito de cálculo genérico, deve ser multiplicado por – no mínimo – dois veículos por apartamento (ou além, pois quanto maior a área da residência se depreende que seus proprietários disponham de vários carrões). Imaginem agora essa frota extra de automóveis somada ao já engarrafado e atabalhoado trânsito entre Cruz das Almas, Jatiúca e Mangabeiras...
APOIS PARECE QUE JATIÚCA e adjacências se desencaminham para transitar do caos ao armagedon em termos de mobilidade urbana. Explica a prestativa Copilot, inteligência artificial gratuita do Windows: “Embora ambos os termos descrevam condições extremas, ‘caos’ e ‘Armagedon’ diferem significativamente em suas implicações e contextos de uso. O caos representa desordem e confusão que, embora perturbadoras, ainda permitem a possibilidade de recuperação e restauração. Armagedon, por outro lado, evoca a imagem de uma destruição apocalíptica final, sem chances de retorno à normalidade”. A ferramenta não conhece ainda as vizinhanças da Lagoa da Anta, mas acertou na configuração de como é e como ficará o trânsito naquela área no caso dessa quíntupla ameaça se concretizar. Acrescente-se ser o cenário caótico um traço característico do Litoral Norte maceioense, onde torres arranham os céus sem terem os pés devidamente fixados na terra de um planejamento urbano minimamente responsável.
E A LAGOA DA ANTA? Desde seu nascimento, o Hotel Jatiúca despertou preocupações acerca da privatização da pequena alagoa, problema amenizado pela utilização pública do empreendimento hoteleiro, tradicionalmente aberto a visitantes ali não hospedados. E aos transeuntes nunca foi obstado o acesso a, pelo menos, parte da ponta sul da laguna, onde crianças seguem timbungando como nos velhos tempos. E, justiça seja feita, o hotel dos Lundgren preservou a saúde da lagoinha, repovoando-a com algumas espécies de peixes e até umas simpáticas tartarugas. Imagina-se que a relação das cinco torres de 15 andares e suas centenas de condôminos/proprietários sofrerá drástica transformação, assomando o risco de eliminação completa do uso público remanescente naquele acidente geográfico natural, a menor e mais simpática das muitas alagoas que deram nome ao Estado. O perigo da privatização absoluta da Lagoa da Anta e da faixa de praia correspondente ao atual Hotel Altesa Jaitúca precisa ser alvo de atenção especialíssima e de novos termos de uso capazes de assegurar o livre acesso público ao local – no caso desse desastre anunciado da instalação das cinco torres vir a acontecer.
LUTAR PARA QUE A LAGOA DA ANTA não venha a ser surrupiada de vez à população é um dos objetivos desta batalha cidadã, assim como evitar a subversão da ambiência urbana, preservando a harmonização (a horizontalidade é outro mérito do antigo projeto do Hotel Jatiúca) naquela área emblemática de Maceió. São as tarefas cidadãs da hora.

Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.