Enio Lins

Feliz Ano Novo! Mas, cuidado... tem coisa ruim que gosta de voltar da tumba

Enio Lins 31 de dezembro de 2024


2024 JÁ ERA. Que seja 2025 ano novo de verdade, tinindo. O ano encerrado hoje, em linhas gerais, viveu seus 365 dias como um ser parasitado pelo ano anterior. Parafraseando o grande Zuenir Ventura sobre 1968, 2023 foi um ano que não acabou. O golpe bolsonarista tentado, e derrotado no mesmo dia, ainda é o centro dos cuidados – com razão, pois gato democrático escaldado teme água fria ditatorial. Afinal, ainda estamos aqui. Com “os amores na mente, as flores no chão/ A certeza na frente, a história na mão/ Caminhando e cantando e seguindo a canção/ Aprendendo e ensinando uma nova lição”.

MAS EXISTIRAM MUDANÇAS importantes neste ano findo, inovações vão se afirmando. Vamos ver a partir de amanhã como a coisa andará no porvir. O golpe tentado e derrotado em 8 de janeiro de 2023, embora tenha ensombrado e assombrado todo 2024, deixa no relato sobre o ano encerrado avanços essenciais e uma lição histórica sem precedentes: a Justiça tendo coragem para chamar à responsabilidade oficiais graduados das forças armadas. Nunca dantes na história deste país aconteceu algo semelhante. Repetindo o escrito aqui há duas semanas – na terça-feira, 17 –, o marechal Hermes e o General Lott foram em cana, em 1922 e 1961, respectivamente, mas por motivos fúteis e decisões estranhas à Justiça, sem envolvimento em quaisquer processos. Braga Netto levou suas quatro estrelas para as grades por tentar obstaculizar investigações policiais onde figura como suspeito de organizar um golpe de Estado. Que 2025 siga adiante nessa toada, confirmando uma transformação profunda, civilizatória, na História do Brasil: militares de alta patente respondendo por delitos cometidos.

E A ECONOMIA, hein, gente? 2024 seguiu azedando a Faria Lima e esse sentimento acre tende a se estender a partir de amanhã (o que pode ser um doce sinal para quem defenda um crescimento econômico com compartilhamento social). Move este ano novinho a nova expectativa de o Banco Central, finalmente, operar com alguma independência em relação ao rentismo radical dos donos do mercado. Tarefa difícil, mas possível, desde que não se acalente ilusões, afinal o sistema financeiro é o sistema financeiro – manipulável apenas por quem tenha montanhas de dinheiro. A batalha de Galípolo, no comando do BC, em 2025, ao contrário do imaginado pela vã filosofia, não será nada fácil; e todo cuidado será pouco para não ter seus resultados (sonhados pela centro-esquerda) transformados nos resultados da Batalha de Galípoli para os britânicos e seus aliados, em 1915. Malgrado o desagrado causado ao mercado, 2024 finda seus dias com a menor taxa de desemprego da história. Aplaudo e tomarei uma dose por isso, confesso.

NO QUESITO “governabilidade” um fantasma – a deformação vultuosa das emendas secretas – teima em seguir assustando 2025, embora o Supremo Tribunal Federal vire o ano virado numa serpente justiceira, constritora, cercando e apertando essa prática delituosa. Não é questão menor, nem efêmera, essa situação. Como escreveu José Serra, em artigo no Estadão, “a situação criada com o orçamento secreto e as emendas Pix implica a destruição de toda a construção institucional que a Constituição de 1988 fundou”. No próximo ano, visitaremos novamente esse texto, agora apenas citado de passagem, do ex-ministro da Saúde, ex-senador e ex-governador de São Paulo. Mas, por enquanto, fica o registro positivo de que, em 2024, foi acesa a primeira luz no túnel dessa anomalia orçamentária que reflete a deformação política do “semipresidencialismo”.

RESUMINDO: mesmo sendo uma extensão de 2023, valeu sim, 2024! Você abriu novas portas, iluminou caminhos inovadores, que oxalá sejam seguidos em 2025 e além. Feliz Ano Novo – especialmente para quem luta pela Democracia e por justiça social.